Bom dia!

Sétima temporada do Café com Anime! O mesa redonda virtual na qual eu, o Diego (É Só Um Desenho) e o Gato de Ulthar (Dissidência Pop) conversamos sobre alguns animes que estamos assistindo juntos.

Cada um publica em seu blog sobre um anime diferente, e nessa temporada nos dividimos assim:

Dororo no É Só Um Desenho

Sarazanmai no Dissidência Pop, e

Carole & Tuesday aqui no Anime21!

Leia a seguir nosso bate-papo sobre os episódios 4 a 6:

 

Fábio "Mexicano":
Esse episódio não foi muito diferente do terceiro, e nem tentou, né, pelo contrário? Segunda reunião para fazer as garotas estouraram, segundo plano, segundo fracasso. E o Ertegun se ferrou de novo.

Provavelmente teremos muitos episódios que “não levam a lugar nenhum”. Teve algumas coisas importantes nesse episódio apesar disso, mas a gente fala delas depois. Primeiro, quais as suas impressões?

Gato de Ulthar:
Pena que o robô foi mandado embora! Ele foi o melhor personagem do episódio! Bêbado, desbocado e trambiqueiro! Eu quero ver mais ele! Foi um episódio bem divertido de assistir, mesmo sendo relativamente “solto” e não levar a nada. E puxa vida, gostei do clipe, ele poderia muito bem ser divulgado.
Fábio "Mexicano":
Se a dupla quisesse ficar conhecida como trash, com certeza 😃
Diego:
Parece que Carole & Tuesday vai ser um anime de dois cours, então acho que pelo menos nessa primeira metade veremos um bom tanto de episódios que não levam a nada. E eu estou bem de boas com isso: são uma boa oportunidade para estabelecer as relações e a personalidade desses personagens. Além de uma boa comédia: ri um monte com esse episódio 😛
Fábio "Mexicano":
Acho que não vou me cansar de comparar esse anime com Cowboy Bebop e Samurai Champloo, outros dois originais do Shinichiro Watanabe, ambos também com dois cours, e que têm um andamento bastante episódico, com apenas alguns arcos em que a história realmente avança.

Isso, claro, se você considerar que o principal neles é a história. Eu acho que são os personagens.

Enfim. E como acham que ficou a coisa da Inteligência Artificial depois desse episódio? Parece que ela pode ser qualquer coisa, até mesmo robôs com comportamento bastante humano, por assim dizer.

Diego:
Acho que é isso mesmo. É avançada o bastante para inclusive reproduzir o comportamento humano.
Fábio "Mexicano":
Acho que não fui bem claro, mas é que a ideia de IA sendo ruim para fazer música é porque não seria “humano”. Mas vemos robôs com IA, que é razoável supor que têm programas bem menos avançados que os caríssimos que o Tao ou o Ertegun usam, e eles são quase indistinguíveis de humanos. O IDEA era até capaz de sentir prazer sádico.
Diego:
Acho que aí entra mais a questão da criatividade. O Tao acho que menciona certa vez que todas as músicas das suas IA são de certa forma remixes do que deu certo no passado. Falta a elas a possibilidade de inovar, ou ao menos de inovar tanto quanto um humano poderia.
Fábio "Mexicano":
Falta mesmo ou são programadas para isso? Ele não disse que elas fazem isso porque é apenas isso que elas são capazes, ele disse isso com orgulho de que ele as usa especificamente para isso.
Gato de Ulthar:
Pois é, o robozinho diretor trambiqueiro me deixou confuso sobre a capacidade real das IAs nesse anime. Não duvido que um robozinho desses teria capacidade de criar uma música criativa. E quanto ao Tao, ele mesmo parece ser uma IA 😛 Demonstrou menos personalidade que o robozinho.
Fábio "Mexicano":
HAHAHAHA, bom, ele disse que escuta isso direto das pessoas, não é? 😃

Retomando, eu tenho aqui minhas concepções, mas quero saber de vocês: o que acharam mais marcante, ou mais importante, nesse episódio?

Diego:
Eu gostei da ex do Gus, e isso por uma série de motivos. Por ser ela em si uma personagem legal (que eu chuto que ainda deve aparecer mais uma ou outra vez). Por ser um dos raros casos de uma representação LGBT 100% inegável nos animes. E por como, apesar de serem ex-marido e ex-mulher, os dois ainda mantém uma relação de camaradagem e amizade, com o Gus inclusive desejando que ela fosse feliz no novo casamento. No mais, começo a perguntar que relação o Ertegun (ou como quer que se escreve esse nome desgranhento) com o Roddy. Emprestar um carro de luxo? Ou os dois têm uma forte amizade, ou o primeiro tem algum tipo de dívida para com o segundo.
Fábio "Mexicano":
Amigos de infância? 😃
Diego:
É uma possibilidade 😃
Gato de Ulthar:
Acho que nem chega a ser tudo isso. O Ertegun pode simplesmente ser bastante pródigo com o seu dinheiro e bens e como o Roddy trabalha para ele devem ter se conhecido há algum tempo.
Fábio "Mexicano":
Bom, se o episódio 4 foi só um mais do mesmo, o episódio 5 sim voltou a avançar a história.

Sem entrar em detalhes, acho que podemos dizer agora, com certeza, que o Spencer, irmão da Tuesday, é uma boa pessoa, e que o Tao, compositor da Angela, é uma má pessoa. Certo?

Diego:
Concordo com o primeiro, já o Tao… Hum, ainda não estou 100% convencido. Tudo bem que ele tem tudo pra ser o arquétipo do cientista maluco tentando fazer da Angela uma literal marionete, mas… er… ok, eu não tenho um “mas” por agora, mas realmente espero que o anime não vá pelo caminho do “ele é DU MAU!!!” 😃 Mas tendo acabado de ver o episódio, eu queria comentar uma coisa nada relacionada com a pergunta 😛 Que é a diferença entre a música cantada pela Angela e aquelas cantadas pelas protagonistas.

Não sei se sou eu, mas senti que a da Angela era muito… “fabricada”. E sim, ela é, literalmente, esse é o ponto, mas eu diria que é um ponto que raramente obras do tipo conseguem passar. Normalmente, quando temos esse clichê da bandinha indie querendo cantar com o “coração” versus “o sistema” malvado querendo produzir músicas genéricas, você não nota realmente muita diferença entre as músicas dos protagonistas e aquelas dos “vilões”.

Aqui, as músicas da Carole e da Tuesday tem uma vibe bem própria. Elas soam bem mais íntimas e pessoais, e mesmo com o pouco que entendemos dessas personagens podemos entender como alguém como elas escreveria as músicas que elas escreveram. Já a música que o Tao fez pra Angela soa bem “pop genérico”. Repetição do refrão até o talo, tema de algum tipo de amor ou paixão, no momento que ela começou a tocar eu tava pensando “eu já ouvi isso antes e não foi uma vez só…” E só queria deixar que, se isso foi proposital, então parabéns ao anime!

Fábio "Mexicano":
Eu fiquei com essa sensação também e eventualmente pretendia tocar nesse ponto. Várias coisas na cena ajudaram, né? Não foi só a música. A música foi cantada à capella, mas cantar sem acompanhamento é ideal para corais ou para algo mais intimista, enquanto a Angela estava quase literalmente gritando – com muita habilidade ainda, claro, mas se tornou algo frio, agressivo. A animação da cena também toda ela colabora para essa sensação de que a música foi … desumana? Um amplo espaço (parecia o interior da Cidade das Nuvens, de Guerra nas Estrelas, onde o Luke lutou contra Vader na cena mais notável de toda a franquia até hoje). Só três personagens em cena, todos praticamente imóveis, incluindo a Angela. E a música é repetitiva, o refrão era cantado a cada sei lá, dez segundos.
Fábio "Mexicano":
Compare com as apresentações das protagonistas – e tivemos uma nesse episódio de novo, para nossa alegria. As músicas sempre contam uma historinha, e uma que se prestamos atenção na letra, percebemos que diz respeito diretamente às protagonistas. São duas garotas, e o que poderia ser um desafio é usado à favor delas, geralmente a Tuesday começa e a Carola entra depois, cada uma conta a sua história e as duas se tornam só uma história em algum momento – o que é exatamente a história do próprio anime. Elas são cheias não apenas de expressividade, mas de gingado – principalmente a Carole. Quem está assistindo, sejam poucos ou sejam muitos, nunca consegue ficar parado, são sempre arrebatados, e é perceptível que estão impressionados, e não apenas analisando friamente as garotas.
Diego:
Pois é. Não quis destrinchar a cena toda pro comentário não ficar gigante, mas concordo com tudo. Não apenas a música, como a ambientação e tudo mais nas cenas colaboram para passar o ponto que o anime quer passar a cada momento. Por sinal, a última fala não vale só pra plateia no anime. Eu sempre acabo no mínimo balançando um pouco a cabeça quando as duas cantam 😛
Fábio "Mexicano":
As músicas são boas e é isso que o anime espera de nós, né.
Gato de Ulthar:
Já disseram tudo ☹️ Mas concordo com ambos, a música da Angela foi cantada em um ambiente mecânico e tecnológica em demasia, com uma letra pop que gruda mas é rasa como uma poça, e para um grande capitalista. Tanto é que ele começa afirmando que veria quanto ela “valeria”, deixando claro o aspecto mercantilista da coisa.

Já a Carole e Tuesday seriam as artistas autênticas, com uma pegada autoral e tocando numa casa de shows alternativa.

Fábio "Mexicano":
Ou improvisando na lavanderia! Lembra daquela cena?
Gato de Ulthar:
Sim, bem notado, música surgindo de qualquer coisa e em qualquer lugar, mais espontâneo impossível.

E o contraste entre música de verdade e a meramente mercantilista se evidenciou também na busca de um lugar para o show do Gus e do Roddy. Como sempre, o Gus falhou miseravelmente, tentando apelar para um grande figurão da indústria da música, o qual teria muito mais interesse em alguém como a Angela, a qual já era famosa como modelo. Enquanto o Roddy descolou o lugar utilizando o “coração”.

Fábio "Mexicano":
Mas nesse caso eu acho que foi um erro de boa fé. O Gus já estourou uma vez como produtor e não consegue “pensar pequeno”. O Roddy tem uma mentalidade diferente. Ele nem deveria estar naquele papel, naquele lugar, mas ele conhece pessoas e isso de vez em quando é útil. Além do quê, parece que o Gus conhece aquele cara lá desde antes dele ser um magnata. Estou apostando que seja um ex-colega de banda.
Gato de Ulthar:
Não culpo o Gus por nada, ele parou no tempo e se tornou incrivelmente ingênuo! Mesmo sem querer, o Roddy é que é o agente delas.
Fábio "Mexicano":
Ele que desenrolou os três planos até agora, né? Ainda que só o terceiro tenha dado certo. Como eu disse, esse papel não cabe a ele. De certa forma, está sendo um tipo de jornada para ele e o Gus tanto quanto para Carole e Tuesday, só que a deles é bastante diferente da delas.
Diego:
Pra ser sincero, o Roddy me incomoda um pouquinho. Não o personagem em si, mas sim o que ele ainda está fazendo ali. Tudo bem, ele gravou as duas, mas agora ele parece que só fica por perto porque não tem lá muito mais o que fazer e porque a história precisa de alguém com conexões de verdade, já que o Gus não consegue dar conta do papel. De novo, o personagem em si não é ruim, gosto dele até, mas o fato de que a história nem tenta dar um motivo real para ele ainda estar por perto meio que me deixa com a pulga atrás da orelha.
Fábio "Mexicano":
O que ele está fazendo? Bom, ele é uma pessoa que se deixa levar pelos outros, só isso. Existem pessoas assim. Sorte das duas que encontraram alguém que sabe o que precisa ser feito, mas não sabe como (o Gus), e alguém que não faz ideia do que fazer, mas o que você precisar que ele faça ele faz (o Roddy).
Gato de Ulthar:
Diego, eu penso que um dos motivos dele não desgrudar das meninas é o seu “crush” pela Carole, várias vezes vimos sinais disto nos episódios, como ele ficando vermelho quando ela percebe ele olhando para ela, etc.
Diego:
É engraçado que no insta das garotas a Tuesday sempre comenta que acha o Roddy um fofo. Triangulo amoroso? 😛
Fábio "Mexicano":
Vocês estão de parabéns porque eu nunca reparei nada disso. Mas tem o fato de que ele ficou genuinamente encantado com a performance delas no teatro, acho que ele é o tipo de pessoa que iria querer trabalhar com as duas.

A premissa de Carole & Tuesday é um mundo que perdeu o lado humano na arte musical, afinal, e as protagonistas representam o renascimento disso.

O que é curioso é que isso não parece ser verdade depois do sexto episódio, já assistiram? O festival. Skip e Crystal com certeza não parecem ter perdido isso – principalmente ele. Arriscaria dizer que até o Joshua gosta disso e coloca seus sentimentos em sua música – não consigo imaginar outra razão para alguém tão problemático continuar subindo no palco. Em todo caso, ele é um grande showman, seus fãs reconhecem isso. E até o Ertegun parece ser muito bom nesse departamento, não é? O cara brilha no palco. O problema dele é que é só com isso que se importa, como denunciou o Skip.

Pelo menos a elite da música parece ainda estar cheia de seres humanos.

Diego:
O foi bem legal de ver, eu diria. Pelo que o anime fala, as grandes paradas de sucessos são dominadas por músicas feitas por IA, mas isso não significa que esse seja o único tipo de música que existe. Eu consigo imaginar muito bem que num cenário do tipo um bom números de pessoas gostaria de “ídolos” mais tradicionais, e um festival do tipo parece refletir exatamente isso.
Gato de Ulthar:
Eu gostei bastante desse episódio por mostrar tão bem um grande festival de música e vários tipos de músicos diferentes, como o rockstar bêbado e problemático, a diva do pop e o Skip, que bem, não sei direito como definir ele, mas que foi marcante foi. E isso trás mais um tempero para trama, claramente não será a única vez que veremos a interação entre o Skip e a Crystal, já que eles tiveram alguma coisa juntos.
Fábio "Mexicano":
O que achei mais interessante do Skip e da Crystal é que eles são de estilos bem diferentes (ela é pop, ele é … folk marciano?), mas os fãs dos dois são mais ou menos os mesmos, pelas tomadas da plateia.

Quero dizer, claro que isso é em grande parte reaproveitamento de animação, o que é muito conveniente, mas não mostraram as mesmas pessoas no show dos metaleiros, por exemplo.

Diego:
Considerando que os dois parecem ter tido algum tipo de relacionamento no passado, imagino que isso possa ter levado os fãs de um a conhecer o outro e vice versa. Ou o povo marciano só tem um gosto meio eclético mesmo 😛
Fábio "Mexicano":
Os fãs da banda de metal do Joshua não são ecléticos o bastante para pelo menos tolerar as protagonistas 😃
Gato de Ulthar:
Pois é! Mas foi interessante ver as meninas perseverarem até serem expulsas do palco 😛 E foi melhor assim, não é todo dia que se recebe um elogio de uma diva pop.
Fábio "Mexicano":
Foi importante essa experiência maluca para as protagonistas porque agora elas têm um objetivo: tocar ali no Cydonia, convidadas de verdade dessa vez. Querer fazer música é legal, mas o que elas queriam? Não parecia que queria muita coisa, foi o Gus que meteu o pé (na verdade, a cara) na porta delas e disse que elas tinham potencial, que se pudessem poderiam ambicionar alto. Até então elas meio que estavam indo na onda dele, mas agora elas querem por elas mesmas.

Próximo arco tem tudo para ser melhor ainda ☺️

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