O título do artigo é uma expressão em espanhol que significa ” ter uma vida longa”. Curiosamente, essa expressão também é um título de uma música famosa da banda inglesa Coldplay, que buscou inspiração numa obra da pintora mexicana Frida Khalo (1907-1954), a qual continha tal expressão para dar nome ao quarto álbum de estúdio da banda intitulado “Viva la Vida or Death and All His Friends”. Aliás, Viva la Vida também é uma das principais músicas de trabalho desse álbum, e consequentemente, uma das mais populares do mesmo.

Frida Khalo (Magdalena Carmen Frida Khalo y Calderon) não é apenas conhecida pelo seu trabalho artístico e político no México, mas tem uma história de vida interessante e ao mesmo tempo sofrida. De uma poliomelite na infância à um acidente de bonde (o bonde no qual ela estava chocou-se com um trem), e quando parecia que ela tinha encontrado uma razão para viver, através da arte e de uma grande paixão, veio ainda mais sofrimento devido a um casamento conturbado e consequências derivadas ao acidente que sofrera.

Enfim, qual o possível paralelo entre a história de vida trágica supracitada e um anime tão fofinho como Sewayaki Kitsune no Senko-san? Continue a ler o artigo e saberá o motivo.

Ter uma vida longa é algo que a Senko, Shiro e Sora sabem muito bem do que se trata. Elas, por serem semi-deusas, podem se dar ao luxo de escolherem o melhor modo de aproveitar a vida. A Senko, por exemplo, parece que aproveitou seus séculos de vida ajudando as pessoas. Já a Shiro escolheu agir como se fosse uma eterna criança. O Nakano, por ser mortal como eu e você, não tem tanto tempo de vida comparado a uma divindade. Ele faz as coisas conforme o seu tempo. Na infância é tempo de brincar, na fase adulta é tempo de provar para a sociedade que você é útil para ela, e na velhice é tempo de descansar e aproveitar o tempo que ainda lhe resta.

Com uma rotina tão pesada, o Nakano parece que não viveria por muito tempo. A empresa que ele trabalha exige muito dos funcionários passando a imagem de que ela os explora, e para piorar os colegas do Nakano sobrecarregam o coitado. Dessa forma é fácil ficar muito cansado e até estressado. Ao longo dos episódios, o Nakano nunca se estressou com o trabalho ou com a vida, mas isso não quer dizer que ele se sinta feliz com a situação em que vive. Felizmente para ele, a Senko oferece todo o cuidado possível, assim evitando qualquer possibilidade de estresse.

Não basta ter uma vida longa, tem que aproveita-la bem. E é isso que estamos vendo nos episódios. Senko está mostrando por meio de seus mimos o lado bom da vida para o Nakano. A Koenji através de seus vizinhos (Nakano e Senko) e da Shiro também está aprendendo como a aproveitar a vida. O trabalho dela como mangaká é exaustivo ao ponto de faze-la não ter mais tempo para outras coisas. Diferentemente da Senko que possui um perfil maternal, a Shiro ajuda a Koenji se divertindo com ela.

A vida do Nakano está longe de ser uma tragédia, mas antes da chegada da Senko era bem dura. A rotina cansativa e que parecia não render frutos era angustiante para ele, mas mesmo assim ele guardava as frustrações e o estresse dentro de si, o que não é bom. A história de Frida Khalo contada na introdução deixa uma lição que é quando não é possível aproveitar todas as benesses da vida, afinal a vida não é um mar de rosas, temos que suporta-la. Ela poderia ter tirado ao própria vida mas resistiu as dificuldades até o fim da vida. Nakano não estava mais conseguindo suportar a uma rotina exaustiva, tão tal que uma aura negra estava o envolvendo. Sabe se lá qual seria o destino do Nakano sem a Senko, pode ser que ele poderia ter tirado a própria vida ou ter morrido de exaustão. Aliás,no Japão não é raro acontecer situações como essa.

Como esse anime conta uma história solar, Nakano descobriu o que é aprender saber viver, algo que ele não sabia mesmo sabendo que a vida não é feita de ilusões e tendo cuidado para não sofrer.

Receber afeto e mimos é muito bom mas não é bom que nos tornemos mimados. Nakano mesmo gostando dos mimos e de afofar a cauda felpuda da Senko tem suas ressalvas sobre ser tratado como criança mesmo sendo um adulto. Aproveitar a vida é fundamental mas é necessário cumprir as obrigações necessárias e cuidar de si próprio para poder desfrutar o que a vida tem de melhor, claro que com o ordem e decoro. O fato do Nakano e da Senko sentirem dores nas costas pode indicar sinais de sedentarismo. No caso do Nakano é compreensível porque ele não tem tempo para fazer exercícios físicos , mas a Senko me parecia atlética o suficiente para não sentir nenhum efeito de sedentarismo, afinal não é possível passar 800 anos parados.

Um dia tudo acaba. Todo mundo sabe mas ignora, devagarzinho a nossa hora vai chegar.  Mas o importante não saber quanto tempo nos resta, e sim termos a consciência de querer termos uma vida em que no final podemos olhar para trás e dizer que valeu a pena, pois assim como fogos de artifício que foram feitos para brilhar enquanto durarem, também queremos ter a sensação de dever cumprido e ao mesmo tempo ter de alguma forma ter brilhado nesse mundo.

Nakano está aproveitando cada momento a sorte que lhe foi dada e afofando a cauda da Senko como se não houvesse amanhã, afinal não se pode deixar nada para semana que vem, pois semana que vem pode nem chegar. Ainda falando em fim, é preocupante o que a Sora disse para o Nakano sobre ele precisar se cuidar e não deixar a Senko sofrer. Será que ele corre risco de vida? Seria surpreendente se isso for verdade, afinal o anime tem se mostrado tão bucólico e solar que é inimaginável esperar alguma situação dramática.

Por fim, em um artigo que teve tantas referências musicais que vão de Coldplay a Roberto Carlos, aproveito a deixa para parodiar Zeca Pagodinho: “Deixa a Senko me mimar, a Senko mima eu, o Nakano é feliz e agradece pelos mimos que Senko deu” (e continuará dando).

Eu passei um bom tempo sem escrever para este blog, mas agora posso dizer que eu voltei para os animes que eu deixei de comentar porque aqui é meu lugar. Obrigado a todos que leram este artigo. Estamos juntos e Shallow Now.