Cop Craft – ep 2 a 4 – Que pena
Bom dia!
Pensei muito e decidi que vou, sim, cobrir Cop Craft. É tão lamentável a distância entre o que esse anime poderia ter sido e o que ele é que eu quase desisti, mas aqui estamos.
Certamente nunca esteve destinado a se tornar um marco artístico-cultural, mas poderia sim ser muito divertido e interessante se tivesse recebido uma produção tecnicamente competente.
Se anime é desenho animado (e é), então Cop Craft é um desenho desanimado.
A coisa toda desmoronou no episódio 3, mas não é correto dizer que os sinais já não estivessem lá desde o começo. É só que eu achei que estava vendo ao longe, nessa rua escura, duas motos se aproximando, quando na verdade era um caminhão sem freio.
Desde o primeiro episódio a animação já deixa a desejar. Desde a animação de abertura a animação já deixa a desejar. Mas não parecia tão ruim para ofuscar o que Cop Craft tem de especial: sua dupla de protagonistas.
A história e o cenário em si são apenas o suficiente para funcionarem. Nada que se destaque. Grosso modo, é uma ideia parecida com Kekkai Sensen (Blood Blockade Battlefront): uma cidade especial na qual convivem, não sem conflitos, humanos e criaturas mágicas de outra dimensão (ou planeta, como parece ser o caso de Cop Craft).
Como em Kekkai Sensen, o que faz Cop Craft valer a pena são seus personagens. Em particular a dupla Kei e Tilarna, embora os personagens secundários tenham se mostrado interessantes até agora também.
As semelhanças entre Cop Craft e Kekkai Sensen param por aí, porém. Nas duas histórias seus personagens desvendam ou tentam evitar crimes, mas enquanto nesse anime eles são agentes da lei de fato, no outro eles são uma agência de investigação paralela ao poder do Estado, ainda que trabalhe junto a esse.
E nossos protagonistas aqui têm uma dinâmica que, se não é muito original, pelo menos está sendo muito bem executada. Kei é um policial veterano, honesto, cínico, endurecido pela vida. Tilarna é uma cavaleira de outro mundo, impetuosa, honrada, mas inocente.
As personalidades dos dois se chocam e eles entram em conflito desde o começo. Eles não são más pessoas e ambos estão focados na missão, então inicialmente apenas se aturam, mas com o tempo passam a apreciar e respeitar um ao outro.
Kei aprende a se abrir um pouco, enquanto Tilarna aprende que o mundo não é só preto e branco. Assistir o Kei com peso na consciência preocupado com a Tilarna ou ela de forma reticente reconhecer o valor do policial a quem só vinha criticando até então é sempre um momento mágico.
Mas suas personalidades são fortes então eles sempre retornam ao status quo algo beligerante, mesmo que no fundo já tenham se aceitado e talvez até já estejam apreciando a companhia um do outro.
Eu queria assistir um bom anime desses dois. Eu realmente queria.
E até o segundo episódio eu não tinha muito do que reclamar. Apesar de um carro estático na tela enquanto o fundo se move até que o veículo decole do chão (o que foi risivelmente justificado com um tranco quando a animação troca para o lado interno), no geral Cop Craft seguia bem.
As cenas de ação eram competentes e a narrativa seguia cativante. A direção do segundo episódio em particular teve um toque de mestre que merece ser descrito.
Em uma cena policiais sem nome são chamados para o local onde está sendo realizada uma transação ilegal, e era uma armadilha. Eles acabam mortos com toques de crueldade e sadismo.
Na cena seguinte vemos o enterro de um policial. Não é o enterro daqueles policiais, mas o do Rick, o parceiro de Kei que morreu no primeiro episódio.
A sequência inteira deu dignidade a dois personagens que sequer têm nome sem perder tempo com eles, cimentando a noção de que essa cidade é violenta e os agentes de segurança sofrem em particular com isso.
Foi não só bonito, foi importante para termos uma noção do mundo do anime, mas mais ainda para entendermos quem é Kei Matoba – com quem Tilarna se solidariza ao final do enterro. Ela também está aprendendo sobre esse mundo.
Daí aconteceu o terceiro episódio. Tudo o que o anime vinha acertando até então ele errou. O que ele já errava, errou mais ainda.
Tilarna e Kei estão separados durante quase todo o episódio, então não há a dinâmica entre os personagens para salvar. A história foi terrivelmente apressada, muita coisa aconteceu, mal deu para acompanhar direito e a grande revelação do final acabou não tendo impacto emocional nenhum.
E, claro, a animação afundou a níveis que eu achei que nunca fosse ver em uma animação comercial profissional japonesa. Mesmo que seja do estúdio Millepensee, o mesmo da infame adaptação de Berserk de 2016 e 2017.
Aquele Berserk é muito feio mas não foi Cop Craft feio. Eu já assisti animes que tiveram episódios adiados ou, em um caso particularmente grave, o anime inteiro foi adiado para outra temporada apesar de já estar no quarto episódio (Regalia, assistiu esse?). Dia desses eu terminei de assistir aquele troço chamado Ore ga Suki nano wa Imouto dakedo Imouto ja Nai (ImoImo, para os íntimos – mas quem quer ser íntimo disso??).
Nunca vi algo tão feio quanto o terceiro episódio de Cop Craft.
As lutas sequer foram animadas! Aquilo era uma apresentação de slides! Fizeram no PowerPoint, aposto!
Ok, já ventilei a minha frustração o suficiente.
O quarto episódio foi feio também, mas foi melhor que o anterior. Para registrar, já que dei uma nota única para três episódios tão distintos: o segundo eu avalio como merecendo 3,5/5, o terceiro é um generoso 1/5, e o quarto respira por aparelhos com 2/5.
O primeiro arco do anime foi encerrado e parece que os casos serão episódicos, sem necessariamente algo que conecte todos eles. Achei a vampira interessante e sua curtíssima luta no final foi muito melhor do que qualquer coisa do terceiro episódio. Bom, foi animada de verdade.
Espero que Cop Craft mantenha pelo menos o nível do quarto episódio até o final. Fico aqui na torcida.