Somali to Mori no Kamisama – ep 2 e 3 – Tudo o que eu gosto
Bom dia!
Em determinada altura do segundo episódio, quando o Golem revela o que já estava implícito (ele não tem muito tempo de vida), me caiu a ficha: Somali to Mori no Kamisama é um combo de um monte de coisas que eu absolutamente adoro em animes!
E foi por isso que decidi escrever sobre ele nessa temporada. Desculpa, Flávio, e obrigado pelo seu excelente artigo de primeiras impressões.
Para ser razoável, dizer que Somali tem “tudo” o que eu gosto em animes é provavelmente um exagero. Tem muitas coisas que eu gosto muito, mas sem dúvida que gosto também de outras coisas.
Somali to Mori no Kamisama é uma história sobre a criação de filhos. Adoro essas, quanto mais dramático e súbito e improvável melhor. Assisti no final de ano Aishiteruze Baby e talvez um dia o resenhe por aqui. Eu pessoalmente nunca cobri uma dessas no blog ainda, mas a Tamao-chan cobriu Amaama to Inazuma e a Isabella cobriu Alice to Zouroku. Temos também uma lista de animes do gênero. Além dos três que já mencionei, nela há dois dos meus preferidos absolutos: Crianças Lobo e Michiko & Hatchin.
Somali to Mori no Kamisama é uma aventura, não de batalhas, mas uma jornada mesmo. O que, por sinal, é o caso de Michiko & Hatchin também, além de outros animes que estão entre meus preferidos de todos os tempos como Samurai Champloo e Sora yori mo Tooi Basho. Eu que resenhei os dois, hehe.
Somali to Mori no Kamisama é pós-apocalíptico/pós-humano. Os humanos deixaram de ser a espécie dominante e mal se os vê por aí. É um tipo de cenário que permite contemplar a nossa própria finitude, mal ocultando a tragédia nas entrelinhas de histórias estranhamente positivas. É o caso de Girls’ Last Tour. Em outros animes do gênero a humanidade ainda sobrevive, mas em uma situação que nós, que assistimos, sabemos ser muito mais delicada, mas para os personagens desses mundos é só o dia a dia. Sora no Woto é assim. Por fim, mesmo que se esteja vivendo o apocalipse e lutando para viver, é possível contar a história de um ponto de vista que valoriza a normalidade, e não a dificuldade, como fez Gakkou Gurashi. E só para deixar registrado, também é possível pós-humanidade com ação, sem descuidar do aspecto psicológico, como faz SukaSuka.
No caso, Somali to Mori no Kamisama é a história da jornada de um golem e uma criança humana da qual ele torna guardião (e é tratado como pai adotivo) em busca de seus pais. Somali, a criança, é a única humana que conhecemos em um mundo habitado por criaturas fantásticas que criaram sua própria civilização e que, somos ensinados logo no começo, detestam humanos e são a causa de sua quase extinção.
Como toda jornada, também essa está destinada a terminar, e a separação de seus parceiros será trágica, não importa se ocorra antes ou depois da morte do Golem, que tem expectativa de vida de exatos mil anos e está há pouco mais de um ano de expirar. Seu corpo já está se desfazendo em pedaços.
Essa soma de elementos produz um clima de nervosismo constante, como se algum perigo mortal estivesse aguardando por eles embaixo de cada pedra e atrás de cada árvore ou esquina. Tecnicamente, talvez seja isso mesmo, com a Somali sendo humana e tendo que se disfarçar, mas até agora ninguém a descobriu.
O que irá acontecer quando alguém a descobrir? Todos com quem o Golem e Somali trataram até agora são pessoas muito gentis, como os onis da floresta, médico e assistente, e a família de coelhos gigantes com chifres que empregou o Golem na cidade em que se encontram atualmente. Mas eles continuariam gentis e preocupados com o bem-estar de Somali se descobrissem que ela é uma humana?
Perigo iminente é sempre algo que nos deixa na beira da cadeira enquanto assistimos, mas imaginar que esse perigo possa ser a transformação de uma criatura bondosa e gentil em um monstro capaz de machucar uma criança inocente como a Somali é perturbador.
Como uma criança muito nova, esse é só um dos perigos que Somali enfrenta. A menina se distrai e se dispersa o tempo todo, não pensa duas vezes antes de ir para algum lugar que se lhe pareça interessante, e não é legal imaginar o que pode acontecer com uma criança perdida. O final do terceiro episódio mostrou isso, não foi?
A característica salvadora de Somali é que ela é uma menina muito boazinha e obediente, então se o Golem diz que ela não pode fazer isso ou aquilo, e ele sempre dá ordens a ela pensando em sua segurança, ela obedece, por mais que isso encha de agonia seu coraçãozinho imaturo. No terceiro episódio isso é particularmente visível.
Quem quer procurar os pais da menina é o Golem, e por bons motivos, como já sabemos. Mas ela está mais do que feliz ao lado dele, e a ideia de que ele possa querer se separar dela a preenche de tristeza, que ela tenta aplacar chamando a atenção de seu “pai” todo o tempo, o monopolizando tanto quanto possível.
Em uma cena carregada de significado Somali retira a toca que é seu disfarce quando está sozinha no quarto com o Golem, que não está prestando atenção nela. É uma maneira que nem ela mesma entende de se auto-afirmar, como se quisesse dizer ao seu pai que ela não é só mais uma das coisas que ele coletou no meio do caminho, ela é uma pessoa e quer viver com ele, e não sob tutela dele. Apesar do quanto Somali é impulsiva e com zero senso de perigo, abaixar a toca é algo que ela nunca fez.
Boa sorte, Somali! Mesmo que eu saiba que isso não vai durar.