Bom dia!

Você confia cegamente em mim? Essa foi uma das melhores estreias da temporada. Vai lá e assiste! E depois leia meu artigo de todo modo porque eu fico feliz quando as pessoas leem meus artigos, é como se estivesse conversando com elas, e eu sou meio forever alone e não tenho muitas chances de conversar com pessoas, então…

Mas pelo menos eu não sou uma das últimas pessoas vivas em um mundo devastado pela guerra, não é?

Yuuri e Chito com certeza têm muito mais a reclamar do que eu. Só não reclamam tanto porque não têm tempo pra isso. Elas precisam tentar encontrar comida e não morrer, afinal de contas. Eu reclamo que reclamo mas ontem à noite saquei o telefone e pedi para a comida vir até mim. Estava boa a pizza! Pouco antes eu havia assistido a Yuuri sacar seu fuzil e apontá-lo para Chito, para poder comer sozinha o resto da ração que as duas haviam encontrado. Esse cena foi bastante chocante.

Até então eu trabalhava com a assunção de que elas eram amigas, ou se não amigas, que pelo menos viviam muito bem em companhia uma da outra. A Chito ter falado antes sobre como as pessoas poderiam entrar em guerra por comida foi uma premonição do que estava por vir, e no final, quando ela se revolta com a Yuuri porque ela realmente comeu sozinha o resto da ração, fica parecendo que talvez fosse uma brincadeira entre duas pessoas próximas. E isso é ainda mais perturbador: talvez fosse uma brincadeira mesmo, mas uma com um fundo de verdade.

Elas são amigas, não são?

O armamento e os veículos são reminiscentes da Segunda Guerra Mundial, e enquanto a Chito usa fardamento inglês, a Yuuri veste o alemão. Isso sugere que talvez sejam mesmo inimigas, ainda que elas não tenham uma noção muito clara do que é uma guerra e de porque as pessoas fazem guerras (ou faziam, supondo que não haja mais ninguém vivo mesmo). Elas são amigas ou inimigas? Por outro lado, a cidade de onde elas vieram parecia contemporânea, e o flashback sugeriu que elas viviam lá juntas antes da guerra chegar e elas receberem um veículo para partirem de lá. Elas são amigas ou inimigas?

Elas são amigas e a Yuuri é a mais velha

Talvez esse seja todo o ponto do anime. Amigos ou inimigos? Por que nos tornamos inimigos de nossos semelhantes em primeiro lugar? Há muitos séculos, poderia ser por causa de comida mesmo. Mas já na época da Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França, a França já produzia excedente de alimentos. Guerras por outros recursos? Guerras por ideologia? Vale a pena mesmo matar por essas coisas? Vale a pena matar por um resto de chocolate, quando ainda tem muito mais sobrando no seu veículo, por longe que ele esteja?

Me pergunto se Girls’ Last Tour tentará mesmo responder algumas dessas perguntas, que em sua maioria são apenas retóricas, de resposta óbvia. Alguns diriam que todas elas são retóricas, e talvez estejam certos. Há uma tensão latente entre Yuuri e Chito, por mais boas amigas que elas pareçam ser – no mínimo, uma depende da outra para sobreviver. Mesmo que não fosse por questão de divisão de tarefas, viver absolutamente sozinho naquele mundo deve ser enlouquecedor e deprimente. Assistir o desenvolvimento da relação entre as duas pode, indiretamente, ou talvez diretamente mesmo, a depender das escolhas da produção, responder algumas dessas perguntas.

Ou, na pior das hipóteses, Girls’ Last Tour envereda para o niilismo puro e eu fico aqui sentado assistindo o sofrimento de duas garotinhas feitas de gelatina. Pornografia da tristeza. Em qualquer caso, há que se reconhecer que ao menos esse primeiro episódio foi tecnicamente excelente. A sequência inicial, em particular, foi linda.

Algo faz Chito chorar durante o sono, e tem a ver com o passado delas, não com o presente, aparentemente

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