Já diz o ditado que desgraça pouca é bobagem, pois bem, o penúltimo episódio de Vivy parece beber dessa sabedoria popular e não poupou aos seus personagens, nos fazendo pensar o que de pior ainda pode vir no final dessa longa jornada, que ainda não chegou em sua conclusão, mas deu a Diva a oportunidade de dar o seu último tiro de sorte.

Primeiramente, devemos dizer que a motivação do Arquivo não foi bem uma surpresa, porém ficamos intrigados com a colocação que ele faz acerca da capacidade humana, porque de certa forma acaba havendo até uma certa contradição nas ideias.

A IA central da torre visou eliminar a humanidade por achar que ela não consegue evoluir mais e por sua dependência daquilo que criou. Até aqui tudo bem, mas como esse raciocínio funciona, se ela própria reconhece que a imaginação e criatividade humana não tem limites e continuam além do que uma máquina pode fazer?

Se essas características determinam algo acima da capacidade robótica, não é certo dizer que os humanos também tem a sua evolução contínua? Nesse discurso surge a dúvida, especialmente pela proposta que o Arquivo faz a Vivy quanto a salvação de todos.

Algo que nos chamou bastante atenção foi a declaração feita sobre o andamento do Projeto Singularidade e o acompanhamento da protagonista. A cada vitória sempre ficou muito claro para nós que as coisas pendiam para duas circunstâncias, ou não saíam do lugar, ou pioravam de forma muito leve e discreta.

Considerando todo o esforço que a dupla dinâmica empreendeu, mesmo com alguns revezes, o natural é que em algum ponto as coisas reverberassem positivamente, mas não e nunca entendemos o motivo dessa falha, até que a mente do Arayashiki revelou sua intervenção direta na anulação de cada feito – o que também deve explicar a “ajuda” que o Antonio e o Kakitani obtiveram.

Ao fim o tal “futuro” deixado para a Vivy é justamente determinar o que será feito da humanidade, por ela ser aquela que mais se aproximou de se tornar uma humana – mais uma vez contradizendo o que pensam -, o que confirmou a teoria de que a torre a enxergava como o centro desse novo império que estava prestes a ser formado.

A cantora conseguiu criar do zero e segundo as suas próprias experiências de vida, algo completamente novo e que não faz parte do que ela seria capaz de fazer. Nesse momento ela se torna de fato um ser que transcende a limitação das outras IAs, incluindo o próprio Arquivo – que reconhece a superioridade dela.

Tal reconhecimento também justifica o porque da moça e o Matsumoto não terem se rebelado junto as demais IAs, porque a torre queria que a Vivy estivesse livre para determinar o caminho que seria tomado, segundo a sua capacidade e não pelo julgamento de quem não podia mensurar as possibilidades humanas que ainda pudessem existir.

Infelizmente por ainda carregar consigo suas dúvidas e incertezas sobre o que alcançou e sente, a Vivy não conseguiu cantar para mostrar ao Arquivo a sua crença nos homens, ficando até meio que torturada e neutralizada pela sua própria canção, o que vem daquela velha pergunta sobre o que é cantar com todo o coração – e que de alguma forma pensávamos ter sido respondida em algum grau, após a criação daquela música.

Até o Matsumoto parece já ter a resposta – de forma involuntária – para esse questionamento e se formos olhar, a mesma está na cara da cantora desde o princípio da história, quando ela sequer era capaz de reunir um grupo de 10 pessoas para lhe assistir.

Conforme evoluiu com as suas experiências, esse cenário se modificou e ela foi alcançando mais e mais pessoas gradualmente – conforme o ela, seu canto e sua missão se entrelaçavam -, diferente do que fez no seu passado, onde não experimentou as oportunidades que teve ao longo do Projeto Singularidade.

No auge da missão de salvamento, era natural que houvessem perdas, principalmente pela narrativa trágica que acompanhamos até aqui, o que se manteve de uma forma bem pesada para a Diva – que já carrega outras mortes importantes nas costas, a exemplo de suas irmãs.

Dentre os vários sacrifícios, aquele que realmente tocou na alma foi o da Yui, pois ali a garota mostrou que sua fé na coexistência entre máquinas e homens é inabalável, o que se vê pela sua forte conexão com a Elizabeth. Diferente do Arquivo que apontava a dependência humana como algo ruim, ela o demonstrava como uma forma de de mostrar que um precisava do outro.

Aquilo não só era um gesto de apoio mútuo, mas também de confiança, ali a vida dela dependia da Elizabeth e todo o seu ideal é reforçado pelo seu gesto antes de morrer, tratando com humanidade e gentileza o seu robótico algoz, mesmo numa situação ruim – praticamente como um ato de compreensão e perdão.

Em compensação o Osamu em um ato extremo mais uma vez sobrevive o suficiente, e manda a protagonista e seu parceiro de volta para o passado, como uma última chance de fazer o projeto da salvação humana funcionar.

O diálogo dele com a Vivy é bem bonito e é um ponto importante para que ela entenda a força dos sentimentos, porque mesmo quando foi considerada uma falha, ela ainda foi fundamental para a família e na salvação da vida dele, então porque não depositar sua confiança em alguém tão especial?

Infelizmente isso custou caro para o professor, mas ele sabia que aquela era a melhor opção possível para que sua amiga realizasse sua missão, uma vez que não se preocuparia com ele e com isso ganharia mais tempo para se articular com os aliados.

Abrindo um parêntese aleatório, é um tanto estranho pensar que esse sacrifício precisa ser feito, quando o anime e o vilão dão a entender que tudo é muito simples, basta a Vivy cantar a música que criou e tudo se resolve, então será que realmente não dava para salvar o pobre coitado de novo? Pensando nisso, a conclusão é que ela deve precisar usar mais do que a voz nessa batalha trágica.

Curiosamente vale mencionar que mesmo conseguindo fazer esse retorno, na cena em questão, ele não tinha apertado o botão para iniciar o projeto no tempo programado, o que nos fez perguntar que tipo de impacto essa ação teria nessa linha do tempo que eles tanto alteram – é um detalhe bobo, mas despertou o interesse para entender o que tinha ocorrido ali.

Apesar do sofrimento que encarou por ter falhado com todos, ao menos a Vivy conseguiu a sua segunda chance junto ao Matsumoto e agora com mais “sangue nos olhos” do que nunca. O quão longe ela irá com a sua determinação de salvar os humanos e qual será o seu grande e último ato?

Agradecemos a quem leu e até o próximo artigo!

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