Dies irae – ep 3 – Acima das galáxias
Bom dia!
Esse anime está mais ensandecido a cada episódio ou é impressão minha? Confesso que gostei da reviravolta desse episódio, foi uma boa sacada e uma forma de envolver uma personagem que até agora não vinha tendo função nenhuma no roteiro. Era uma extra e eu já estava começando a me perguntar porque ela existia.
Mas isso, embora importante para o episódio, é só um detalhe no grande esquema das coisas em Dies irae. E a julgar pelo trono divino em que Mercúrio está, o esquema é grande mesmo.
Todos os personagens “do lado de lá”, que não é o lado da vida comum, ordinária, são malucos com diferentes níveis de megalomania. Bom, talvez a garota-guilhotina não seja megalômana, mas até onde eu entendo ela nem “existe de verdade”. Ela é, sei lá, o “espírito” da lâmina da guilhotina, que vive espiritualmente em uma praia eternamente ao entardecer (ou seria amanhecer?). E ela (a lâmina) desapareceu porque … ela despertou ou algo assim. Mais sobre isso depois, porque tem a ver com o Ren e a Kasumi, e foi a parte boa. Voltando à megalomania.
Os personagens foram escritos para ser megalômanos? Poderia ser o caso. Mas o próprio anime me soa tão prepotente que não acho que seja o caso. A megalomania é do enredo mesmo. Quem quer que escreveu essa história achou que estava fazendo algo realmente incrível – ou pelo menos quis fazer parecer que fosse o caso. Auto-confiança é importante, mas não por si própria, e sim pelo que é capaz. Até agora, só vi um anime excessivamente confiante em si mesmo, que não tem vergonha de picotar e misturar em um liquidificador elementos cristãos, hindus, arturianos e nazistas, com um grande elenco de personagens difíceis de diferenciar, não porque sejam todos visualmente parecidos, mas porque todos parecem variações psicológicas de uma mesma mente perturbada. Um anime que não se ruboriza em mostrar uma sequência que passa pelo Japão, Terra, Lua, Saturno, a galáxia, várias galáxias (!!), para finalmente terminar no suposto arquiteto disso tudo, o mago Mercúrio.
Suponho que eles pretendam dominar, alterar, destruir (escolha seu verbo preferido), todo o universo universal, né? Megalomania. Pior ainda porque eu duvido que isso tenha qualquer relação com a verdadeira intenção do enredo. Quero dizer, é possível, talvez queiram roubar o trono de Deus ou algo que o valha, mas de onde o anime está agora ele ainda pode ir para qualquer lugar. E essa é uma das coisas que me perturba, aliás: eu não sei o que eles querem. Não sei se todos querem a mesma coisa, não sei se estão unidos, se vão disputar entre si, entre times, à la carte. Por que tudo isso está acontecendo? O que está acontecendo, aliás?
Talvez seja a intenção mesmo, afinal, o protagonista se encontra nesse estado de confusão, perdido. Faz sentido. Mas são quatro episódios (contando com o prólogo), um mês de transmissão, um terço do anime, e eu continuo tão perdido quanto no começo. Eu não entendi nada naquele prólogo, mas pelo menos ele deu um pequeno espetáculo visual. Pequeno mesmo, não teve muita animação, mas relevei. Só que depois disso já assisti mais três episódios e continuo sem saber nada. Isso é frustrante. É adaptado de um jogo, então fica a pergunta para alguém que porventura o conheça: no jogo passa-se também um terço da história completamente sem noção do que está acontecendo? E pessoas jogaram isso?
“Mas o mistério é parte da história”, dirá alguém. Sim, poderia ser, se isso fosse um anime de mistério. Algo na linha “estranhos fenômenos estão acontecendo, pessoas estão sendo assassinadas, que estará se passando?”, o que acompanharíamos junto ao protagonista enquanto ele investiga e enquanto descobrimos aos poucos, até finalmente chegar à verdade. Mas não é o caso. Os personagens “vilões” estão sendo apresentados diretamente para nós, expectadores, independente do conhecimento do protagonista. Ele tampouco está investigando coisa alguma, sequer esteve curioso para tentar descobrir qualquer coisa em qualquer momento. Isso não é um mistério. É só ruim mesmo.
Encerrando, reafirmo que gostei da reviravolta, e ela parece que finalmente tem alguma ligação com todo o resto. Não apenas Ren, o protagonista, foi possuído pelo, na falta de palavra melhor, “espírito da guilhotina” (ou despertou sua “guilhotina interior”), como a Kasumi também foi afetada. Mais: era ela a assassina esse tempo todo, não o Ren. E assim foi porque ela sempre se preocupou com ele, a vida toda, e ele sempre a manteve no escuro – para protegê-la, não por não gostar dela. E precisamente porque sempre a manteve no escuro que a escuridão tomou conta dela, e na ânsia por ajudá-lo de algum jeito, qualquer jeito, ela se tornou a lâmina que ele estava destinado a se tornar em seu lugar. Quando tudo foi resolvido (pelo menos por enquanto) entre os dois, a lâmina amaldiçoada sumiu, e algo começou. É um pouco tarde querer começar no quarto episódio (prólogo também conta), mas pelo menos talvez agora eu descubra a que veio Dies irae.