Bom dia!

O penúltimo episódio de Angolmois é também de longe seu melhor episódio. Não pela parte técnica, que está apenas decente, mas por entregar uma mensagem pungente, do tipo que só que é escrita a sangue: o sangue daqueles que morreram defendendo Tsushima.

Mas se defender Tsushima era o grito de guerra que os unia, a motivação pessoal de cada um, o verdadeiro motivo pelo qual seu coração batia, era diferente. Por amor? Para expiar pecados? Para proteger os mais fracos?

O mais trágico é que alguns deles talvez só tenham descoberto isso em sua hora derradeira. É como Nagamine disse:

Um guerreiro morre para descobrir quem é.

A razão de vida de um guerreiro é lutar, mas lutar pelo quê? Pequenas tribos e grandes civilizações ao redor do mundo se debruçam sobre essa questão desde que existem guerreiros. Curiosamente, a conclusão parece ser sempre a mesma.

Sobre os Yaquis, Carlos Castaneda escreveu em O Fogo Interior (1984):

Guerreiros vivem com a morte ao seu lado, eles sabem que a morte está com eles, e extraem a coragem para encarar qualquer coisa desse conhecimento. O pior que pode acontecer a qualquer um é morrer, e dado que a morte é um destino inevitável, somos livres; aquele que tudo perdeu nada mais tem a temer.

Na lápide de Pollis, um guerreiro grego que morreu em alguma guerra no começo do século 5 antes de Cristo, lê-se:

Eu, Pollis, filho de Asopichos, vos digo: Não sendo um covarde, cumpri meu dever, tendo morrido nas mãos dos trácios.

Mais relevante para Angolmois, embora bastante posterior, Yamamoto Tsunetomo, narrou para Tashiro Tsuramoto, que escreveu no Hagakure (1716):

O Caminho do Samurai é encontrado na morte. Entre ela ou qualquer outra coisa, não há dúvida: a escolha deve ser a morte.

A moral parece ser sempre a mesma: não há outro caminho para um guerreiro senão a morte. Guerreiros não morrem por uma causa: guerreiros vivem para morrer. Não é que tenham que lutar sem razão ou motivo, mas sim que vivam para arranjar motivos para lutar – e consequentemente, para morrer.

Se um guerreiro ainda não morreu, é porque ele ainda não descobriu a causa pela qual lutar.

 

Nagamine e Tatsu

 

A razão de viver dos Toibarai era proteger o Japão de invasões estrangeiras. E a razão de suas mortes? Tenho certeza que em algum momento durante o combate desesperado no portão sul, Nagamine percebeu que a derrota era iminente. Aposto que percebeu isso antes de mandar Jinzaburou partir. E foi por isso que mandou Jinzaburou partir para junto dos seus.

Lutar ao lado dos seus e proteger a retirada dos que não podiam lutar era a última coisa que Nagamine pretendia fazer. Tatsu sentiu o cheiro da morte no ar, e se lembrou que ela tinha uma coisa mais importante do que todas as outras.

Ela não queria sair do lado de Nagamine. Péssima hora para se lembrar que o amava. Não podia se declarar naquele momento, mas nunca mais haveria um outro momento. Nagamine insistiu para que partisse, e ela respondia de forma cada vez mais direta que queria ficar ao lado de seu amado.

Então os mongóis explodiram o portão e Tatsu foi atingida pelos estilhaços. Ferimento fatal. À beira da morte, foi mais honesta do que antes, e embora ainda não tenha dito com todas as letras, suas palavras, seu olhar, e seu gesto alcançaram Nagamine.

Ele nem teve tempo de lamentar a morte dela pois os mongóis já jorravam para dentro do castelo. Lutou heroicamente, como um guerreiro Toibarai protegendo o Japão. Lutou furiosamente, como um homem que acabou de ver uma mulher por quem tem grande estima ser morta diante de seus olhos.

E morreu. E os Toibarai tombaram ao seu lado em seguida.

 

Hitari

 

Noutra parte da castelo, no muro leste onde Teruhi e os guerreiros do Clã Sou lutavam, os mongóis também conseguiram forçar a entrada. Graças à chegada de Jinzaburou e a cobertura de Hitari, o arqueiro, conseguiram fugir.

Um homem sozinho pode se esconder mais facilmente, talvez Hitari tivesse planejado em algum momento. Mas ele já não estava mais sozinho pois Douen, o médico, estava com ele. E tinha pacientes consigo que não podiam mais andar, e ele não pretendia sair dali sem eles. Foram encontrados.

 

Douen

 

Douen não era um guerreiro no sentido estrito da palavra, mas pode-se dizer que seu espírito de honra era o mesmo de alguém com uma espada na mão. Sua honra, porém, estava eternamente maculada pela culpa que ele carregava por um número desconhecido de mortes que teria provocado.

Era para limpar sua honra que ele lutava. Era para expiar sua culpa que ele salvava vidas. Porque essa era a razão de sua vida, haveria de ser também a razão de sua morte.

Hitari não conta sua história de vida, mas dado que todos eles eram prisioneiros, não é difícil inferir que ele também possivelmente fosse um criminoso. Em Tsushima ele teve uma segunda chance de viver. Em Tsushima ele teve uma segunda chance de morrer.

 

Os guerreiros do Clã Sou caem, um por um

 

Os guerreiros do Clã Sou lutavam por motivos semelhantes aos Toibarai: eram os administradores locais de Tsushima e por isso competia a eles o dever de proteger a ilha. Após a morte do chefe do clã e de todos os seus filhos, sua última missão era proteger a Princesa Teruhi e os habitantes da ilha contra os mongóis, que tomaram a vida de Sou Sukekuni em primeiro lugar.

E eles levaram sua missão a sério, assumindo-a como suas razões de vida, de luta, e, derradeiramente, de morte. Alguns devem ter sobrevivido ainda para continuar protegendo a princesa, como a kunoichi Kano. Mas não espero que continuem vivos até o final.

 

Onitakemaru descobriu um motivo para lutar?

 

Outros sobreviveram também, pelo menos por enquanto. Onitakemaru retornou à Tsushima, salvou a pele de Jinzaburou, e ficou para enfrentar um general mongol. Por que o pirata voltou? Ele diz que Jinzaburou mudou. Jinzaburou acredita que ele é que tenha mudado.

Se for como Nagamine disse, Onitakemaru deve ter mudado mesmo. Afinal, um guerreiro morre para descobrir quem é. Essa deve ter sido a descoberta de Onitakemaru.

 

Amushi e Sana lideram as crianças para a segurança

 

Amushi, o garoto batedor, também sobreviveu, junto com Sana, a garota que ele conheceu na ilha e com quem desenvolveu uma relação de amizade e rivalidade. É ela quem está liderando um grupo de sobreviventes, crianças, por algum caminho que só os Toibarai conheciam.

Ela não sabe ainda que Tatsu morreu. Se soubesse, provavelmente voltaria para procurar a própria morte. Amushi faz bem em esconder dela a verdade. Ainda não chegou a hora para essas crianças. Morrer ali não deve ser a missão delas.

 

Teruhi sabe o caminho do futuro

 

E tudo isso nos leva aos protagonistas: Jinzaburou e Teruhi. Ele precisou ir até o inferno para descobrir pelo quê lutar. Ela precisou que o inferno fosse até ela para descobrir como lutar.

Acredito que os dois sobreviverão, mas se separarão: o lugar dela é em Tsushima. Após a tempestade a ilha estará precisando mais do que nunca de uma líder. E os sobreviventes estarão com sorte, pois ela deverá se tornar uma excelente líder, forjada no calor da batalha. Sua última batalha será reerguer e fazer prosperar Tsushima – e ela ainda não sabe, mas também defender a ilha da segunda invasão mongol.

Jinzaburou tem mais batalhas ainda a sua frente. Os mongóis continuarão seu avanço, e será o trabalho dele ensinar aos governantes arrogantes quem eles são e como derrotá-los, pelo bem dos japoneses de todas as demais ilhas. Para que Tsushima não se repita em escala desastrosa em Kyushu.

Jinzaburou cai no mar

  1. Este episódio virou akame ga kill kkkkkkkkk sairam limpando o elenco com força! discordo da filosofia do nobre resenhista no tocante ao apêlo a morte, mais de certo gosto da ficção porque ela me faz sobrepujar a morte e acredito e espero sim que Zinzaburou e a princesa e as crianças e a ninja kanou irão sobreviver. Espero que que Zinzaburou se case com a princesa Terushi e os dois virem um casal de governantes fortes e que liderem a reconstrução da ilha e seus filhos e netos possam lutar na segunda invasão mongol, aí já seria uma segunda temporada kkkkk Episódio 5 estrelas!

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Eu não disse que devamos, em nossas vidas, abordar a morte dessa forma. Apenas disse que essa é a abordagem do anime, de acordo com a frase proferida no começo do anime e corroborado por exemplos da vida real que se aproximam dela. De todo modo, diz respeito apenas à guerreiros, não ao populacho, como nós =)

      Acho que os dois vão sobreviver a essa batalha, mas não tenho certeza que o Jinzaburou sobreviva à guerra. Se sobreviver, voltar para Tsushima, onde ele descobriu seu chamado, parece um final ideal.

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

  2. De fato O Zinzaburou a princesa Terushi e as crianças sobreviveram a invasão mongol e vão reconstruir a ilha juntos e a princesa poderá declarar e viver seu grande amor pelo herói da história. Foram muitos sacrifícios para eles sobreviverem, mais a grande vitória foram eles terem sobrevivido, anime nota 10/10. Mexicano pode trazer o final do mangá também?

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Não assisti o episódio ainda mas esse resultado era bastante previsível =D

      O mangá que eu saiba ainda está em andamento. O arco de Tsushima, justamente esse adaptado pelo anime, acabou há pouco, então não deve ter muita coisa depois ainda.

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