Megalo Box retorna para seu segundo episódio no exato ponto que terminou o primeiro. Nada de flashbacks, cenas desnecessárias ou narrador explicando o mundo em que os personagens vivem, como funcionam os gears ou o que é Megalo Box. Apenas dois homens prestes a se enfrentar num ringue de lutas ilegais, cada um deles levados até aquela situação por motivos muito diferentes um do outro. Mas será mesmo? Será que as motivações de Junk Dog e Yuri são tão diferentes assim?

A luta se desenrola de maneira até bastante previsível. Equipado com um gear de última geração, campeão de sua categoria, Yuri não tem grandes dificuldades para derrotar JD, chegando mesmo a escolher lutar usando apenas seu braço esquerdo. Junk Dog, porém, mostra que cães vira-lata também mordem e quase acerta um soco em cheio no rosto de desafiante, que se defende usando seu braço direito, aquele que prometeu não usar. Ao se dar conta da situação, o boxeador de cabelos brancos resolve lutar pra valer e acaba vencendo por nocaute ao acertar um direito no rosto do adversário. Fim da luta, mas o começo de uma nova saga para nossos boxeadores.

Junk Dog e Yuri. Duas pessoas num futuro (não tão?) distante unidas pela luta. É interessante notar que, mesmo que pareçam tão diferentes, há evidentes paralelos que podem ser traçados entre os dois. JD é um fracassado, um zé-ninguém nascido no lado pobre e desesperançoso da vida em uma sociedade ainda mais desigual do que aquela em que vivemos. Ciente do seu potencial, ele sobrevive participando de lutas arranjas no submundo, se sujeitando a apanhar para continuar recebendo o mínimo para continuar vivo. Mas viver para nosso protagonista é um fardo, algo do qual ele tenta se livrar mas não consegue. Enquanto passeia sozinho por paisagens desérticas em sua moto remendada, JD parece procurar uma maneira de escapar da vida que lhe foi imposta, mesmo que para isso precise morrer. Mas sempre que se aproxima do seu desejo inconsciente de acabar com tudo, um gatilho é disparado e faz com que ele escolha viver por mais algum tempo, talvez só mais alguns dias. Quem sabe assim ele consiga finalmente escapar do seu destino, das amarras que o prendem àquela vida de dor, miséria e mesmice.

Amarras que também estão presentes na vida de Yuri. Bem sucedido, famoso e respeitado, Yuri tem a vida que muitos almejam, mas que pouquíssimos tem as condições de alcançar. No entanto, por trás dessa fachada de sucesso, se esconde um desejo por liberdade. Quando Yukiko Shirato descobre que ele foi atrás de JD, ela o admoesta, lembrando-lhe que ele não deve se envolver em lutas sem que ela assim determine sob hipótese alguma. “Seu corpo é o futuro da nossa companhia”, diz Shirato, enquanto Yuri concorda enquanto mal consegue disfarçar o seu descontentamento com sua situação. Um animal imponente, mas domesticado e castrado.

A chave para o futuro dos nossos personagens está no Megalonia. Quando Nanbu, o treinador, agente e escroque de JD diz que não há futuro para farsantes como eles, JD se revolta e resolve terminar com apenas um soco a luta que ele deveria levar até o quinto round e perder como sempre. Isso irrita profundamente Fujimaki, o credor de Nanbu, que o convoca para dar explicações a respeito do que aconteceu. Nanbu é levado para uma cozinha onde um sujeito intimidador, porém extremamente educado e polido, cozinha uma sopa enquanto ouvimos o que parece ser o som de alguém sendo torturado, numa cena que lembra muito algumas passagens do vilão Gus Frings de Breaking Bad.

Ao ser colocado contra a parede, o covarde e salafrário Nanbu, ao lembrar das palavras de Junk Dog, resolve usar os últimos resquícios de coragem que nem ele sabia ainda possuir e peitar Fujimaki dizendo que JD não irá mais subir no ringue ilegal e que o lugar dele é na Megalonia. Por motivos que deverão ser esclarecidos mais parte, Fujimaki aceita ajudar Nanbu e JD forjando uma identidade falsa para nosso protagonista. Ao ser perguntado qual nome deseja usar a partir de então, o boxeador responde sem titubear: Joe, como que para reafirmar de uma vez por todas que Megalo Box, mesmo com suas diferenças, é um projeto do aniversário de 50 anos de Ashita no Joe. Outras referências bem mais sutis ocorreram neste e no primeiro episódio, mas como não vi li o mangá e nem vi os dois animes anteriores, prefiro deixar este tópico para aqueles que conhecem a obra original e para os leitores e leitoras mais curiosos e curiosas.

A respeito dos méritos artísticos e das escolhas da equipe de produção do anime, é necessário tecer alguns comentários sobre algo que vem despertando discussões desde a estreia da série: sua qualidade visual (não confundir com qualidade de animação, direção de arte, design de personagens ou cenários). Megalo Box, embora produzido em HD, tem uma imagem borrada e cores esmaecidas que remetem aos desenhos animados produzidos no começo da década passada, época da passagem da animação em células para as técnicas de produção digital. Se a ideia era reproduzir a experiência de se assistir programas de TV num televisor de tubo nos anos 70, 80 e 90 ou numa fita VHS, o resultado saiu mais parecido com o de assistir um DVD em 2003 (mais a esse respeito pode ser lido aqui e aqui). Escolhas controversas à parte, a direção, a cargo do estreante Yoh Moriyama, continua sendo um primor, especialmente nas cenas de luta, onde os socos dos personagens carregam o peso e o impacto necessários para parecerem ameaçadores aos telespectadores. A animação, mesmo não sendo extremamente fluida, é usada de forma inteligente, alternando momentos econômicos com excelente movimentação da câmera. A maneira como pequenos movimentos, como braços se movendo lentamente ou objeto sendo movidos de um lado para o outro, cria uma ótima ilusão de dinamismo. A expressividade dos personagens e o detalhamento dos cenários também merece honrosas menções.

Mesmo com apenas dois episódios até o momento, é difícil imaginar que outra série da temporada terá méritos suficientes para desbancar Megalo Box. Com apenas 13 episódios anunciados até o momento, o estúdio TMS terá de mostrar jogo de cintura (ou seria jogo de pernas?) para equilibrar dinamismo narrativo com a calma necessária para desenvolver os personagens, suas qualidades, defeitos e, principalmente, motivações. Por enquanto, estão cumprindo as expectativas com louvor.

  1. Este anime começou de forma excelente e este segundo episódio ainda foi superior.
    Eu não sei o que gosto mais das osts, do estilo da animação ou dos personagens. Tudo parece combinar tão no anime, o tipo da animação estilo Cowboy Bebop está divinal.
    Passando ao episódio, a luta entre o Junk Dog e o Yuri foi muito boa, naquele ring, ambos os boxeadores estavam a defender os seus ideais, como o boxe devia ser feito. Eu achei bem bacana,o facto do Yuri ter começado o combate com o braço mais fraco, ele não estava a desprezar o Junk Dog, ele apenas tinha a noção que tinha melhor equipamento e mais experiência de combate. O Junk Dog nessa parte, no começo pareceu arrogante, ao afirmar que o estilo de luta do Yuri não era o verdadeiro megalobox, mas ele tem os seus motivos para isso. O Junk Dog é um personagem de respeito, ele nasceu na miséria, não tem cidadania naquele mundo cheio de desigualdades (a última imagem do artigo, dá um vislumbre dessas desigualdades de forma excelente), tem que perder propositalmente os combates ilegais em que entra (o famoso ciclo vicioso) e ainda tem que dar parte dos seus ganhos ao seu treinador e mafiosos por detrás do Nanbu. O surgimento do Yuri, serviu perfeitamente para o Junk Dog ganhar tino e avançar com os seus sonhos e derrotar o seu rival na Megalonia.
    Falando um pouco do Nanbu, ele é um traste um cobarde cheio de dívidas e empurra as suas responsabilidades para cima do Junk Dog, mas ao menos, quando colocado numa situação de vida ou morte, teve a coragem de sugerir uma solução,para o mafioso do Fujimaki. Agora só vendo, como o Nanbu e o Junk Dog vão se sair no torneio de Megalonia.
    Antes de terminar, tenho que concordar com o teu último parágrafo. Será muito difícil, qualquer outro anime desta temporada, superar Megalo Box. Esperemos que o estúdio TMS, consiga manter a qualidade e o desenvolvimento dos personagens de forma excelente (como até agora) em todos os 13 episódios.
    Como sempre, mais um excelente artigo CrossSylvia.

  2. E aííí peoples!!!
    K-San como sempre afiado…CrossSylvia magnifica!!!
    Bem, o que falar deste que VAI (ah vai, no proximo Crunchyroll Award tem de ser campeão, se não for…Vão sentir a minha ira no Customer Service!!!) ser o melhor anime da temporada!!!!
    Do andamento, dos cenários, os climas, dos personagens acho que Cross e K-San já falaram TUUUDDOOOO!!!

  3. Desculpe CrossSylvia se errei no tratamento se vc for mininu por favor substitua o magnifica pelo magnifico…
    Mas voltando, eu só gostaria de comentar que notei umas mudanças de traço dos personagens como no close do Yuri na Luta pareceu me bem coisa do Kentarou Nakajou que ilustrou para Ikki Kajiwara “Kick no Oni” (aqui chamado de Sawamu o Demolidor) os traços de contorno são grossos como se feito a lápis com ponta grossa, mas que acrescentam mais rusticidade e dramaticidade ao personagem. Gosto e muito dessa variação de traço dependendo da situação dramatica.
    Fora que tivemos mais referencias a Cowboy Bebop, quando se criou a ID de Joe a tela do computador era praticamente identica aos procurados por Jet e Spike (não vou citar a Faye pq ela só apareceu no ep.3). E algumas referências a Samurai Champloo (elas estavam lá…).
    De qualquer forma, esta formula de referências a campeões do passado está se tornando um sucesso, mais os dialogos cortantes e situações limite mais o score musical a cada episodio sim pode gritar!!! “HABEMUS UM HIT!!!” com certeza.

Deixe uma resposta para James Mays Cancelar resposta