Kamikaze Girls (Live action) – Duas garotas que só querem se divertir
Bom dia!
Kamikaze Girls é um filme dirigido por Tetsuya Nakashima, lançado em 2004 no Japão com o nome original Shimotsuma Monogatari, e baseado em livro de mesmo nome escrito por Novala Takemoto. O livro Shimotsuma Monogatari também teve uma adaptação para mangá, desenhado por Yukio Kanesada e publicado na Betsucomi, revista shoujo da Shogakukan, também em 2004, com um volume apenas.
Estrelando Kyoko Fukada como Momoko e Anna Tsuchiya como Ichigo, é uma comédia absurda que responde à pergunta que ninguém fez: “como seria um filme de Tarantino sobre Harajuku (distrito de moda em Tóquio)?”.
Momoko é uma lolita, estética e tribo urbana japonesa de garotas que se vestem com vestidos estilo boneca, cheios de babados e frufrus, laços e adereços. Há vários sub-estilos, e a Momoko em particular gosta de rococó, estilo corte francesa do século 18.
Apesar da ideia de alguém se vestir de uma forma que para a maioria das pessoas nitidamente passaria por fantasia, e fantasia infantil ainda por cima, Momoko é bastante madura (em sua mentalidade e comportamento, não em sabedoria, que costuma ser um adjetivo associado à maturidade). Ela acredita que nasceu na época e lugar errado, que deveria mesmo ter nascido na França e feito parte da corte para poder, você sabe, viver uma vida hedonista, fazendo sexo e se satisfazendo de todas as formas possíveis.
Ou é assim que ela idealiza a antiga França monárquica.
Ichigo é uma yankee, uma delinquente de uma gangue de motoqueiras femininas. Ela, também, se veste e se comporta de uma maneira extremamente peculiar.
De acordo com a personagem que encarna, Ichigo é durona e intrometida, mas não é como se cada vez que ela age como se estivesse ofendida ela esteja realmente ofendida. É apenas a forma como ela aprendeu a agir e acredita que seja a forma certa.
Essa é sua idealização de uma vida independente, de uma personalidade forte.
As duas são, no fundo, garotas solitárias. Não são duas coitadas, não as entenda errado. São fortes, por isso conseguem vestir as máscaras que vestem, e de fato já as usam há tanto tempo que não é mais possível dizer que não sejam seus rostos verdadeiros.
Além de toda a parte visual das duas, há um contraste muito grande na forma como elas falam. De fato, não é sequer preciso entender japonês para perceber que estão falando de formas completamente diferentes.
Toda essa estética carregada, porém, tem razão de ser. A forma serve ao conteúdo. Como eu já adiantei, Momoka e Ichigo no fundo são garotas solitárias. Elas vivem em Shimotsuma, uma cidade pequena, e as duas têm dificuldade em encontrar seu lugar.
Os pais de Momoka são separados. Sua mãe se casou com outro homem, e ao mesmo tempo em que Momoka entende (ela parece menos abalada com isso que seu pai, por exemplo), é claro que não tem como isso não afetar uma criança.
Sempre direta demais e um bocado egoísta, Momoka nunca conseguiu arranjar amigos. Não que tenha se esforçado muito, de todo modo. Em todo caso, a coisa só tenderia a piorar, já que seu pai é um yakuza de baixo escalão que ganhava a vida vendendo produtos de grife falsificados, até o dia que é abordado pelas autoridades e acaba fugindo para a cidadezinha no interior.
Ichigo era uma garota mais normal quando criança, mas se tornou vítima de bullying. A única pessoa que a deu esperança nessa fase sinistra de sua vida foi uma líder de uma gangue de motoqueiras.
Cada qual a seu modo estava fugindo. Momoko fugiu para seu mundo de fantasia, enquanto Ichigo fugiu para a gangue.
Isso foi bom o bastante para elas por muito tempo, mas quando elas se conheceram já estava claro que o estilo de vida de nenhuma delas poderia durar para sempre. E, no entanto, elas foram tão longe nisso que talvez não conseguissem mais escapar, não fosse o fatídico encontro.
Momoko, que já era naturalmente isolada, se tornou completamente isolada. A única coisa que fazia da vida era viver em seu mundo particular e comprar mais e mais roupas e acessórios de lolita. Que custam caro.
Para resolver esse problema, ela passou a vender o que havia sobrado do estoque de falsificações do pai pela internet. Foi assim que conheceu Ichigo, que entrou em contato com ela para comprar uma jaqueta e depois não parou de importunar a lolita.
Ichigo se tornou uma yankee tão perfeita que começara a perder sua habilidade de ter relações normais, com pessoas normais. Até mesmo sua forma de julgar e confiar nas pessoas estava profundamente prejudicada.
Mas, juntas, e sem deixar de ser quem são, Momoko e Ichigo conseguem “aquilo mais” que faltava para elas. Por Ichigo, Momoko não se importa se precisar rasgar e sujar seus preciosos vestidos. Por Momoko, Ichigo não se importa de enfrentar sua gangue inteira.