Bom dia!

No terceiro episódio de Carole & Tuesday, Carole e Tuesday foram mais empurradas de um lado ao outro do que qualquer coisa.

Enquanto isso, o anime mostrou um pouco mais de todos os personagens que acredito serem relevantes e que já apareceram nos dois primeiros episódios.

 

Gus relembrando dos velhos tempos

 

Depois de quase derrubar a porta da casa da Carole à pancadas e enfiar seu carão medonho pela fresta sem ser convidado, Gus baixou o tom nesse episódio. Foi até sensível e considerado. Um pouco.

A ser assim, parece que aquilo foi apenas um caso de excesso de afobação causada por uma longa espera que ele nem tinha mais esperança que um dia fosse terminar. Compreensível – não justificável, apenas compreensível.

Gus se apresentou devidamente para as garotas, disse o que sabe fazer, o que sabe sobre a indústria (hilariantemente pouco, dado o tempo em que está em férias forçadas) e sua história (isso sim ele sabe bastante, Carole e Tuesday é que não sabem muito). Já está fazendo o que lhe parece necessário para que elas se profissionalizem.

Infelizmente, nada deu muito certo ainda, mas é a intenção que conta. E ele não mais as forçou: perguntou se queriam mesmo tentar a sorte. Na “reunião” com Ertegun, fez tudo ao seu alcance para protegê-las e orientá-las.

 

Ertegun faz picadinho das pretensões das protagonistas

 

E o episódio fez parecer que o Ertegun iria triturá-las, não é? Bom, não triturá-las, mas … você sabe. No episódio passado ele foi visto com uma mulher. Nessa, Carole e Tuesday, duas adolescentes lindinhas e inocentes, foram visitá-lo em sua mansão de playboy. O Gus foi barrado na porta pelos seguranças e Ertegun estava vestindo apenas roupão enquanto curtia sua piscina com mais de uma dezena de mulheres.

O DJ apareceu muito pouco no episódio anterior para dizer qualquer coisa com certeza, mas enquanto pôde esse episódio fez o possível para retratá-lo como um vil predador sexual. Mas no final das contas ele é muito mais um narcisista do que um paquerador, e em momento algum sequer cogitou dar em cima das garotas. Menos mal, mas como piada alguns podem achar de mal gosto.

Na verdade, quando ele descobriu o que elas queriam, Ertegun é que cogitou que talvez elas pretendessem usar o corpo para comprá-lo (narcisista!). Sua visão sobre os negócios, porém, embora cruel, é bastante realista, e é importante que elas tenham tido contato com isso logo de cara.

Ele sequer acredita que a música delas possa ser minimamente aceitável, que dirá boa. Mas isso é só parte do problema. Essa parte do discurso do DJ foi mais um conselho do que qualquer outra coisa – um conselho cruel, que deixou Tuesday furiosa e a fez perder o controle.

Mas não é só isso. O fato é que ele investe uma nota preta para ter músicas próprias (produzidas por inteligência artificial, claro). Por quê ele tocaria uma música de outro artista, considerando o quanto gasta e que com suas músicas próprias todo o lucro direto e de imagem vai para ele mesmo? Não faria sentido.

 

 

Se Carole e Tuesday estão bem assessoradas (tanto quanto possível), ainda não sei se o mesmo se pode dizer da Angela. Quero dizer, é claro que ela não está exatamente mal assessorada, mas sua rotina continua torturante e permaneço em cima do muro quanto aos personagens que a cercam.

Dahlia, sua agente, fez um discurso dando a entender que ela está genuinamente preocupada com a Angela, mas ao mesmo tempo o fez sem olhá-la nos olhos e disse com todas as palavras que espera que a garota possa alcançar o seu sonho, não o da jovem cantora. Por acaso Angela tem um sonho igual ou similar, então “serve”.

Tao é um caso ainda mais complicado. Ele legitimamente parece não demonstrar nenhum sentimento, incluindo empatia. Como a Angela disse no episódio anterior e como ele confirmou então escutar com frequência, ele parece uma inteligência artificial: sem emoções.

E é dessa forma que ele está “esculpindo” Angela para que a garota possa cantar sua música. Ele não deseja o mal dela. Ele sequer parece capaz de ser cínico ou sarcástico para manipulá-la. Mas tampouco deseja o bem. Quer apenas um instrumento por meio do qual tocar sua música. Tao olha para Angela e enxerga, sei lá, um saxofone.

Enquanto isso, Angela continua submetida a uma agenda diária de ações promocionais para se expôr como um produto, um objeto. Antes fosse um saxofone, pelo menos é um instrumento musical e música é o que ela quer fazer. Angela está sendo vendida como um pedaço de carne.

 

Spencer não está feliz com a situação e não tem ninguém com quem dividir seu fardo

 

A grande surpresa positiva do episódio é o irmão da Tuesday, Spencer. Bom, já quase foi uma surpresa descobrir que ele é irmão dela. Quero dizer, pela aparência dela e da mãe, acho que já estava óbvio que ele também era da família, mas o anime não tinha revelado isso até agora.

A surpresa positiva é que ele parece não ser apenas um capacho da mãe. Ele faz o que ela manda, mas parece ser mais por falta de opção do que qualquer outra coisa. Ele é oprimido naquela casa, tanto quanto Tuesday provavelmente era. Fica até a sugestão de que ele possa estar preocupado com a irmã.

Claro que a história pode tomar dois caminhos distintos com esse conflito: ou o Spencer ajuda a Tuesday, da forma como puder, ou ele se ressente da irmã por ter fugido enquanto ele ficou para trás, sozinho, sem nunca ter feito o que queria fazer de verdade. Talvez haja todo um arco de conflito entre os irmãos para fazer ele ir de um caminho ao outro. Seria algo que eu gostaria de assistir.

 

Valerie é uma pessoa egoísta e uma péssima mãe

 

Mas Valerie, a mãe dos dois, fica pior a cada episódio que passa. Ela é uma política ambiciosa, capaz de esmagar qualquer um, inclusive a própria família, para ter o que quer. Ela quer ser presidente, então não pode ter nenhum de seus filhos atraindo os holofotes e produzindo notícias negativas.

Ela nem se preocupa em saber como Tuesday está, ou pelo que tem passado. Empurrou toda a responsabilidade disso nas costas de Spencer e é isso aí. Será que ela está bem? Estará passando por necessidades? Talvez Spencer se preocupe com isso, mas ela não.

Valerie só não quer a polícia envolvida. Em toda sua incapacidade de olhar para outro lugar que não o próprio umbigo, nem cogita que Tuesday tenha partido para valer. Tem certeza de que é só um capricho e cedo ou tarde a garota volta por conta própria, mesmo se eles não a encontrarem antes.

A parte mais polêmica de sua caracterização como uma personagem egoísta e gananciosa é, claro, sexual. Se Ertegun é narcisista e se cerca de belas mulheres, Valerie também precisa atender seus desejos carnais. Como política, ela não pode apenas encher uma piscina, precisa ser mais discreta, e discretamente leva um homem que o filho nunca viu para casa.

O problema é que o playboy Ertegun não parece estar ferindo ninguém com suas festas sem fim na piscina, então é mesmo só uma característica dele. Uma que pode ser julgada moralmente e com certeza não é qualquer um que irá aprovar, mas há bastante espaço para interpretação.

Valerie, por outro lado, está claramente ferindo o filho ao fazer isso. A pergunta que Spencer faz sobre quem é aquele homem e a sua expressão quando a mãe vai para o quarto com ele não deixam dúvidas.

E por que isso é problemático? Bom, sendo Valerie solteira, como parece ser, não acredito que deveria ser problema nenhum o que ela faz consensualmente com outras pessoas entre quatro paredes. Ertegun nem precisa de paredes para isso, a piscina fica ao ar livre! Por enquanto estou sendo generoso em minha avaliação sobre Carole & Tuesday, mas esse tipo de “atalho”, “ela faz sexo então ela é uma pessoa ruim”, não me agrada.

 

Carole e Tuesday depois de esperar...

 

Carole e Tuesday em si tiveram pouca agência nesse episódio, para abrir espaço para todos os demais, evidentemente. Mesmo assim, na pequena oportunidade que tiveram apenas para si, protagonizaram mais uma cena incrível, dessa vez criando uma música por impulso na lavanderia.

Essas duas vão longe. O potencial delas é bem maior do que o de um artista de um sucesso só, como foi o caso do maior sucesso já agenciado pelo Gus. As duas juntas simplesmente funcionam – e com ritmo.

.com personagens mais caracterizados o mundo fica mais vivo

No geral, mais um excelente episódio. O aprofundamento da caracterização dos diversos personagens codjuvantes torna o próprio mundo de Carole & Tuesday mais vivo, mais interessante.

Mas há um porém, não há? São vários personagens, divididos em vários núcleos. Não dá para seguir até o fim dando tempo de tela para todos eles a cada episódio. Acho que agora que já sabemos quem são as protagonistas, o que elas querem, como é o mundo que vivem e com quais pessoas estão relacionadas, está na hora da história começar para valer.

 

Ficou ótimo, Tuesday!

 

  1. Olá peoples!!! Um abraço a todos…E não vou tomar muito do tempo de vcs…Só apenas concordando com o “Mexicano” que C&T deve ser uma obra mais apreciada e degustada com o tempo…Não há o porque de apressar as elucubrações…WatanabeSan está sabendo como puxar as cordinhas de gente, como eu, já nos seus 50…Ele sabe que nessa idade não é qualquer cachaça que tem de ser servida, tem de ser uma de boa qualidade (a minha preferência é a de Salinas, MG)…Só deixo registrado aqui a felicidade de encontrar um talento na industria que está sabendo sabiamente envelhecer e quando isso encontra os fundos a felicidade é maior!

    Só para constar a semelhança da Tuesday com a atriz Sissy Spacek não é mera coincidência…

  2. E só para constar nos autos também…Recomendo escutar “What a fool believe” dos Doobie Brothers e compare com a “Holding me now” que fecha os episódios…WatanabeSan sempre fã de “classic rock” yeah!!!

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