Muito além da razão, Tori no Uta é uma experiência sensorial. Com belíssimos toques surrealistas e aberturas para diversas interpretações. O importante aqui é o que você sente e não o que você entende.

Esse OVA está mais para mangá em movimento do que para animação. A arte é fantástica, mas é, basicamente, uma sucessão de imagens estáticas com uma OST maravilhosa de fundo. O conjunto da obra é muito bem harmonizado, tudo flui, tudo está no melhor lugar possível.

 

 

A história é sobre um garoto que, um dia, no lugar de seguir o caminho de sempre para casa, resolve seguir por direções diferentes. Assim, acaba chegando em um local desconhecido, onde uma garota acena para ele. Por conta da chuva, ele entra no local onde ela está, para se abrigar.

No momento da despedida, ela entrega uma pena para ele e são proferidas promessas de um novo encontro.

No outro dia, o garoto segue o mesmo caminho diferente, mas não consegue mais encontrá-la.

Cinquenta anos depois, ele volta para sua cidade natal, para buscar algo há muito perdido.

 

 

Durante todo o OVA existe uma dúvida a respeito do que é sonho e do que é realidade. Mas aqui é surrealismo, o que significa que isso não importa. Deixe a razão de lado e sinta o que é transmitido.

Tori no Uta é uma obra sobre perda, sobre o que se perde no processo de se tornar adulto.

 

 

No Japão, os pais deixam os filhos fazerem o que querem, sem nenhuma repreensão, até eles entrarem na escola (por volta de 6 anos), isso significa que eles podem tacar fogo na casa que nada irá acontecer. Os pais fazem isso porque sabem que, depois que entrar na escola, a vida da pessoa acaba. No sentido de que começam as responsabilidade, as cobranças, as exigências.

Creio ser senso comum o peso que é colocado nos japoneses desde muito novos por bons resultados escolares para que, futuramente, tenham um bom emprego e uma alta posição social. Essa liberdade sem regras da infância é como um respiro antes da tempestade que durará a vida inteira.

Levando essa lógica para o OVA, a garota representa a boa vida pré-escola, a infância, as brincadeiras. E, assim que o menino entra no sistema de ensino e “começa a vida de verdade”, ela some. É o fim da infância e o início das responsabilidades que esmagam qualquer pessoa.

 

 

O tempo passa e, na roda cotidiana da vida, ele esquece dela. Até que, cinquenta anos depois, quando se aposenta, ele quer reencontrar aquilo que foi perdido. Afinal, é só agora, quando velho, depois de ter sido espremido pelas engrenagens, que ele pode ir atrás daquilo que realmente gosta.

E, apesar da cidade natal estar completamente diferente, ele encontra a garota. O que simboliza que, agora, ele tem tempo novamente, ele pode fazer o que quer. Mas ele não é mais o mesmo. A vida já bateu tanto, que a experiência o estragou. O que culmina no ato cruel que ele comete.

 

 

E é bonito ver que, mesmo com tudo isso, ele guardou durante todos esses anos a pena que ela tinha dado. É um resquício de vida, um fragmento de infância, que ainda restou com ele. Um mínimo e frágil objeto, mas que é aquela centelha que impede que ele se perca completamente.

 

 

E é essa centelha que permite que o menino possa, após todo uma vida, ficar ao lado da garota, mesmo que seja do outro lado do Rio. É o ciclo da vida, que termina exatamente onde começou.

 

 

Existem diversas interpretações possíveis para Tori no Uta, por exemplo, a menina pode ser vista como o primeiro amor que não se concretiza. Tudo que acontece pode ser encarado como um sonho ou como realidade.

O que coloquei aqui é apenas a minha interpretação. Comente a sua! Será interessante ver diferentes visões sobre esse animê tão belo.

 

Sayonara. Bye, bye o/

 

 

(〜 ̄▽ ̄)〜 Exploda sua casa antes dos 6 anos.

 

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