Utsukushii Monotachi é um one-shot feito por Tomita Douji, responsável tanto pela escrita quando pela ilustração. Assim como outras histórias, esta procura, através dos seus elementos, expressar e refletir questões ainda muito debatidas em nosso mundo. Trazer um tom de tristeza e dar um tapa na cara na sociedade atual é algo visto em muitas obras, inclusive nesta.

 

 

O enredo se desenvolve com o Faz-tudo, é assim que o protagonista é conhecido. Ele vive escondido, sempre consertando coisas das pessoas em troca de um bocado. Sua necessidade de ficar só é marcada pela visão que a população tem sobre ele. Diferente da sociedade – representada por pessoas altamente belas em seu notável padrão de beleza – o personagem é uma aberração, só à noite ele pode se sentir livre para sair.

Nessa narrativa, os elementos presentes – protagonista, trabalho e sociedade – têm significados críticos e reflexivos. O protagonista é a representação do verdadeiro ser humano, os outros personagens são bonecos que facilmente se quebram. Ele possui um interior, com sangue e órgãos, diferente dos outros. Ele é a referência de minorias da nossa população, que são humilhadas por não apresentar os padrões determinados pelas pessoas.

 

 

O trabalho representa a tentativa de “consertar” a beleza, ou seja, expressa a tentativa da nossa minoria de acabar com estes padrões. A sociedade é o contrário dessa porção menor: só há uma casca, e esta casca é a própria e única beleza apresentada nestas ideias padronizantes. É o único valor mostrado entre os homens, mas quando é quebrada, não há mais nada que contém representatividade, nem no próprio interior.

O personagem secundário é um garoto que precisa consertar seu telescópio. Ele pede ao Faz-tudo, o conhecendo pela primeira vez, que já está no outro dia com o objeto consertado. Este segundo encontro é muito especial, pois o cliente se atenta ao olhos do protagonista, tendo a percepção de que são “lindos como obsidiana”. Isso altera o personagem principal de tal maneira que o desgruda dos sentimentos frios, na qual uma chama acorda o seu coração.

Dessa vez são desenvolvidos 2 elementos: o personagem secundário e os olhos do protagonista. Qual mensagem eles passam? O personagem é a pura representação da autoestima, fazendo o Faz-tudo se sentir um pouco melhor, enxergando algo em si próprio. É aí que aparece mais um clichê nas lições da vida, olhar em si próprio e esquecer as conclusões que o seu redor quer tirar.

O personagem principal é feito por sua profissão, isso é o que dá característica e qualidade à ele. Já seus olhos representam a visão de modo abstrato, que é diferente do resto da população. Estas pessoas não conseguem ter uma percepção clara do que o ser humano tem de melhor, ou seja, do que necessariamente possui importância.

A noite é amiga do Faz-tudo. É a única hora em que ele pode se sentir livre dos pensamentos das outras pessoas. Ele sempre admirava uma estátua, pois achava que o escultor teve grande inspiração para isso, diferente dele. Em uma dessas noites ele acaba se reencontrando com o garoto do telescópio, que caíra da janela de sua casa, quebrando grande parte do seu corpo. O protagonista o leva para casa na tentativa de consertar. Para isso, ele precisou sair no outro dia para comprar peças. Foi sua primeira vez ao sair pela parte da manhã, mas infelizmente ele foi vítima das calúnias das pessoas.

Seu trabalho já estava quase pronto, só faltava olhos para o garoto. Faz-tudo então decide sair pela noite. Ele busca os olhos da estátua que tanto admirava, que tanto achava perfeita, ele pensava que havia passado todo esse tempo para isso, ele viveu para ajudar aquela pessoa, o protagonista criou um laço trivial – ele tinha a percepção de que se tratava de ser uma garota – com o personagem secundário, mesmo não sabendo que se tratava de um menino.

 

 

Toda essa chama que percorria Faz-tudo foi fornecida pela autoestima do outro garoto. Este personagem é a representação da mudança do protagonista, o motor de toda a história tem relação com a busca da aceitação que tantos de nós perseguimos. O mundo está em completo exagero, diante dos nossos olhos há a dificuldade em sentir-se bem consigo mesmo.

 

A estátua, expressividade do belo que transpirava na sociedade, não recebeu nenhum arranhão, já que o Faz-tudo foi brutalmente espancado por policiais. O protagonista já estava cansado de tudo, ele sabia que um dia o seu esconderijo poderia ser descoberto. A parte final do one-shot traz espanto para quem prestou atenção nos detalhes que necessariamente deveriam ser entendidos. O protagonista deu ao seu maior trabalho algo que foi mais admirado: os seus próprios olhos.

 

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