Kimetsu continua bem divertido, mas, principalmente, consistente. E nessa reta final de temporada, o telespectador teve a oportunidade de conhecer uma nova faceta de Zenitsu, a confirmação de que as aparências não devem enganar tanto no caso do Inosuke e um Tanjiro cansado, eu diria até que frágil e sensível, só que obstinado como todo protagonista de battle shonen deve ser, mas os melhores são humanizados de uma forma a facilitar a empatia do público, e me compadeço com o cansaço dele. Só reclamo pela Nezuko mal ter aparecido, porque de resto foi tudo ótimo. E dá-lhe Relâmpago Zenitsu!

Inosuke chegou chegando, mostrando toda sua agressividade e insensibilidade. O que passa longe de conferir ao personagem ares vilanescos, mas, deve levar o público a imaginar como esse personagem ficou assim. Observando seus poderes e seu jeito bruto de ser é certo que vem história por aí. Aposto que uma boa, pois usar uma cabeça de javali como máscara é algo que não se vê por aí todo dia, né?

Inosuke é uma besta que não perdoa nem criança.

Em todo caso, a primeira metade do episódio foi mesmo é do Zenitsu, que esbanjou covardia, mas com uma mudança de comportamento bem cool subverteu a impressão que havia dado até agora. Seria o Zenitsu uma pessoa com dupla personalidade? Não parece ser o caso, parece ser algo mais simples, e mais inconsciente.

Fiquei com a impressão de que sua covardia exacerbada vem da falta de confiança em si, afinal, ele diz que não é capaz de se proteger, fazendo todo um escarcéu para ser protegido, só que não é alguém indefeso, longe disso. Então, ou ele não tem consciência da própria força, ou tem a impressão de que ela é insuficiente para matar um oni.

Sendo esse segundo caso, fica difícil de levar o personagem a sério, ao menos se o background dado a ele não for bom. Para julgar, nos resta esperar o desenrolar da trama. O importante é que a segunda impressão foi mais animadora que a primeira e agora o telespectador pode ainda não gostar da personalidade dele, mas não dizer que é um inútil.

O Inosuke, por outro lado, é um espadachim confiante e que tem uma técnica de respiração própria. Eu só questiono ele estar há três dias naquele local – sem comer ou dormir, só caçando o oni? –, mas tem como justificar isso se ele saiu ou havia algum recurso lá, o que não parecia ser o caso.

Deixando esse detalhe de lado, o personagem esbanja uma intensidade bacana. Será um forte aliado para Tanjiro, o que também deve dar a ele tempo de tela suficiente para que expliquem seu jeito animalesco, e para que ele mude, melhore. Tanto ele quanto Zenitsu são personagens assim, que ainda estão iniciando a sua jornada de desenvolvimento.

Com o Tanjiro também é assim, só que esse já conhecemos melhor, sabemos o que esperar dele e foi o que ele mostrou na luta com o oni do tambor. Amadurecimento e fragilidade, dois elementos em equilíbrio para humanizar ainda mais um protagonista já tão humano.

Só que antes de me voltar para ele e encerrar meu artigo, não poderia ignorar a aparição de Muzan e o fato de Tanjiro estar de frente a um ex-Kizuki. Ainda não é um de fato e não acho que deveria ser, é de se esperar que ele trave mais batalhas antes de enfrentar um, mas aposto que ao menos um até o fim da primeira temporada o Tanjiro vai derrotar.

Seria ótimo fechar um arco narrativo assim. E para ele se aproximar de Muzan, ter como exterminá-lo, dependerá da força bruta, mas também só conseguirá vencer o oni se acumular experiência em batalha e aprofundar seus conhecimentos sobre aquilo que sustém os onis: sangue. Quer seja sangue humano ou de oni.

O oni do tambor quer comer um humano que tenha sangue raro, não é? Um marechi alimentar por vários pode parecer exagero e ser um, mas se focarmos no misticismo atrelado ao sangue, não à toa onis têm poderes mágicos com características especificas atreladas ao sangue, acho que essa fixação por comer um marechi tem um certo sentido e é esse caminho que Tanjiro deve trilhar.

Matar onis poderosos, colher o sangue deles e adquirir conhecimento sobre suas peculiaridades. Cada oni parece distinto entre si, mas quem sabe no sangue não haja uma pista que ajude na empreitada de derrotar Muzan? Na realidade, eu acharei estranho é se não tiver.

Por fim, as cenas finais em que Tanjiro tem que se virar mesmo estando com dor são bem legais porque exploraram duas qualidades do anime.

Primeiro a parte técnica, o cenário em constante movimento que dá uma ideia muita clara de espaço a quem assiste. A produção tem o domínio total e irrestrito da cena de ação, seja quanto a sua localização ou a animação das cenas. Só acho ruim eu não estar acostumado a tamanha qualidade, a tamanho refinamento, porque elogiar a produção já se tornou repetitivo – eu tento me conter, mas não consigo.

Segundo, dos pensamentos do Tanjiro tudo se aproveita. Ele não só analisa a situação com atenção, e faz uma medição instintiva das suas chances de vitória, como também lamenta por sua situação. Tanjiro não é uma rocha que se prova incólume diante das feridas de batalha. Ele sente o peso da luta anterior, tem efeitos colaterais que, por mais que não tenham comprometido o corpo seriamente, influenciaram na maneira que ele encara a situação.

Aqui eu não sei se ele está tentando assustar ou sendo assustado.

E, honestamente, um personagem assim me parece mais verídico, mais palpável, e bacana de se torcer a favor, pois mesmo que tenha um discurso motivacional no fim, antes disso teve uma boa dose de fragilidade ali.

Dá até para dizer que foi um pouco de manha. Isso irmão mais velho de família grande não costuma poder demonstrar mesmo, já que são o porto seguro dos menores, mas sempre tem. Então eu não poderia ficar mais satisfeito com o que vi neste final.

Tanjiro é gente como a gente, apesar de eu ser um irmão mais novo de uma família de dois, não um herói de battle shonen que tem apenas o discurso motivacional, mas não a fraqueza, a fragilidade, até mesmo o medo de perder que ele demonstrou por um instante.

Pode parecer pouco, mas é nos detalhes que belas histórias são construídas, encantando tanto como entretenimento momentâneo, quanto como reflexão. Kimetsu no Yaiba está excelente em ambos os quesitos! Veremos como Tanjiro sairá dessa!

Até o próximo artigo!

Agora Tanjiro está motivado, porque hidratado ele sempre está.

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