Bom dia!

Não consegui publicar o artigo semana passada porque o blog entrou no ritmo normal de temporada e eu, como os demais redatores, estou me adaptando ao calendário.

Sabia que temos um calendário editorial, e que os artigos de cada anime devem sair em dias e horários pré-definidos? No papel é muito bonito, mas na prática ainda não conseguimos seguir isso perfeitamente nunca, então nem nos damos ao trabalho de divulgar o calendário publicamente. Isso só exporia a nossa incompetência 😂

Mas um dia chegamos lá!

Quanto às garotas de Araburu…

 

Momoko logo após se apaixonar por Sugimoto, contando sobre para a Onodera

 

A primeira coisa que quero escrever sobre esse par de episódios é que estou feliz que eles sejam tematicamente semelhantes. Isso facilita o trabalho de analisá-los em um único artigo.

Ambos tiveram muito a ver com palavras e compreensão. Bastante adequado para um anime que se passa em um clube de literatura, e talvez eu deva prestar mais atenção se uma descrição simplista assim não se aplica na verdade ao anime inteiro, em todos os episódios, e estou na verdade sendo apenas raso.

Bem, vou correr o risco por enquanto.

O quarto episódio revolveu ao redor da ideia de livros e sentimentos.

 

Onodera com seus livros se lembrando das palavras da presidente Sonezaki

 

Em dada altura estava Onodera a se lembrar das palavras da presidente Sonezaki em algum momento do passado no clube, quando ela disse que livros permitem que você descubra o nome de sentimentos que você tem.

Grosso modo, Sonezaki descreveu o momento catártico de identificar-se com algo que acontece em um livro quando o lemos.

No momento pelo qual está passando, Onodera reinterpretou sua memória e entendeu que, na verdade, livros não são uma fuga. Antes, ela entendia que um livro leva o leitor para outro mundo, onde ele pode se esquecer de suas preocupações cotidianas. Agora, Onodera entende que um livro é mais como um espelho que reflete o que vai no coração do leitor.

Eu a entendo. Embora livros (e ficção em geral) sejam, sim, uma forma de fuga, o fato é que ao se colocar na obra que se está lendo ou assistindo, ao se investir nela, continuamos sendo nós mesmos e assim carregamos toda a nossa bagagem para dentro dela. Quando ocorre a identificação, a interpretamos exatamente de acordo com ela. Assim, o nosso entendimento de um livro (ou qualquer ficção) efetivamente espelha nossa experiência no mundo real.

Antes disso o tema já havia sido tocado antes. Sugawara conversa com Momoko, e diz a ela que um livro permite que você conheça um sentimento que nunca sentiu antes através de suas palavras. É basicamente o oposto do que a Sonezaki havia dito e a Onodera se lembrou.

E é claro que as duas estão certas.

 

Sugawara e Momoko conversando sobre Onodera e livros e sentimentos

 

Para a Sugawara, isso dá aos livros uma função utilitária. Momoko adorou! Ela poderia ter uma ideia de como sua amiga se sente mesmo nunca tendo sentido aquilo! Ela só não contava que em breve ela despertaria seus próprios sentimentos antes de precisar da ajuda de um livro…

Fechando o tema “livros e sentimentos”, a presidente Sonezaki, a mesma que proferiu as palavras tão importantes para a Onodera, recebeu a confissão de amor de Amagi. Isso já estava na cara, não é? Achei que o anime fosse enrolar, mas foi surpreendentemente rápido. Fiquei feliz com esse desenvolvimento.

A Sonezaki ficou mas nem tanto. Os livros são seu santuário, ela tem dificuldade em lidar com pessoas, em conversar, socializar com elas, então escutar uma declaração sair da boca do Amagi a deixou sobrecarregada demais para pensar direito e meio que disse sem pensar para ele escrever um relatório de 50 páginas explicando porque ele a acha fofa e gosta dela.

 

Sonezaki perde o controle e pede para Amagi escrever um impossível relatório de 50 páginas para o dia seguinte

 

É um pedido absurdo, que só poderia ter saído da cabeça de quem se sente mais confortável com livros do que com pessoas. Parece que ela sofreu (ou talvez ainda sofra) alguma forma de bullying, ainda que não pareça do mais pesado. Zombam dela por sua aparência, e como ela é tímida, nunca reage, estimulando ainda mais os bullies.

Uma nota sobre bullying: eu escrevi que não é um bullying “pesado”, mas a experiência subjetiva de cada um é única. Ao escrever isso, estou naturalmente comparando em escala com outras formas de bullying mais violentos ou implacáveis, e há animes inclusive que mostram isso. Mas, para a pessoa sofrendo o bullying, não importa de que tipo e intensidade seja, sempre pode parecer a pior coisa do mundo. Não menospreze nenhum caso de bullying ou assédio.

Retornando, a Sonezaki fez esse pedido absurdo ao Amagi e eu nem acreditei quando ela demonstrou frustração por ele não ter aparecido com o relatório logo pela manhã. Quero dizer, são 50 páginas! De um dia para o outro? Eu escrevo assiduamente aqui no blog, mas não conseguiria escrever 50 páginas de um dia para o outro.

Mais inacreditável ainda é que o Amagi realmente fez o relatório! Bom, mais ou menos. Como todo adolescente apaixonado, ele provavelmente achou que conseguiria escrever 50 páginas e começou a fazê-lo. Em sua idade, eu faria o mesmo. Como não sabia o que escrever, enrolou no começo, o que a Sonezaki logo percebeu.

Em dado momento ele deve ter se dado conta de que não conseguiria escrever 50 páginas, então só saiu escrevendo “fofa” repetidas vezes, preenchendo várias páginas assim. Eu acho que eu também faria o mesmo.

Isso é bonito? É romântico? É nada disso, é apenas preguiçoso. Mas funcionou com a Sonezaki justamente porque ela tem um problema sério de auto-estima. A repetição ad nauseam do elogio a fez sentir-se melhor. Amagi deu um nome ao que ele sentia pela Sonezaki e colocou isso em palavras, e essas palavras, lidas pela Sonezaki, a permitiram sentir isso.

No fim de seu relatório, Amagi pede para sair com Sonezaki. A resposta viria apenas no próximo episódio!

 

Sonezaki fica constrangida e feliz ao ler o pedido para sair de Amagi ao final de seu "relatório"

 

Antes da Sonezaki responder se aceitaria sair ou não com Amagi, porém, é Momoko quem sai com Sugimoto. No caso deles foi só um encontro, ainda não há nada rolando entre os dois – ou será que há?

O encontro dos dois serviu para dar o tom e o tema do episódio cinco: palavras causam mal-entendidos ou revelam coisas que quem as profere preferiria esconder.

O Sugimoto talvez estivesse nervoso, eu não sei, mas sei que isso não é desculpa de todo modo. Seu encontro com a Momoko, e mesmo o pós-encontro, foi uma sequência sem fim de clichês reais de coisas que homens fazem achando que estão abafando, quando na verdade é o contrário.

E eu confesso, dessa vez meio envergonhado, que em sua situação eu talvez cometesse algumas das mesmas indelicadezas. Eu sei disso, porque já fiz até pior.

 

O encontro mal começou (eles apenas almoçaram) e a Momoko já está ficando incomodada com o Sugimoto

 

O outro “encontro” do episódio, esse não planejado mas pressagiado ao final do episódio anterior, foi entre Sugawara e Izumi.

Nele, Sugawara explica para o Izumi porque o que ele disse para a Onodera a deixou magoada. Ao fazer isso, Sugawara começou a debelar o mal-entendido que aquelas palavras causaram. Mas o encontro em si e o que aconteceu depois criaram mais outros tantos, então por enquanto o saldo é negativo.

Compreensivelmente, Onodera não estava à vontade para conversar com nenhum dos dois depois. Será que havia sido um encontro de verdade? A Sugawara disse que queria fazer sexo, afinal. E o Izumi não tinha interesse por nenhuma garota em particular, até onde ela sabia.

Onodera estava preparada para aceitar que sua amiga e seu amigo de infância, que ela ama, tivessem feito sexo casual. Bom, ela acha que poderia aceitar, na verdade, mas preparada de verdade não estava, por isso evitou o quanto pôde conversar com eles.

 

Onodera morta de preocupação sobre o "encontro" da Sugawara com o Izumi, mas sem coragem de encarar qualquer um deles

 

Mas eles falaram com ela mesmo assim. Um de cada vez. E o que um disse do outro a deixou terrivelmente abalada: Sugawara disse que o Izumi é estranho, e Izumi disse que a Sugawara é estranha.

Aconteceu algo estranho entre eles? Mas espere, Onodera acreditava que Izumi cederia para a Sugawara apenas por ela ser muito bonita, e que a Sugawara por sua vez só estaria interessada no sexo em si. Agora um vem falar do outro nesses termos?

Será que está rolando algo aí? Onodera se pergunta. Se Onodera não estava preparada nem para o sexo casual, para isso muito menos.

E, no entanto, até que se prove o contrário é tudo coisa da cabeça dela, apenas mais um mal-entendido causado pela forma como ela entendeu as palavras que os outros disseram.

Ao final do episódio, a resposta da Sonezaki para o Amagi: sim, ela aceita sair com ele. A forma espalhafatosa como ele reage a constrange, mas ao contrário de Momoka, que ficou perturbada pelas palavras de Sugimoto, Sonezaki ficou feliz.

 

Sonezaki fica feliz com a reação exagerada de Amagi - apesar de exagerada

 

Bom, ser escandaloso é diferente de ficar tentando se engrandecer ou se meter na vida de outra pessoa achando que a entende muito, como o Sugimoto fez com a Momoko, então não são realmente situações comparáveis nesse sentido. É só que a Sonezaki é tão tímida que talvez a reação do Amagi pudesse ter um resultado parecido – mas não teve.

Nos dois episódios, a que mais destoou das demais foi a Hongou – justamente a escritora.

Mas faz sentido. Ela está frustrada por não conseguir estrear e isso a levou a uma espécie de relacionamento clandestino com seu professor. A situação dela é peculiar.

Será que o professor Yamagishi eventualmente irá ceder aos avanços da Hongou? E será que a Hongou eventualmente irá desenvolver sentimentos genuínos pelo professor?

 

Professor Yamagishi e Hongou, aparentemente não fazendo nada demais

 

É uma relação cheia de questões morais pesadas, mas que empalidecem quando comparadas ao que Sugawara já passou.

O diretor de sua antiga trupe de teatro é, sem sombra de dúvidas, sem margem de manobra, um pedófilo. E pedófilo mesmo, do tipo que gosta de corpos infantis. Caso Hongou e Yamagishi comecem uma relação de fato, ele não seria pedófilo. Ela é menor de idade mas já está no auge de adolescência, seu corpo já é quase adulto.

Saegusa gosta mesmo é dos corpos infantis. Izumi notou a parafilia do homem conforme Sugawara o descrevia, sem que ela precisasse usar a palavra. E ela não negou, bem pelo contrário, confirmou que, sim, Saegusa é um pedófilo.

Felizmente, exceto por uma ocasião asquerosa em um parque em que ele esfregou o pé da menina em seu rosto, parece que ele nunca mais a tocou. Sugawara garante isso. E pelo menos o Saegusa de suas memórias considera isso muito importante: ele não pode tocar! O momento em que atravessa a linha, uma menina se torna uma mulher, e ele não gosta de mulheres.

 

Sugawara e Saegusa, quando a garota ainda era uma menina na trupe de teatro

 

Uma nota sobre pedofilia: pedofilia, nesse sentido, é um transtorno. O pedófilo não é capaz de evitar sentir-se sexualmente atraído por crianças. Isso não significa que ele irá fazer sexo com crianças. Ninguém consegue controlar o que o excita, mas todos são capazes de escolher se, quando e com quem ter relações sexuais. Mais ainda, nem todo abusador que machuca crianças forçando-as em atos sexuais é um pedófilo clínico. As razões que levam uma pessoa ao crime são diferentes das razões que levam à excitação sexual. O diretor Saegusa parece ser um pedófilo clínico que, até prova em contrário, não comete nenhum crime. Ele se convenceu que deve se contentar apenas em vê-las, o que contudo já é moralmente condenável.

Retornando, apesar do Saegusa ser claramente um pedófilo, ou talvez exatamente por isso, parece que Sugawara em algum momento acabou se sentindo atraída por ele. Não acho que tenha se apaixonado, parece mais ter sido o fascínio exercido por alguém que ela admirava.

E quanto a uma possível relação entre Sugawara e Izumi, conforme Onodera teme? Eu não descarto por completo a possibilidade. Se fosse vida real, nesse momento eu acharia que ela está mais próxima do Izumi do que a Onodera. Mas a amiga de infância ainda tem vantagem, e considerando então que é uma ficção, duvido que o anime vá por esse caminho.

 

Sugawara e Izumi se dão surpreendentemente bem

 

Se apaixonar não é tão fácil.

Quero dizer, nessa idade até é. A Momoko que o diga! Ela se apaixonou por um garoto que mal conhecia e que reencontrou agora depois de muito tempo, e só precisou de uma única conversa.

Mas esse sentimento já está correndo o risco de ir embora tão rápido quanto veio após o primeiro encontro dos dois.

Quanto ao casal principal, Onodera e Izumi, o que será que será, hein? Agora ele sabe não apenas no quê errou com a amiga antes, como sabe também que ela está afim dele.

E ele parece afim dela.

Mas surgiu outro mal-entendido no meio do caminho então os dois vão continuar sofrendo por mais um tempo.

E eu vou continuar assistindo e cobrindo cada episódio da evolução deles. Até a próxima!

 

As coisas continuam estranhas entre Onodera e Izumi

 

Comentários