Bom dia!

Eu achei que esse episódio não fosse existir. Puxa. Quero dizer, ele é o primeiro capítulo do mangá e tudo o que ele faz o anime já fez melhor.

Ok, quase tudo.

Tendo em mente que Vinland Saga começou a ser publicado em uma revista shounen, e esse episódio é referente apenas ao seu primeiro capítulo, a estreia, a estranheza é compreensível. No mangá.

Sem dúvida a coisa que mais chama atenção é o general francês que mais parece um sapo.

 

Senhor Sapo, um nobre francês

 

Personagens com anatomia distorcida são comuns em muitos battle shounens, mas nenhum havia aparecido até agora em Vinland Saga. Se o Senhor Sapo tivesse sido nosso primeiro contato com o anime não seria assim tão estranho.

Ao invés, tivemos seis episódios inteiros com dezenas de personagens anatomicamente normais ou quase normais. Os mais estranhos talvez sejam Thors e os Jomsvikings, porque são muito grandes, e aquele viking orelhudo do bando do Askeladd. Mas nesses casos está-se falando apenas de exageros, eles não parecem fora da realidade possível.

Já o Senhor Sapo é uma bola com metade da altura de um ser humano normal. Nessa bola, há quatro apêndices, correspondentes aos braços e pernas, e se parasse por aí ele poderia ser só um personagem muito gordo, mas no topo da bola que é o Senhor Sapo há uma protuberância que emula uma cabeça. Nessa cabeça sem pescoço, uma bocarra se abre de lado a lado, capaz de engolir inteira a cabeça de qualquer outro personagem.

Não ajuda que ele esteja gritando metade do tempo, com o bocão bem aberto.

Há alguns outros exageros e esquisitices no começo de Vinland Saga, alguns já vimos, outros ainda certamente veremos já que, apesar de ter mexido na ordem cronológica dos fatos, o anime está sendo bastante fiel ao mangá.

A maioria porém tem a ver com fazer uma cena parecer mais legal ou mais emocionante, e nesse episódio os melhores exemplos disso são os vikings correndo com os barcos nos ombros e o Thorfinn cortando vários soldados vestindo cota de malha.

 

Thorfinn cortando malha de aço como se fosse manteiga

Até parece que dá pra fazer isso…

 

Os barcos vikings de guerra, os dracar, pesavam tipicamente qualquer coisa entre 8 e 20 toneladas. Os vikings de fato carregaram seus navios por terra várias vezes, mas nunca da forma vista nesse episódio. É fisicamente impossível.

Quanto à cota de malha, ela é um tipo de armadura especialmente boa contra corte. É quase impossível cortar com uma espada, não importa quão poderosa ela seja – e é de fato burro tentar fazer isso. A lâmina vai raspar na armadura e o atacante ficará aberto para contra-ataque. Se o Thorfinn tivesse usado movimento de perfuração, aí a história poderia ter sido outra.

Esse tipo de exagero Vinland Saga vai continuar tendo, mas as esquisitices anatômicas apenas para fins de comédia irão diminuir até desaparecer, fique tranquilo caso isso tenha te preocupado.

Para quem tem olhos e conhecimentos históricos afiados, porém, uma coisa chamou mais atenção do que o Senhor Sapo: as bandeiras do Império Romano do Oriente!

 

Bandeiras bizantinas

???

 

O que elas estariam fazendo na França? Séculos antes de terem sido adotadas? Em todo caso, esse parece ser um erro adicionado pelo anime. Li e reli o primeiro capítulo algumas vezes procurando essas bandeiras e elas simplesmente não estão lá. O Wit Studio queria algo balançando ao vento e fez uma má escolha.

Nesse episódio vemos vikings sendo vikings: guerreiros mercenários oportunistas.

Como já adiantei acima, os barcos vikings podiam ser carregados via terra, e isso era feito rotineiramente. Pulando de rio em rio, carregando os barcos por trechos de terra, vikings chegaram até o Mar Negro, por exemplo.

Ao contrário do anime, isso não era feito sobre os ombros dos marinheiros.

Não era uma tática nova, embora os vikings talvez a tenham utilizado mais do que qualquer outro povo.

Duas ocasiões em que barcos foram carregados por terra antes incluem a travessia do Estreito de Corinto por Nicetas Orifa, almirante romano do oriente, em 873, para derrotar sarracenos cretenses, e a travessia para invadir o Corno de Ouro de Constantinopla pelos avaros, que junto com os sassânidas sitiaram a capital do Império do Oriente em 626. O Império Otomano realizaria o mesmo movimento, no mesmo lugar, séculos mais tarde, tomando a cidade e acabando com um império de mil anos.

Apesar dos erros, Vinland Saga se esforça para fazer uma boa retratação dos povos da época, seus modos, costumes, e principalmente suas armas e armaduras.

Uma ficção histórica de primeira não poderia se contentar com o “soldado medieval genérico” que tantas outras obras possuem. Os franceses (na época chamados de francos) usam como cor primária o azul.

Vestem capacetes cônicos e cotas de malha. Suas armas mais notáveis são o seu modelo de lança e a poderosa besta.

 

Soldados franceses do forte

 

Já os ingleses, vistos apenas de relance nesse episódio mas já retratados nos anteriores, preferem o branco e o vermelho, e são mestres no arco longo.

Eu confesso não saber quão bem representados todos eles estão porque é algo que foge ao meu conhecimento comum. Eu faço algumas pesquisas (pesquisei sobre a bandeira com a águia de duas cabeças, por exemplo), mas não dá para pesquisar cada detalhe. Caso conheça melhor do que eu, por favor complemente esse artigo com seu comentário.

Além do cenário, o episódio apresenta os personagens principais e o relacionamento entre eles: Thorfinn e Askeladd.

Askeladd é o chefe de um bando de mercenários de cerca de 100 homens do qual Thorfinn também é parte, mas o moleque o detesta, e claramente só está ali pela oportunidade eventual de desafiar o outro em duelo.

O chefe não recusa, mas não se faz de fácil também. Com efeito, Askeladd manipula Thorfinn, usando seu senso de vingança justa para seu próprio benefício em suas atividades mercenárias e piratas. Os dois sabem disso muito bem.

Thorfinn é rabugento e Askeladd é fanfarrão.

 

Thorfinn e Askeladd

 

Tudo o que já sabíamos, graças aos seis episódios anteriores.

No próximo episódio veremos mais um duelo entre Thorfinn e Askeladd, o primeiro desde que o garoto cresceu e se tornou essa máquina viking de guerra, e é isso aí.

Narrativamente, esse episódio não cumpriu função nenhuma que já não tivesse sido cumprida pelos anteriores. Mas ver os barcos voando baixo pela terra foi divertido, suponho.

 

Thorfinn invadindo a fortaleza

Thorfinn fez cosplay de Zoro porque ele gosta de One Piece

 

  1. Era desnecessário animar o primeiro capítulo do mangá, pessoalmente dessa parte só gostei da cena de batalha e da representação de um cerco medieval. Tem duas coisas que me estão a incomodar no anime, o Thorfinn no anime não usa cota de malha, no mangá é notável que ele usa cota de malha no tronco e braços. A outra coisa que me incomoda são as adagas do Thorfinn no anime, a grossura e comprimento das mesmas é exagerado, tem momentos que essas adagas mais parecem gládios (no mangá as adagas do Thorfinn são muito bem feitas). A parte do cerco à fortaleza dos francos foi muito bem feita no anime, poderia ter sido melhor se o ariete tivesse tido uma cabeça de carneiro como no mangá, mas aceito o ariete mais tradicional mostrado no anime. Os soldados que defendiam o forte, historicamente estão perfeitos, a cota de malha que eles usavam é historicamente perfeita, os capacetes cónicos também e a túnica azul foi a cereja no topo do bolo. As armas usadas pelos francos no episódio é a receita vencedora do exército francês durante séculos, lanças e bestas. Tenho que frisar que o modelo de besta mostrado no episódio é dos primórdios, se fossem bestas de aço, o grupo do Askellad não teria tido hipótese. A parte do Thorfinn a cortar a cabeça do general defensor do forte não gostei, nunca na vida adagas conseguiriam cortar cota de malha naquela maneira. O exército atacante também estava muito bom, gostei bastante dos escudos que os soldados usavam, as suas cotas de malha e gostei também dos escudos defensivos no terreno. Como sempre, mais um excelente artigo Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá, Kondou, tudo certinho?

      Pois é, também achei um desperdício esse episódio. Ele só serviu para dar mais um pouco de fanservice sobre o cenário. A cena dos barcos é uma das mais icônicas de Vinland Saga, apesar de tudo.

      E se você diz essas coisas todas sobre a caracterização, quem sou eu para discordar! Só comento que, quanto à caracterização dos vikings em geral, bando do Askeladd e Thorfinn muito em particular, provavelmente eles destoam justamente por serem os personagens principais. É uma escolha criativa compreensiva, que explica até mesmo as adagas nada práticas do Thorfinn, que mais parecem espadas curtas.

      Quanto ao Thorfinn cortar cota de malha, bem, eu mesmo já malhei bastante o episódio por isso. E ele poderia ter apenas cortado braços ou perfurado alguns dos soldados, não é? Seria verossímil dessa forma. O primeiro soldado ele corta-lhe os dedos, o que faz todo o sentido. Mas preferiram que ele saísse cortando buchos, mesmo eles estando muito bem protegidos contra golpes cortantes. Não se pode ter tudo perfeito também.

      Mas sobre perfeição … por que você sequer comentou sobre a bandeira do Império Romano do Oriente? É um disparate tão grande que ficou até sem palavras? 😂

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

  2. Está tudo certo comigo, certo demais, já que tive tempo de comentar este artigo no próprio dia (fiquei a dever os artigos anteriores, mas um dia coloco tudo em dia).

    No que toca às bandeiras do Império Romano do Oriente, quando estava a comentar estava com pressa que tais bandeiras me fugiram do raciocínio. Quando vi o episódio, fiquei tão ofuscado com a representação do cerco à fortaleza dos francos que não prestei atenção a todos os detalhes em volta. Isso até ler o teu artigo e tu com toda a razão apontaste o erro bizarro e grave das bandeiras (no mangá não me lembro de ter visto bandeiras e mesmo que houvesse, como ambos os lados eram franceses, o mais certo era haver bandeiras com o símbolo da flor-de-lis no caso dos defensores e como os atacantes usavam tropas mercenárias, seria normal haver bandeiras com fundo branco e com a imagem de um leão ou cruz).

    Quanto à caracterização do Askeladd e do Thorfinn, concordo com o que escreveste, ainda assim não entendo o porquê da staff fazer com rigor o Askeladd, quando ele vai para a frente de batalha ele leva uma armadura romana tardia tal como acontece no mangá, mas no Thorfinn a staff teve preguiça de colocar cota de malha nele,

    Ainda estou a pensar nas bandeiras do Império Romano do Oriente, será que a staff não quis fazer uma referência meio fora do contexto à guarda Varengue (ainda assim não faz sentido, tais bandeiras estarem num exército franco).

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