Kageki Shoujo!! (Opera Girl!) é um anime do estúdio Pine Jam (Gamers!, Gleipnir, Just Because!) que adapta o mangá de Kumiko Saiki. Devido a problemas internos atrasamos os artigos desse anime, mas esse de primeiras impressões cobre os dois primeiros episódios (de caráter mais introdutório), já o resto será coberto pelo Mexicano-senpai (cobre ele!!!). A produção é da temporada de verão de 2021 e possui a seguinte sinopse:

 

“Fundada na era Taisho, Kouka é uma escola que forma jovens moças para atuar em peças de kageki, uma espécie de teatro tradicional com canto e dança que conta com o elenco apenas de mulheres (mas tem personagens homens também). Sarasa Watanabe é neta de um ex-ator de kabuki (outra forma de teatro tradicional japonesa, mas essa composta apenas por homens) e presta exame para a Kouka. Ela quer fazer o papel de Lady Oscar (a protagonista do clássico Rosa de Versailles), mas, ao lado de Ai, uma ex-idol, vai enfrentar muitos desafios até alcançar seu objetivo.”

 

Aqui não vou explicar em detalhes as semelhanças e diferenças entre as duas formas de teatro tradicionais japonesas que o anime aborda, mas quanto ao kabuki, indico um anime bem legalzinho e didático, Kabukibu!, agora sobre o kageki, vou falar dos primeiros episódios de Kageki Shoujo!!, um anime para o qual eu já tinha uma boa expectativa, mas que foram superadas principalmente devido a sua protagonista.

Nós acompanhamos a história pelos olhos de Ai Narata, uma ex-idol que tem androfobia (medo de homem) e é aposentada da indústria devido a um incidente com um fã. Ela se aproveita de sua experiência no show bussiness para entrar na Kouka e se ver livre de homens por um bom tempo, o problema é que entrar com essa motivação meia boca não basta e logo entendemos isso ao conhecer aquela que é seu total oposto, Sarasa Watanabe.

Sarana é altona, super alegre e despojada, o tipo de garota que fala o que pensa e não tem medo de se arriscar, chegando até a ser um pouco irritante em alguns momentos. A Ai é o posto, mas muito pela maneira quase “fugida” que vem parar no mundo do kageki, e isso sem ter conhecimento dessa cultura ou demonstrar grande interesse por ela. Por outro lado, a Sarasa é nata de ex-ator de kabuki, mas quer fazer kageki.

O pior é que eu entendo, mulheres não atuam em peças de kabuki, e o contrário vale para o kageki. Como ela aparece no túmulo da vó e há até uma cena em que a heroína, ainda criança, declara seu sonho a ela, isso me faz pensar que a avó dela deve ter sido atriz de kageki e que é por influência dela que a garota decidiu se tornar atriz. O problema é que ela chega com os dois pés na porta, ela quer ser a estrela principal.

Ter um sonho grande não é incomum, declará-lo em alto e bom som pode soar burrice em um ambiente muito competitivo e potencialmente tóxico, mas eu diria que a Sarasa não é burra não, ela é confiante. Aliás, é justamente por isso que a loirinha vai cativando a cada cena em que aparece. Eu sei, a personalidade dela é um pouco “despojada” demais, mas, honestamente, fui convencido de que ela pode romper barreiras.

No primeiro episódio a questão que flagela o sonho dela tem a ver com uma superstição envolvendo a cerejeira da escola, não é algo assim tão palpável, mas um terror psicológico como há culturalmente em escolas japonesas. Já no segundo episódio fica claro que seu biótipo não é bem o comum para o tipo de papel que ela quer desempenhar, o de protagonista, a estrela da peça. Ainda assim, ela nem pensa em desistir.

Por outro lado, temos a Ai, uma personagem que chega a escola sem objetivos e é o completo oposto da Sarasa, provendo um contraste não só de personalidades, mas também de histórias de vida e objetivos. A Ai não tem nada, apenas quer passar batido, mas ela acaba se tornando colega de quarto e “amiga” da Sarasa, o tipo de relação quase unilateral que a gente sabe que vai se transformar em uma grande amizade. Precisa.

Aliás, tem uma cena no final da abertura que dá a entender que a Ai muda (imagino que seja ela de cabelo longo no palco ao lado da Sarasa) em comparação ao que é nesse começo de anime, enquanto a Sarasa é a mesma. Isso nos leva a concluir que uma vai mudar a outra, que as experiências que vivenciaram e o laço que criaram devem empurrar a Ai a descobrir algo que goste e queira fazer no meio do kageki.

Essa construção narrativa acaba aguçando a curiosidade do telespectador em saber como essa transformação vai se dar, além de que, repito, a Sarasa não vai ter vida fácil para alcançar seu objetivo. Sendo assim, acaba sendo proveitoso acompanhar o anime se você gostou de uma ou da outra. Se gostou das duas então, não tem nem conversa. De coração, eu quero ver até onde as atrizes (pelo menos as principais) vão chegar.

Porque há outras garotas que tiveram certo destaque, principalmente no segundo episódio, e, evidentemente, terão algum desenvolvimento na trama. O mais legal é que cada uma tem características próprias e meio que todas elas se complementam, criando um grupo variado e bem interessante pelo que pode prover de abordagens diferentes dentro do tema por trás da trama, do kageki enquanto um teatro bem particular.

Enfim, se o primeiro episódio é bem basicão na introdução, posso pontuar seu trecho final, a cena em que o militar testa a postura da Sarasa e isso abre caminho para vermos traços de kabuki na garota. Ela aprendeu coisas com o avô, inclusive tem um amigo de infância que parece ser ator de kabuki, então deve agregar elementos dessa arte ao que aprender de kageki. Isso a tornará uma atriz exótica? Provavelmente.

Mas se a gente pensar bem, a Ai também tem isso, ela era uma idol, a diferença é que cantar, dançar e atuar em um palco musical não é o mesmo que fazer isso no teatro. Transportar o talento para essas coisas ela deve transportar, mas o quanto disso ela vai conseguir aproveitar e o quanto ela vai ter que se reinventar para se tornar uma atriz de valor? São questões realmente bacanas nas quais pensar, que aguçam o interesse do telespectador.

Além disso, que dificuldades elas enfrentarão em suas jornadas pessoais? Uma é animada demais, outra de menos. Elas vão se encaixar por seus tipos físicos ou isso será mais uma barreira? Além disso, como em 13 episódios chegaremos em um ponto satisfatório no qual a Sarasa tenha alcançado seu objetivo e a Ai ao menos tenha encontrado um? Não sei, acho difícil essa história fechar em 13 episódios, mas quem sabe, né?

Certeza certeza mesmo só tenho do que foi exposto de estrutural quanto a escola, como o sistema de “irmandade” entre veteranas e novatas e as novas características de personalidade, além de diferentes circunstâncias frente aos seus objetivos, que essas veteranas agregam a trama. Foi bem legal ver uma personagem que identifica os papeis em que cada garota pode se encaixar e como a amiga mais próxima dela vai meio que na contramão disso.

Como se trata de ficção as duas são responsáveis justamente pelas protagonistas e acho que o encaixe de personalidade aqui foi muito bom, já que aquela responsável pela Ai deve ajudá-la a se descobrir enquanto atriz de kageki, enquanto aquela que orienta a Sarasa é severa e simpática o suficiente para não minar os sonhos da heroína, mas orientá-la e apoiá-la da melhor maneira possível a fim de dar vazão aos seus anseios.

A Sarasa é apaixonante, todo mundo que cruza caminho com ela se impressiona de alguma forma, só a Ai mesmo que ainda está em uma bad danada e não consegue se abrir para a amizade que gradativamente vai se formando entre as duas. A princípio achei a Ai chata, mas vendo o segundo episódio percebi que não é bem assim, é só que ela não quer se envolver, quer se preservar, mas se queria foi parar no lugar errado…

No segundo episódio fica ainda mais evidente que não tem como não viver o kageki intensamente, tanto isso é verdade que praticamente todas as novas alunas têm experiências prévias com alguma forma de expressão artística. De outra forma, é difícil imaginar que passassem pela peneira pesada. A Sarasa mesmo, ela pode ter entrado para movimentar a turma comemorativa, mas ela tem características interessantes.

O mesmo vale para as outras, não à toa elas se apresentam e mesmo esse segundo episódio parece mais uma extensão do primeiro, algo que vem para complementar a compreensão básica que o público precisa ter do que é o kageki, de como se faz, das tradições que preserva e de como devem ser aquelas que dão vida a essa forma de arte. Aliás, nesse aspecto temático acho Kageki mais promissor que Kabukibu!, e você?

Não vou me alongar na comparação, é só que animes baseados em clubes escolares que tentam trazer algo diferente ao ambiente escolar não são o mesmo que animes em que tudo gira em torno do tema. Kageki tem um potencial genuíno de cativar tanto por suas personagens, como pelo teatro em si, mesmo que ainda não tenha se aprofundado em muita coisa, pois demonstrou um potencial digno de atenção.

E nisso a cereja do bolo foi o tour que as primeiranistas fizeram, que desembocou na entrada da Sarasa ao palco e a sorte que deu de ter tido a luz de um refletor jogada na sua face, impactando a todos que ali estavam. Por que? Porque presença de palco é algo muito particular, muito subjetivo, que depende do olhar de quem observa de perto, mas claro, também é algo que a platéia nota, que se prova verdade na prática.

A Sarasa tem um jeitinho de estrela da companhia, mas ainda é um diamante bruto, uma joia a ser devidamente lapidada a fim de prover uma experiência autêntica por meio de sua atuação que, imagino eu, vai incorporar elementos de kabuki e se aproveitará de sua significativa estatura para se sobrepor aos outros talentos. É serio, não tem como não achar interessante a forma como a trama se constrói em seus mínimos detalhes.

Por fim, eu nem preciso dizer mais nada, né? Se você gostou de Kabukibu! esse anime com certeza é para você, mas digo mais, se você gosta de animes que explorem elementos culturais exclusivamente japoneses ou só de uma boa história com personagens cativantes, pode ter certeza de que Kageki Shoujo!! é para você. É uma pena eu não cobrir o anime, mas confio em meu senpai para dar a obra o tratamento que ela merece.

Até a próxima!

Extras

P.S.: Outro anime que trata de kageki é Shoujo Kageki Revue Starlight, mas como não assisti achei melhor não citar no artigo.

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