Remake Our Life! (Bokutachi no Remake) é um anime do estúdio feel. (Oregairu, Hinamatsuri, Tsuki ga Kirei, Island) que adapta a light novel escrita por Nachi Kio e ilustrada por Eretto. A produção é da temporada de verão de 2021 e possui a seguinte sinopse:

 

“Hashiba Kyouya é um desenvolvedor de jogos de 28 anos com um histórico de projetos fracassados. De volta para casa e sem perspectivas na vida, em um belo dia ele acorda de um cochilo e retorna dez anos no tempo, para a época em que não entrou na faculdade de artes como queria. Tendo uma segunda chance para refazer sua vida, conseguirá Kyouya recuperar o tempo perdido?”

 

Quando se volta no tempo para salvar uma amiga que morreu (Steins;Gate) ou depois de ter reencarnado em outro mundo sem querer (Re: Zero) não vejo problemas em usar esse recurso narrativo, mas quando se trata do mundo real, sem magia ou vidas humanas em jogo, eu fico pensando se abordar a questão dessa maneira é realmente bom. O prota não poderia só ter tentado entrar no curso de artes de novo?

Essa forma de escapismo não incentiva ninguém a dar uma guinada na vida atrás de algo diferente, pelo contrário, é mais fácil que leve ao conformismo com uma vida infeliz, fadada no máximo ao consumo de entretenimento com esse tipo de proposta. É por isso que gosto tanto de ReLIFE porque o protagonista até “volta no tempo”, mas não vive para sempre uma outra vida, ele vive uma experiência para voltar aos eixos.

Não é a proposta desse anime, a tendência aqui é que o prota reviva os último dez anos da sua vida, mas dessa vez em outro curso universitário e com uma nova construção de carreira, tudo para se aproximar dos artistas que admira, a tal da geração “platina”. Platina para mim era o que os jogadores de LOL conseguiam com um certo nível de experiência no jogo (não à toa dei uma zoada com isso no título), mas aqui é outra coisa.

Em todo caso, o importante é que em seus pouco mais de 50 minutos (a estreia só teve um episódio, mas com duração dobrada) Remake acaba entregando um enredo bacana, um prota equilibrado e situações condizentes com a proposta (ainda que quase todas extremamente previsíveis e clichês). Tirando o sonho estranho do prota após chegar a república, em nenhum momento o anime sequer chega perto de me surpreender.

Isso é um problema? Sim. Por outro lado, também é um acerto, ao menos por a ideia ser fazer o básico para convencer o público a acompanhar a jornada de um personagem que em si é meio “quadradão” mesmo. Até por isso o anime investe uns minutos na segunda experiência de trabalho fracassada do Kyouya, para que víssemos como ele estava desesperado e como não o “restava” alternativa a não ser voltar no tempo.

Guinada sobre a qual, aliás, não há muito o que comentar, pois rola do nada e o prota sequer busca descobrir o motivo ou como isso aconteceu. Tudo acontece em um passe de mágica, mas com uma naturalidade absurda, como se ele tivesse apenas tirado um cochilo e os últimos dez anos que fossem o sonho. O máximo que posso destacar desse trecho é o que vem em sua deixa, que é a abertura maravilhosa cantada pela PoPiPa.

A Poppin’ Party é a banda principal da franquia BanG Dream! e nesse anime canta a abertura, Koko kara Saki wa Uta ni Naranai. O encerramento, Kanousei, já é da Argonavis, a banda principal da ala masculina da franquia. Sim, a Bushiroad (empresa por trás de BanG Dream!, Vanguard, entre outras franquias de sucesso) é uma das financiadoras dessa brincadeira e é por isso que vemos bandas dela cantando aqui.

Até curti as músicas, mas acho que essas decisões comerciais e não artísticas só corroboram com a minha impressão de que mais do que discutir a vida, as escolhas e o tempo perdido, Remake é antes de mais nada um produto comercial pronto para atender ao anseio das massas por obras que deem vazão as suas frustrações, muitas dessas alimentadas por essa indústria que não parece preocupada com propostas mais pé no chão.

Ainda assim, repito, não achei o anime ruim, isso mesmo com as cenas clichês mais bobas, como a da garota de pijama dormindo ao lado do prota ou a revelação de que ela é a maior inspiração de nosso herói. Remake acaba não surpreendendo em praticamente nada mesmo, mas eu não vejo como se isso fosse exatamente necessário nessa estreia, pois o conceito por si só, de voltar dez anos no tempo, prendeu meu interesse.

Não sei se prendeu o seu, talvez seja só eu que goste demais de histórias com esses elementos… Aliás, me vejo um pouco no lugar do prota, a diferença é que não vou dormir pedindo por uma mudança radical de vida para recuperar o tempo que perdi, tento fazer isso na vida real, com a noção de que não vou conseguir andar lado a lado com meus ídolos ou algo assim, mas posso pelo menos viver fazendo algo que me satisfaça.

A última questão que me incomodou nessa estreia foi essa perspectiva de que alguém que volta dez anos no tempo se preocupa mais em refazer sua vida do que, por exemplo, evitar uma queda de avião ou que pessoas fiquem desabrigadas por conta de um terremoto (o cara mora no Japão, né). Inclusive, tem uma cena dele falando com o rapaz com o qual faz amizade em que ele quase deixa escapar esse “conhecimento”.

Me incomoda um pouco como os protas de histórias de anime e afins costumam ser egoístas. Não diria que ele deveria se tornar um herói que evitasse todas as catástrofes do mundo ou algo assim, mas ele poderia fazer mais que usar esse conhecimento apenas a seu favor, concorda? Ao mesmo tempo, saber de coisas que acontecem dez anos no futuro também é interessante pelo quanto ele pode “ajudar” a si e a outros com isso.

Mas isso ainda em uma perspectiva que gira em torno dele, não em um sentido mais amplo. Isso me leva a outra coisa que curti nesse episódio, a forma como a Shinoaki foi usada. A princípio ela é usada para fanservice e clichê bobo, mas ao final do episódio a melhor cena só ocorre por causa dele, e em uma situação tratada com maturidade por parte de ambos, não só pelos pontos de vista, mas pela naturalidade da conversa.

É normal que um adulto decente pense em fazer mais, em fazer melhor, o que for, assim como é legal ver alguém talentosa demonstrar respeito a quem tem qualidades que não as dela. Se ao Kyouya falta um talento soberbo, sobra a ele a maturidade de quem já falhou não só uma, mas duas vezes e não quer fracassar a terceira. Sendo assim, é de se esperar que ele use essa frustração como motivação para mudar sua vida.

Eu sei que foi extremamente clichê ela ser a artista que ele mais admira, mas não dava para esperar nada de muito diferente, né? Pelo menos a trama foi sensível o suficiente para investir no conflito interno do protagonista no momento em que essa questão é abordada em sala de aula, trazendo essa metalinguagem para dentro da trama, até porque roteiro é necessário em anime ou jogo e ele ainda está estudando o básico, né.

Quero ver mais disso, assim como gostaria de ver um prota mais interessante sem carecer de clichês para tanto. pois eu gostei do Kyouya, mas é inegável o quanto ele é um personagem plano, quase uma folha em branco. Isso é algo positivo pelo que ele terá agregado a si ao longo da jornada, mas negativo pelo quão sem graça ele é. Tenha paciência com ele, não vai demorar dez anos até essa história engrenar (se engrenar, claro).

Até a próxima!

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