Quando o anime de Aguu foi anunciado ele chamou minha atenção não só por se tratar da adaptação de um manhua – como se chamam os “mangás” chineses – produzida pelo estúdio japonês Deen – o mesmo de Reikenzan, uma das obras que abriu alas para a “invasão dos animes chineses” no Japão –, mas por sua premissa incomum: uma verdadeira caçada aos gênios artificiais. Com a proposta visual de chafurdar na obscuridade tal qual as suas bruxas, essa estreia apresenta os personagens principais que nortearão a trama, explica o que é Aguu e, por meio dele, liga o sobrenatural a sordidez humana.

Antes de mais nada, só queria deixar registrado que achei a abertura um show à parte, digna de bis!

Voltando à análise, o que seria Aguu senão o sequestro e uso daquilo que faz as pessoas geniais? Há os óculos Aguu de última geração – óculos 3D com “poderes especiais” – que permitem que qualquer humano veja essa “energia”, mas o ritual pelo qual um Aguu é criado foi o que realmente me fez ficar interessado pela prática. É tipo feitiçaria avançada, só que ela não dá o talento diretamente à pessoa, mas os “magos” roubam de outra para entregar a um terceiro. O custo disso deve ser elevadíssimo, e acredito que não seja só do ponto de vista financeiro, afinal, se tem magia nesse mundo, por que não se aproveitar do cliente a fim de viabilizar a realização de vários outros rituais igualmente grotescos?

É claro que isso só é possível se o ritual não foi orquestrado por quem possui o Aguu, o que acredito ser o caso da amiga da protagonista, mas isso é algo que deve ser melhor explicado posteriormente.

Por ora, o que importa é que a Ai descobre que a Machi tem três Aguus, o que justifica o seu sucesso como bailarina. Aliás, esqueci de comentar o que achei das personagens principais, Ai e Machi. Uma é um pouco frustrada por se considerar medíocre – apesar de não deixar isso consumi-la –, a outra é a prima ballerina da companhia na qual as duas trabalham, o perfeito exemplo de um “gênio nato”, ou seria, já que todo esse talento ela tomou para si – se duvidar a Ai dança melhor que a real Machi.

Confesso que gostei da Ai, mas foi o conceito base da trama o que mais aguçou a minha curiosidade, porque a obra pode seguir por vários caminhos a fim de explorar essa premissa da melhor maneira possível. É claro que é importante trabalhar bem os personagens, mas me pareceu fácil supor que, por exemplo, a Ai e a Machi vão ficar em um jogo de “gato e rato” no qual a heroína tenta descobrir o que levou a amiga a cometer um ato tão bárbaro por querer encontrar uma explicação plausível – que muito provavelmente nem existe – para o que ela fez, assim abrandando a culpa que ela possui.

Achei interessante a Ai também ser alguém medíocre e se incomodar com isso, o que pode ser um indício de que ela acabará por se embriagar com a possibilidade de um talento real, ainda que ele não seja genuíno. A protagonista ser boazinha o tempo todo e em nenhum momento ficar balançada pelo mal não é muito divertido, então torço para que explorem a possibilidade dela “mudar de lado”.

Quanto aos outros dois personagens, o velho e seu neto, não tenho muito o que comentar, além de que eles são uma conexão pratica e viável para introduzir a Ai a esse mundo escabroso e fazê-la agir dentro dele. Se eles têm um interesse escuso nisso tudo ou são “justiceiros” mesmo, só os próximos episódios podem responder, mas é certo que são peças importantes para a construção desse mundo.

A título de curiosidade, a música que começa a tocar por volta dos 7 minutos é a abertura de Hitori no Shita: The Outcast 2 – você pode conferir as primeiras impressões do anime aqui –, obra que é da mesma produtora de Aguu. Agora não lembro se Hitori no Shita fazia alguma referência a Aguu, mas se fizer em uma possível terceira temporada vou poder considerar isso uma troca de divulgação, né?

Enfim, essa não foi uma estreia ruim, serviu apenas para apresentar conceito e personagens, o que não é nenhum demérito, mas não aponta de forma mais clara se a trama será desenvolvida de maneira que salte aos olhos ou os faça sangrar. Ficarei contente se ela progredir de maneira a me fazer ficar grudado com os olhos na tela para ver algo que não tenha apenas o apelo visual adequado à proposta, mas também um bom roteiro, assim como méritos em diversos outros quesitos, quer os produtores sejam abençoados por espíritos guardiões ou amaldiçoados por Aguus cheios de rancor…

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