Bom dia!

Dizer que o protagonista de um battle shounen salvou o dia não deveria ser grande coisa, mas no caso do Eren é sim. Puxe pela memória: quantas vezes o Eren de fato salvou o dia? Como todo protagonista do gênero, ele é superpoderoso, carismático, por motivos explicáveis e inexplicáveis as pessoas acabam atraídas por ele, e mesmo assim na maior parte do tempo é ele quem está sendo salvo.

A parte importante do enredo da segunda temporada foi salvar o Eren. Só para ele acabar capturado de novo agora no começo da terceira temporada e precisar ser salvo mais uma vez.

Ainda assim, cada vez que ele ferra tudo e precisa da ajuda dos outros pra se livrar de alguma enrascada ele termina um pouco mais forte e consegue, para variar, salvar o dia também.

Final da segunda temporada em questão: de alguma forma, conseguiram salvar o Eren, mas a batalha que se seguiu contra os titãs já havia passado do ponto do desespero. Eles estavam perdendo, estavam morrendo. Até a Mikasa já havia sido nocauteada, nem mesmo escapar só com o Eren parecia mais possível. Daí ele despertou o poder de comando e salvou todo mundo. Agora, ao final desse arco, o Eren precisou ser salvo mais uma vez mas a caverna em que se encontram está desmoronando. Parece que todos vão morrer, nem mesmo o Eren Titã poderia sobreviver. Mas ele viu um frasco escrito “blindado” que havia voado para fora da maleta de Rod Reiss, a maleta com a seringa de titanização do cara que sabe tudo sobre titãs, e não teve dúvida: glup glup aquele elixir e é tudo ou nada! Foi tudo. Deu certo e Eren salvou o dia.

Mas parece que desde o episódio anterior ele já havia percebido que ele “salvar o dia” é uma exceção, e não a regra. Justo ele, que tanto quer derrotar os titãs (ou quem quer que seja o verdadeiro inimigo da humanidade, isso está ficando cada vez mais nebuloso com o passar do tempo), é no mais das vezes apenas um enorme prêmio cobiçado por todos – e uma causa de calamidades por onde quer que passe por causa disso. Aprender que até mesmo seu poder recém desperto está na verdade sendo usado apenas pela metade, porque por alguma razão só funciona por completo com herdeiros legítimos da família Reiss, foi o golpe final em sua determinação. Não apenas ele estava fracassando em ser útil e muitos estavam morrendo apenas por causa da disputa pelo poder que ele possui, como ele sequer é capaz de usar esse poder em sua plenitude, um poder que pode efetivamente salvar a humanidade mas que só ele, que não é capaz de usá-lo, possui. Um poder desses para ele é um desperdício.

Ao menos na cabeça dele. Por isso o sempre emotivo e impulsivo Eren se tornou um bebê chorão nesses dois últimos episódios. Rod Reiss teve sucesso em convencer o garoto de que ele era, de certa forma, a causa de todos os males. Não por decisão dele, não porque ele quis, é lógico, mas objetivamente a culpa ainda era dele. Não existe ninguém capaz de ser mais severo com você do que você mesmo. Mesmo já fora da caverna, em segurança (por enquanto!), Eren continuava determinado a morrer para salvar a todos. E é agora que quem gosta desse tipo de comparação pode dizer: Eren acha que virou Jesus e quer morrer para nos salvar e redimir todos os pecados da humanidade. Eu não vou defender isso, mas fique com a ideia aí para pensar.

E disso nem mesmo Mikasa pode salvar o Eren. Se ele quiser morrer porque está convencido de que esse é o melhor a se fazer, ela irá deixar que ele morra. Se necessário, ela vai até mesmo ajudá-lo a morrer. Porque ela gosta de tudo sobre o Eren, inclusive e principalmente a sua determinação. Mikasa não vai ficar feliz, mas vai guiá-lo até a morte se esse for o desejo de Eren. Historia aprendeu a ser mais egoísta com Ymir e pensa bem diferente. Fora do mundo dos grandes ideais, ela questiona a tudo. Se existe uma pequena chance de que as coisas não sejam exatamente como o previsto, se existe uma apenas uma pequena chance de que sejam piores do que parecem, é nisso que ela vai apostar. Porque durante a maior parte da sua vida foi sempre assim mesmo. Ela tentou fazer diferente com seu pai agora e mais uma vez a verdade era a pior hipótese.

Eren quer salvar a humanidade, mas a humanidade a qual ele se refere é um conceito, um ideal. Ele é do tipo que mataria quantas pessoas fosse necessário para salvar “a humanidade”. Bom, não tenho tanta certeza, na verdade, porque exceto na batalha contra o Reiner e contra a Annie, ele nunca lutou contra humanos que eu me lembre. E nos dois casos eles estavam transformados em titãs e o Eren os via como traidores. Mas aposto que ele mataria quantos “traidores” fosse necessário, independente da forma como se apresentassem. Compare-o com o Erwin, que também é um soldado exemplar e meio pancada da cabeça e que também carrega um fardo de culpa desde criança. Historia não quer salvar ninguém, exceto todas as pessoas que genuinamente precisem ser salvas. Ela não luta por ideais, mas por si mesma. Ela teria deixado Ymir matá-la, se sua amiga quisesse, apesar da traição aparente e inexplicada até o fim. Historia luta por pessoas reais, não pelo conceito abstrato de “humanidade”. É por isso que ela nasceu para ser uma rainha e o Eren nasceu para ser um soldado.