Os anos 80 viram não apenas a consolidação e a explosão de popularidade do gênero mecha, como também o surgimento e a consolidação de diretores, animadores, roteiristas e estúdios que ajudaram a desenvolver ainda mais a animação japonesa daquela década. As gigantescas taxas de crescimento econômico naquele período (referido de forma jocosa, porém nostálgica, como “A Era da Bolha“) e o surgimento de um novo mercado audiovisual com a introdução e com a popularização do videocassete criaram as condições perfeitas para que ideias e talentos florescessem de forma constante. Bem-vindos ao sexto episódio de Entre no maldito robô.

A esta altura do campeonato, ou melhor, da temporada, o nome Yoshiyuki Tomino dispensa apresentações. Após finalmente ter conquistado seu lugar nos corações infantojuvenis (e também de alguns tantos adultos) com Gundam, Tomino recebeu carta branca da Sunrise para criar o que bem entendesse. Em 1980, chegou aos lares japoneses um dos mechas mais controversos e mais influentes do meio. Estamos falando de Space Runaway Ideon. Um grupo de pesquisadores e arqueólogos do planeta Solo descobre três veículos em meio a ruínas de uma antiga civilização. Sem saber, eles são seguidos por membros de uma raça beligerante alienígena chamada Buff Clan que almeja possuir os equipamentos recuperados pelos pesquisadores. Quando esses alienígenas resolvem atacar o acampamento dos arqueólogos, um grupo de crianças decide entrar nos veículos, fazendo com que eles sejam ativados e acabem se combinando num gigantesco robô chamado Ideon.

A princípio, Ideon parece ser um passo atrás para Tomino, que vinha do conceito inovador de Real Robot de Gundam e agora criara uma série com características de Super Robot. No entanto, em muitos aspectos, Ideon é uma obra muito mais niilista, cínica e desesperançosa que Gundam e outras séries dirigidas e/ou escritas por Tomino. Sua baixa popularidade fez com que fosse cancelada no episódio 39, mas o fervor entre os fãs foi suficiente para que dois filmes, A Contact e Be Invoked, fossem produzidos e lançados nos cinemas japonesas. Ao contrário da trilogia de Gundam, esses filmes possuem muitas cenas inéditas, inclusive oferecendo um final completo e remodelado no lugar da apressada conclusão televisiva. A maneira como Tomino tratou os personagens da série fez com que ele recebesse um nada lisonjeiro título que não será revelado aqui para não entregar o destino de Ideon.

Enquanto Tomino e a Sunrise continuavam a criar séries tanto dentro quanto fora do gênero mecha, uma verdadeira revolução acontecia no mercado audiovisual nipônico. Em 1975, a Sony lançou o Betamax, um formato de fita de vídeo voltado para o mercado final ao invés do pouco alcance dos aparelhos que vieram anteriormente, caros e de difícil manuseio e manutenção. Alguns anos depois, a JVC lançaria um novo formato de vídeo chamado VHS. Apesar de outras empresas terem lançado diversas alternativas ao público, VHS e Betamax se tornaram as escolhas dominantes durante o começo dos anos 80 (eventualmente o VHS triunfou mundialmente, embora os videocassetes Betamax continuassem a ser produzidos até 2002 e as fitas até 2015(!) no Japão). Com a decadência do cinema japonês e as restrições de horário e conteúdo das estações de TV da época (não havia TV a cabo no país e exibições fora dos horários convencionais eram raríssimas), não demorou para que os produtores de conteúdo percebessem as possibilidades abertas pelo novo formato.

Em 1983 chegou às locadoras japonesas Dallos, o primeiro OVA (Original Video Animation, ou Animação Original para Vídeo em tradução livre). Dirigido por Mamoru Oshii (Tenshi no Tamago, Patlabor, Ghost In The Shell), era uma história sobre colonos humanos na Lua entrando em conflito com o governo terrestre. Embora seus méritos artísticos sejam bastante discutíveis, é inegável que se trata de um lançamento pioneiro que mostrou a viabilidade do mercado. E logo os robôs para vídeo começaram a aparecer.

Em 1982, mais precisamente no dia 15 de junho de 1982, foi fundada a Anime International Company, a AIC. Embora tenha produzido várias de sucesso para TV como Tenchi Muyo, nos seus primeiros anos o estúdio se concentrou em OVAs com vários mechas em destaque, dentre eles aquele que considero um dos mais importantes lançamentos da década, Megazone 23. Dividida em quatro partes lançadas entre 1985 e 1989, Megazone, a princípio, parece ser uma história do tipo “garoto encontra garota”, mas vai aos poucos mostrando uma trama ousada (com boas doses de violência e cenas de sexo que dificilmente seriam exibidas numa série não hentai) que questiona se o mundo que nós conhecemos é, de fato, o mundo real. Tentando não revelar muito sobre a história, posso dizer que há excelentes sequências animadas, ação, conspiração e muita música pop de primeira. Com vários lançamentos do gênero mecha nos anos 1980 e adiante, o AIC receberá uma coluna só pra ele em momento oportuno.

E por hoje é só, semana que vem continuaremos a falar de mais nomes importantes para o desenvolvimento do gênero na sua década de glória. Até a próxima!

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