Asobi Asobase – ep 2 – Passatempeiras no reino do exagero
A opening de Asobi Asobase anuncia um slice of life do tipo cute anime girls, mas a ending manda um metal nervoso dos bons. Porém, como no meio dessa mixórdia, do aparente contrassenso, há os contents – conteúdos (os episódios são divididos em mini capítulos) –, entende-se logo que essa “esquizofrenia” faz parte do repertório de uma série em que três garotas do ensino médio preenchem o seu cotidiano com passatempos e assuntos típicos da idade, só que a criatividade e a agressividade delas estão um pouco além do necessário ou razoável. E, em seu segundo episódio, Asobi Asobase demonstra que realmente “de perto, ninguém é normal” e que o exagero indubitavelmente pode caracterizar o cotidiano e os assuntos típicos da idade delas. E é dessa combinação que o anime extrai o seu humor. Com louvor… e altas risadas.
O primeiro esquete nos apresenta a presidente do conselho estudantil, uma garota tímida, socialmente inábil, que sonha com uma oportunidade de brilhar. A vitória na eleição não proporciona o reconhecimento esperado e ela se sente solitária na sala do conselho. Quando Kasumi, Olivia e Hanako aparecem para legitimar o Clube dos Passatempeiros ou registrá-lo como ciclo (já que há apenas três pessoas, o que inviabiliza a autorização para funcionamento do clube), o que já valeria 10 mil ienes como recurso (e isso é o que motiva Hanako), a presidente se vê obrigada a rejeitar, já que as atividades do clube são bastante obscuras ou absurdas: de busca da popularidade a estudos da língua inglesa, chegando a justificativa de simplesmente passar tempo. Para dar uma chance às garotas, a presidente propõe uma disputa de Reversi (um jogo de tabuleiro para dois jogadores). Com a derrota, resta esperar por uma nova oportunidade para oficializar o clube.
É óbvio que as garotas ainda não estão entrosadas no discurso. Uma preparação prévia ajudaria no convencimento. Mas o que já se faz perceptível, é que a vontade de permanecer juntas supera a definição do que o clube é. Como é uma comédia que tem no absurdo criativo o seu alicerce, esse mote pode ser estendido por mais alguns episódios. Até porque as personalidades díspares contribuem para que desencontros e mal-entendidos surjam.
No mini capítulo com a presidente, destaca-se o recurso das expressões faciais distorcidas, principalmente com Kasumi, que é extremamente intimidadora quando tenta ser persuasiva. Pode-se apontar ainda a cena do discurso da vice-presidente (que acaba por eleger a atual presidente), com seu tom ameaçador e semblante de vilã de filme de terror – Sadako, de O Chamado (versão original japonesa), presente! O polêmico design de personagens é justamente o que sustenta a comédia física ao qual se atreve Asobi Asobase. Sem contar que piadas como “o rosto dela parece um quadro de Dali”, resultariam em fracasso, caso a sua arte seguisse a linha “garotas fofas fazendo coisas fofas”.
O lado nerd de Hanako é reforçado em seu amor por jogos de cartas colecionáveis. E, no mesmo segmento, enfim, Kasumi descobre que a disciplina de Inglês não é o forte de Olivia. Como a mentira tem pernas curtas (e os equívocos também), a verdade em um momento seria revelado. Com medo de que Kasumi a rejeitasse, Olivia não pode revelar que nunca havia vivido nos Estados Unidos. Mas tudo acaba bem quando termina bem. E a tensão entre Olivia e Kasumi sobre as aulas de inglês dura até o ponto necessário para não se tornar repetitiva e sem efeito. Agora, é aguardar por um novo imbróglio, que pode ser a vingança de Hanako contra Olivia pelo tapa no rosto, ocorrido no primeiro episódio. De qualquer modo, estar no clube já é motivo de prazer para as garotas. E é realmente importante para Kasumi, como se o seu abraço emocionado em Olivia confirma.
O esquete em que elas discutem sobre a beleza e a relevância da maquiagem para as meninas é o mais engraçado do episódio. Desde os argumentos de Olivia para convencer Hanako de que usar maquiagem (que é proibida na escola) para uma estudante do ensino médio é um modo de evitar possíveis vexames quando adulta até a desastrosa tentativa das amigas em maquiar Hanako, que culmina no engano da professora, que julga se tratar de uma agressão de Olivia e Kasumi à garota, tudo funciona nessa sequência. No mais, o fato de Hanako ser impressionável rende ótimas situações de humor.
O último mini capítulo traz Hanako desafiando o clube de tênis (o seu ex) para uma partida, na qual envolve as duas outras integrantes do clube dos Passatempeiros. A professora de tênis está desesperada pela volta de Hanako – que tem potencial para ser uma grande campeã –, que se afastou do esporte justamente por ele não a tornar popular. Por outro lado, as estudantes-tenistas mal jogam e só pensam em festas (perdem de propósito para evitar a transpiração produzida nos confrontos), já que elas verdadeiramente são populares, o que irrita em demasia Hanako. Ao mesmo tempo em que ela odeia as garotas populares, quer entrar nesse seleto grupo. Com sua hagoita (pá de madeira), adornada com a figura das personagens de seu jogo de cartas favoritos, Hanako arrasta suas amigas para o centro de seu momento constrangedor. Afinal, isso é a amizade. Nas glórias e nos atos vergonhosos, deve-se prevalecer a união.
Asobi Asobase é um slice of life que não tem medo de caras horripilantes, ou melhor, compraz-se com elas. A comédia tem um excelente ritmo, o seu humor não é ligeiro, concentrando-se nos maneirismos cotidianos de três garotas “fofas”. Para isso, a personalidade das estudantes (com os seus pensamentos), as reações faciais e dos corpos e o design de som confluem para que a série resulte mordaz e turbulenta.
O episódio 2 consegue equilibrar a comédia com a apresentação de alguns dos caracteres psicológicos das garotas. Asobi Asobase mantém-se divertido e abre espaço para mais momentos de provocação, falta de tato social e rostos assustadores. De perto, ninguém é normal.