Em sua reta final, Chio-chan no Tsuugakuro entrega um episódio engraçado, mas morno. As piadas dos segmentos não alcançam seu potencial, jogando com elementos poucos originais, nos quais incorpora algumas referências, porém sem o brilho do absurdo de seus melhores momentos.

O primeiro esquete mostra Chio-chan deixando-se seduzir pela oportunidade de estar acima da linha do mediano. Como não estuda para uma prova, já que, mais uma vez, passa uma madrugada entretida com jogos online, a garota apela por intervenção divina e, em companhia de Manana, visita um templo. Para surpresa dela, “mestre” Kushitori, o sem-teto treinador de Kabaddi, é quem aparece, apresentando-se como capaz de ajudar Chio e discursando sobre como as pessoas avaliam as garotas não pelo seu conhecimento, mas pela sua beleza. Kushitori, no passado, teve sucesso no mundo dos negócios. É uma defesa de tese que serve à comédia que o segmento quer explorar (ainda que soe antiquado) e aos pontos que quer atingir, ao revelar o quanto Chio é impressionável (apesar de inteligente) e compra ideias esquisitas para fugir de dificuldades, e Manana aproveita cada oportunidade para provocar a amiga. O melhor do programa permanece sendo a união Chio-Manana, com seus afetos e embates.

Aí vem o desespero… em vez de deuses, a ajuda questionável de um “mestre” mequetrefe.

Com o “mestre” cuidando dos cabelos de Chio-chan, com todos os tipos de peruca, e Manana responsável por sua maquiagem, descobre-se que o encanto da jovem está em seus óculos, que ela tem um rosto comum. Com a transformação de Chio surgem algumas piadas interessantes, com as perucas e maquiagem caminhando para o desastre. Há referências também, como a Jojo’s Bizarre Adventure e a atriz Marilyn Monroe.

Esse não é um rosto sem-graça!

O melhor momento é quando os “estilistas” colocam em Chio-chan uma peruca de gueixa, e ela – sem ter visto o resultado – começa a se sentir confiante a ponto de fazer um pole dancing, com direito à iluminação de boate. O que há de hilário na cena é como alia épocas – coque Shimada, típico das gueixas – e uniforme escolar – e contrasta sagrado, já que eles estão em um santuário, e profano, com uma dança sensual. Na cena, outra vez, o lado atlético de Chio é destacado (ela aprende a dançar vendo uma cena passada em um bar erótico, cenário de um jogo online). A frustração (e espanto) de Kushitori e Manana se opõe a empolgação da garota, que, após um giro mais alucinado no poste, perde a peruca, voltando a ter a aparência de sempre.

A multitalentosa Chio-chan: pagando de dançarina de pole dancing.

No geral, o esquete é até divertido, porém refém de uma premissa pouco criativa. Além disso, é questionável a participação de Kushitori. A grande questão é: como montar um esquete tendo a presença de um molestador – que já pagou pelo crime – e extrair disso um efeito cômico? O problema é que as sentenças de Chio-chan no Tsuugakuro ao seu personagem são a perda de bens materiais, já que Kushitori é um sem teto, e a de prestígio em sua profissão. Problemático pois o fato de a série proporcionar a um homem com fetiche por estudantes do ensino médio justamente aquilo que ele deseja, que deveria ter superado, é desculpado pela miséria que o abateu. Ele é um sujeito feliz por estar novamente próximo de jovens mulheres. Asobi Asobase é mais feliz com a sua estranheza e elementos supostamente contestáveis, haja visto que se salienta sempre o que há de patético e ridículo nas personagens. Como defende o historiador Elias Thomé Saliba, “o humor é um índice de como as sociedades se representam”. E como os modos de percepção de mundo se alteram com o tempo, a comédia os acompanha.

No segundo segmento, Andou faz de tudo para chamar a atenção de Chio-chan, por quem tem um interesse romântico. Manana percebe os truques do rapaz para impressionar a jovem, que vão desde atirar um jornal com precisão na caixa de correio até cuidar de um gato, coincidentemente George, o felino do quinto episódio.

Andou se posiciona em todos os locais que são trajetos de Chio-chan para chegar à escola. Os recursos dos quais lança mão têm a ver com as predileções da estudante, então, Andou se desdobra para mostrar-se um homem de várias qualidades: atlético, ousado, bad boy – fumando, já que a garota tem uma queda por personagens fumantes, pois ressaltam seu lado perigoso. Assistindo o esforço ensaiado de Andou, Manana começa a ficar com ciúmes e pensa em sabotar a operação do rapaz, mas como Chio-chan não parece perceber, ela espera até saber o próximo passo.

Andou em mais uma das tentativas de impressionar Chio-chan. Até começa bem, mas…

Um dos melhores momentos do segmento é quando recuperam um dos estilos criados para Chio no episódio anterior. No delírio de Manana, ao imaginar o futuro da amiga e de Andou como um casal, o ex delinquente é um homem de sucesso e Chio uma esposa grã-fina cafona, que andam de conversível, trocando de carro regularmente. Essa integração da comicidade de um esquete no outro é uma grande sacada e funciona bem ao estado de espírito de Manana.

A imaginação de Manana esboça o futuro de Chio: um pesadelo do tipo gente endinheirada sem noção.

O desfecho da segunda parte é péssimo para Andou, já que, para ele, Chio é uma fã incondicional de BL. O rapaz convence um kouhai seu a participar da encenação de um momento Boy Lover’s, no entanto, nada sai como imaginado. As amigas consideram que Andou apenas seguia para encontrar o namorado. Chio chega a cogitar a possibilidade de Andou estar a fim dela, mas sua suspeita é desfeita pela cena que presencia. A vitoriosa do equívoco cometido por Andou é Manana, aliviada pela orientação sexual de Andou (o rapaz terá que correr atrás do prejuízo para desmanchar o mal-entendido). No final, Chio-chan no Tsuugakuro flerta com o yaoi e o yuri – com Manana acenando sua paixão por Chio-chan (algo que uma fala ou uma postura da garota deixa transparecer em alguns dos episódios anteriores).

Andou erra feio sobre as preferências de Chio. Mas recebe uma “meia-confissão” de seu kouhai.

O episódio 9 gira em torno de beleza e amor, porém falta o exagero que chega a um nível de loucura recompensador. Ambos os segmentos lidam com situações nem tão inspiradas e as tratam de maneira comum. É um capítulo divertido, mas que não chega a entusiasmar. A dinâmica Chio e Manana é o que o sustenta, com a adição de anedotas bem-sucedidas aqui e acolá. Agora é saber como Chio-chan no Tsuugakuro fará para retornar ao trilho da comédia imaginativa, que não teme ir muito além do normal para conceber seu humor, mas mantendo em perspectiva um olhar mais crítico para o cotidiano.

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