Olivia é o centro das atenções no 9º episódio, ainda que não seja a estrela máxima de todos os segmentos. Asobi Asobase caminha em terreno arenoso neste capítulo, já que temos androide que se parece com uma boneca inflável e um lolicon em cena. Mas o mérito da série é saber o que há de ridículo nos personagens (utilizado por dramaturgos como Aristófanes, desde a Grécia Antiga) e usar isso em seu favor, deixando perceptível o patético atrelado ao comportamento deles e o embaraço que provocam, principalmente por intermédio das reações enfáticas ou constrangidas daqueles com quem contracenam, sem perder o rumo da comédia. Em uma loucura crescente, as mentiras de Olivia a assombram e o seu excêntrico irmão aparece para provar a Hanako que a imaginação pode ser algo realmente frustrante. Um episódio impagável, com momentos sublimes de vergonha alheia.

O primeiro esquete traz Olivia em apuros na aula de inglês por causa da mentira de ser uma aluna transferida do exterior. Todas ainda acreditam que ela não domina o japonês e seja fluente na língua estrangeira. Isso tem tornado a sua vida escolar um inferno. Ao pedir ajuda a Hanako, encontra a menina pouco disposta a prestar qualquer auxílio. Porém, mais tarde, Hanako decide colaborar e escreve um bilhete espalhando o boato de que Olivia já está acostumada ao idioma japonês, falando-o com segurança.

O episódio gira em torno de Olivia, que se vê em encrenca por causa de sua brincadeira com os idiomas. Na verdade, uma mentira que se torna um fardo.

Só que, quando o recado chega a Kasumi, ela modifica o conteúdo da mensagem, em um misto de preservação da imagem da amiga e interesse pessoal, já que, com Olivia popular, ela corre o risco de ficar no clube apenas com o tédio de Hanako. A situação se complica quando a professora intercepta o papel e Olivia nega que seja fluente em japainglês e lincos, uma linguagem (artificial) cósmica descrita pelo matemático holandês Hans Freudenthal. O final do segmento é um tanto abrupto com uma reunião no clube e as três sem consciência do desencontro de informações que conduziu o plano ao fracasso (as criações de Kasumi para Olivia parecer uma princesa (?)).

Kasumi complicando a situação, mas sendo criativa: japainglês e lincos, idiomas a se aprender no futuro.

O esquete revela a apresentação desastrosa de Olivia à classe, sabotada pelo seu próprio nervosismo, o que gera o equívoco sobre o seu modo de falar (de ser uma estrangeira), e a primeira conversa com Hanako, que, na época, mostra-se tímida, ansiosa e antissocial. A personalidade de cada uma marca fortemente a sequência, mostrando como certas atitudes acabam se tornando prejudiciais a quem age motivada somente por interesse pessoal em determinado caso ou situação. Essas jovens têm suas falhas e estão sempre encrencadas por causa delas.

No segundo segmento Olivia, para o seu desespero, é escolhida representante da sala em uma competição de discurso em inglês. Diante da encruzilhada, Hanako e Kasumi somente podem sugerir que Olivia estude, algo que ela recusa categoricamente. A saída encontrada por Hanako é apelar a Maeda, que reconstrói o robô-namorado, do episódio 6, com a aparência de Olívia. É então que o insano chega à cena, com o modelo usado para criar o androide sendo uma das bonecas infláveis do avô de Hanako e o idoso fornecendo o vocabulário em inglês a programação do robô. O problema é que o avô de Hanako só conhece gíria e palavras vulgares, o que faz da “boneca” uma boca suja de primeira.

Um dia, Hanako terá um ataque do coração por causa de Maeda.

Chisato-sensei é quem percebe a catástrofe, já que nenhuma das passatempeiras tem domínio do idioma e Maeda é Maeda. Ao tentar consertar a situação, a professora é quase morta pelo androide. O esquete tem um desfecho simples, pois a solução para o imbróglio da envergonhada Olivia é simples: inventar uma desculpa e encontrar uma substituta.

Está mais do que claro que o avô de Hanako é um velho pervertido, e contabilizando também Maeda, a menina não está em ambiente de pessoas sãs. Não à toa, Hanako é a campeã em insanidade no clube dos passatempeiros.

É engraçado o nome com o qual Maeda batiza o androide: Olivia Newton-Einstein. Uma atriz e cantora, famosa no final de 1970 e começo dos anos 1980, protagonista do clássico Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978), e um cientista, o físico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral.

Androide-boneca de plástico: mais uma insanidade made in Asobi Asobase.

Na terceira parte, Olivia é repreendida por levar um mangá para a escola. Já é a quinta vez, por isso um familiar é chamado para conversar sobre as infrações da garota. Quem vem em seu auxílio é o seu irmão. Ao saber disso, Hanako o imagina parecido com Leonardo DiCaprio, pensa em casamento e filhos.

Para surpresa de Hanako e Kasumi, o irmão de Olivia não se parece com a amiga, ele é um otaku acima do peso, inteligente, mas prepotente, de maus hábitos, realmente desagradável (chega a cuspir no porteiro que o barra na entrada). A incredulidade é tanta que Hanako – na melhor piada da sequência – pergunta a Olivia se ela o havia adotado de Akihabara. A resposta do irmão vem em forma de grosseria academicista e exibição de seus olhos azuis.

Hananko e sua impertinência enfrentando a arrogância do irmão esquisito de Olivia.

Para piorar a situação, Olivia e o seu irmão não têm noção da estranheza dele, a consciência social do seu comportamento extravagante e de sua inabilidade no trato com as pessoas. E para tornar sua esquisitice mais esquisita, ela faz um comentário inapropriado sobre o cheiro inebriante das meninas do colegial, como se, enfim, realizasse uma fantasia. Algo que não passa despercebido por Hanako e Kasumi.

Diante da professora, inicialmente, ele se comporta de maneira normal, polida, porém só até a hora do mangá entrar em jogo. É quando o momento vergonha alheia da temporada surge: ele se ajoelha implorando pela devolução do mangá Mahou Shoujo Pretty Kiss. É hilário e inteligente a exposição de Hanako para a cena presenciada, em forma de um futuro livro sobre suas memórias. O irmão de Olivia trabalha com afinco para destruir a própria imagem e tem percepção disso.

Momento vergonha alheia do ano, descrita de forma genial por meio de um hipotético livro de memória de Hanako.

Em uma posição complicada (sem desculpas em mente para recusar), Hanako termina fornecendo o seu número de telefone para o irmão de Olivia, que logo envia uma mensagem para a garota. Com uma escrita envolvente e encorajadora, ele chega a surpreender Hanako, porém Olivia acaba com qualquer chance do seu irmão parecer legal ao mostrar um cosplay dele de Mahou Shoujo Pretty Kiss.

Dentro de sua lógica interna insana, Asobi Asobase não perde de vista que é inadequado um homem de vinte e poucos anos considerar-se no paraíso ao ir em uma escola para garotas em idade escolar. É um show autoconsciente do quanto é problemático certos comportamentos e ações, por mais que não se furte em usá-lo em seu humor. No entanto, realiza-o mantendo suas personagens cientes do cenário, mesmo que apenas em pensamento, mas em comunicação com o público. O irmão de Olivia se encaixa, com algumas diferenças, no estereótipo do otaku que adora lolis, contudo, ainda que ele tivesse a aparência de Olivia, a série provavelmente o tornaria ridículo.

Cosplay para desver: Olivia joga a pá de cal na imagem do irmão.

O absurdo reina em Asobi Asobase, mas o programa tem mirado um limite para os seus excessos, produzindo, deste modo, uma comédia absolutamente hilariante, nonsense, inteligente e devastadora. O episódio 9 consegue driblar as armadilhas e, mesmo que se possa argumentar (com razão) sobre o apelo a certos estereótipos do universo otaku e o deboche ao corpo gordo, mantém a série distante de lugares-comuns e em alta com sua divertida loucura.

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