Yurine se comporta como deusa da justiça e carrasca em Jashin-chan Dropkick. Aquela que tem o poder de punir as más ações, mas que acaba cedendo ao seu sadismo quando cumpri seu papel. Contudo, como a única a realizar atos cruéis e mesquinhos é Jashin-chan, cabe a ela receber a fúria disciplinadora da loli gótica. O final de seu encontro com Poporon, o equivalente celestial da loira-serpente, revela que a garota não irá tolerar os abusos e desfaçatez da anjo, demonstrando que está alerta a qualquer sinal de desmando. Neste sentido, há um avanço a respeito dos caracteres das personagens. Minos ganha mais espaço e Medusa tem uma reação inesperada, permitindo que Jashin receba uma lição da vida. Além disso, falhas e virtudes desses seres sobrenaturais contribuem para costurar a crítica comportamental/social com a qual série flerta. Um bom episódio, engraçado, com a maior parte do elenco em cena.

Algumas das passagens mais inspiradas de Jashin-chan Dropkick, nos episódios anteriores, têm relação com a metalinguagem, mas nos últimos capítulos a um investimento na crítica à sociedade japonesa. Desta vez, com resultado mais satisfatório que as tentativas pregressas.

Jashin não se emenda e o seu vício em máquinas caça-níqueis a domina. Como sempre, ela envolve Medusa em suas artimanhas. Elas vão ao banco sacar dinheiro e ocorre um assalto. Preocupada com os humanos feitos de reféns, Medusa pede a Jashin-chan que tome uma atitude e puna os assaltantes, já que ela é um demônio. Diante da negativa da loira-serpente, Medusa é obrigada a retirar a sacola de papel que cobre o seu rosto e ir à luta, petrificando os meliantes.

Medusa enfrentando a bandidagem. Uma demônio de bom coração.

Medusa é a heroína da vez, mas quando a policial yandere Mei Tachibana chega, ela parabeniza Jashin-chan pelo feito e mostra seu desejo obsessivo violento pela demônio. Desta vez, é Medusa quem nega ajuda. É a primeira vez que ela diz não para Jashin. E essa reação evidencia que o seu limite é a indiferença da amiga ao sofrimento humano. Medusa é como a Vigne, de Gabriel DropOut, mais anjo que demônio. É uma agradável surpresa ver um aspecto novo da personagem. Mesmo que isso não a torne menos unidimensional, concede-lhe algum frescor. O esquete termina com dados sobre a violência no Japão, o que revela que o programa mantém o seu teor social, ainda que permaneça inofensivo como crítica ou estudo da civilização (não há nada mais demolidor a respeito de uma determinada estrutura social, dos costumes e das opressões existentes que uma ótima comédia, como comprova Hinamatsuri [2018]).

Ninguém merece Mei como castigo. A punição de Jashin-chan por ser indiferente aos problemas alheios.

Minos tem um espaço considerável nesse episódio. A vaca demônio (ou minotauro) é uma trabalhadora que segue na labuta diária com energia e encontra prazer em coisas cotidianas: nas amigas, em um bom prato de comida, numa bebida alcoólica para relaxar e em dormir. Minos é entregadora de leite (?) pela manhã e depois, ganha o seu sustento na construção civil. Além disso, é gentil e solicita, por isso tem a estima dos humanos, e entre os garotos também faz sucesso pelos seus oppais generosos. Minos é a personagem mais simpática de Jashin-chan Dropkick e merece um pouco mais de tempo em cena.

Minos ama trabalhar! O belo sorriso da demônio mais gente como a gente da série.

Diferentemente de Minos, Pekora sofre com o trabalho, já que percebe a exploração, o baixo salário, o prazer negado por um sistema econômico que visa o lucro e, em troca, não recompensa adequadamente seus trabalhadores. Sem contar que no céu, ela tinha destaque e vivia em abundância. Na terra, conhece a fome e demais infortúnios. A sua crise aumenta ao encontrar solidariedade na bruxa, como ela chama Yurine, e nas demônios. Minos e Pekora são, respectivamente, a tese e a antítese sobre o trabalho, e no universo da série, a síntese pode advir da solidariedade.

No terceiro esquete, Jashin reencontra Poporon no restaurante de ramen, em que a anjo trabalha sob a identidade de Noelee. Poporon vale-se de sua beleza ao saber o quanto os humanos são facilmente apegados à beleza e perdem o senso crítico a partir disso (dois otakus a idolatram e gastam seu tempo e dinheiro indo constantemente ao estabelecimento).

A anjo que finge ser uma idol em busca de seu lugar ao sol: não falta otaku para lamber o chão que ela pisa.

Jashin-chan fica confusa no início, mas consegue fazer a anjo cometer um deslize e se entregar. A algazarra provocada pela loira-serpente leva a uma nova punição de Yurine. Se considerarmos que a garota gótica detesta mentiras e malfeitos, Poporon está em seu radar.

Jashin-chan sofre uma punição em pública: olhar de Yurine assusta até demônios.

O último segmento traz Jashin-chan em apuros por ter comido o pudim de Yurine. Pudim é mais um vício da demônio, que acaba por representar todas as incorreções e depravações (no sentido de algo contrário à moral) existentes na sociedade.

O que chama a atenção no pequeno esquete é que Yurine espera a verdade de Jashin, mas ela tenta contornar a situação, livrar-se de punição, inventando um homem invisível ladrão, vindo do inferno, como responsável pelo “crime”. Obviamente, Yurine castiga a loira-serpente pela mentira, adotando uma donzela de ferro como método de disciplina.

O prazer da implacável Yurine em torturar Jashin-chan não tem preço.

Há ainda uma cena pós-crédito, que é a melhor parte do episódio, referente a um apocalipse zumbi, em que Jashin, Medusa e Minos lutam pela sobrevivência, contudo, o final não é feliz para uma delas (adivinhe qual?).

O episódio traz um desenvolvimento mais satisfatório das personagens, e consegue envolve-las em situações cômicas engraçadas. Desde a estreia, é um dos episódios mais divertidos até o momento, que consegue equilibrar o nonsense, a violência e a observação social que caracterizam Jashin-chan Dropkick.

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