Bom dia!

A segunda temporada de Kakegurui, ou Kakegurui××, trouxe mais jogos de azar (ou nem tanto) insanos, jogados por uma protagonista ainda mais insana.

Yumeko Jabami não tem senso de propósito, leva uma vida de auto-indulgência hedonística na emoção da aposta. Uma jogadora compulsiva como nenhuma que você irá conhecer ou ouvir falar na vida real – e as compulsões, hábitos e manias que acompanham seu vício são o que torna Kakegurui tão delicioso de assistir, e tão desesperador para seus colegas de apostas.

Eu nunca vou reclamar de mais Yumeko jogando.

Leia a resenha da primeira temporada de Kakegurui.

 

Yumeko Jabami

 

Pela própria natureza sem objetivo de sua protagonista, é de se esperar que Kakegurui seja um anime quase episódico. A história se desenvolve de jogo em jogo e, para além das relações entre os personagens, que podem ser reforçadas ou destroçadas, pouca coisa muda.

Sim, alguns perdem dinheiro. Alguns perdem tudo. Mas todos continuam fazendo parte do círculo de personagens ao redor de Yumeko e eventualmente retornam para novos jogos.

Eu poderia aqui listar todos os jogos dessa segunda temporada, mas acho desnecessário. Destaco, porém, o que me pareceu o mais interessante de todos: a Torre das Portas.

Foi uma aposta entre Yumeko e a secretária do Conselho Estudantil, Sayaka Igarashi, que não vê propósito nenhum em apostas mas possui uma devoção que beira a paixão romântica por Kirari Momobami, a presidente do Conselho Estudantil.

Desde a primeira temporada Sayaka enxerga Yumeko como uma ameaça à sua ídola, e percebendo, enfim, que Kirari é tão viciada em apostas quanto Yumeko, e portanto não irá ouvir nenhuma palavra de aviso que ela diga sobre o perigo que a protagonista representa, a secretária sai de sua zona de conforto e desafia Yumeko para um jogo.

A Torre das Portas em si não é um jogo tenso ou emocionante como outros que essa mesma segunda temporada teve, ou da primeira, mas talvez seja justamente essa falsa calma que permitiu uma introspecção profunda da personagem Sayaka, levando o espectador a mergulhar em sua personalidade, suas razões e emoções. E o final não dá nenhuma resposta, mas é satisfatório e dá um vislumbre do que talvez a Sayaka possa verdadeiramente significar para a presidente.

 

Sayaka se esforçou e tinha certeza de que venceria

 

A presidente, aliás, foi quem colocou toda essa segunda temporada em movimento. Ela reconheceu o estrago que a Yumeko havia causado ao prestígio do Conselho Estudantil na primeira temporada e armou um plano para, supostamente, vencê-la.

Na verdade, fica cada vez mais evidente ao longo dos episódios que ela só queria um pretexto para jogar um jogo ainda maior. O final original da primeira temporada, que não existe no mangá que fornece o material para o anime, não é mesmo algo soaria sequer minimamente o bastante para Kirari. Uma aposta uma contra uma entre ela e Yumeko já não é o suficiente.

A escola inteira, então, é envolvida em uma grande aposta que irá definir o próximo presidente do Conselho Estudantil. Mais do que isso, ela convocou para o colégio também representantes de cada uma das famílias do clã Momobami, prometendo ao vencedor da aposta-eleição não só a presidência do Conselho Estudantil, mas também a liderança do clã.

A princípio, isso foi feito parecer uma armadilha para Yumeko. Nunca foi.

 

Terano Toutoubami é a maior ameaça a Kirari dentro da família Momobami - ou seja, ameaça nenhuma

 

Eu fiquei inclusive sob a impressão que essa segunda temporada teve menos das expressões deformadas que caracterizaram a primeira? Duas hipóteses: ou diminuíram mesmo a distorção, por quaisquer que sejam os motivos, ou de fato os jogos foram, na média, e para a Yumeko pelo menos, mais “amenos”.

Diferença da animação não creio que seja, pois essa temporada foi tão bem animada quanto a primeira.

Os novos personagens, porém, não emplacaram. Talvez seja proposital? Eles próprios várias vezes demonstram não ter o menor apreço por apostas, ou até mesmo detestarem diretamente a ideia de jogar, só concordando porque, afinal, essa é uma oportunidade única.

Nessa hipótese, esses personagens seriam mais “entediantes” que os antigos porque não estão tão investidos na jogatina quanto eles. É coerente, mas um personagem sem graça é um personagem sem graça, por mais que isso esteja de acordo com sua construção e seja perfeitamente coeso.

Ou talvez seja só o caso dos personagens já conhecidos terem efeito recall. Ao longo de uma temporada inteira eu simplesmente aprendi a gostar da Mary, Itsuki e Yumemi, afinal. Não poderia me importar menos com Terano Toutoubami, Sumika Warakubami, e Rei Batsubami.

Ok, essa última quase me conquistou. Rei era onipresente desde o início mas sempre fora da linha de fogo embora perto dela de forma suspeita demais. O resultado de sua rebelião no final, porém, me passou uma sensação diametralmente oposta a que Yumeko me passou na primeira temporada inteira, e que me fez gostar de Kakegurui em primeiro lugar.

 

Rei Batsubami conquista a simpatia do alunato

 

Na história da primeira temporada, Yumeko é a estranha que chega para abalar as fundações de uma sociedade corrompida. Ela própria não é muito melhor do que a elite dessa sociedade, mas seus movimentos derrubam um a um seus pilares.

Seus passos rumo ao topo se transformam no toque do bumbo de uma revolução que se avizinha, conforme seus feitos temerários a fazem exercer uma atração cada vez mais irresistível e ao seu redor outros personagens passem a orbitar. Yumeko é, querendo ou não, sendo sua intenção ou não, o som da mudança.

Enquanto isso, Rei Batsubami, no arco derradeiro da segunda temporada, se insurge contra aqueles que a oprimem apenas para ser derrotada – pela própria Yumeko. A protagonista nem chegou ao topo ainda e já atua como força contra-revolucionária.

Não dá para tirar a parte pelo todo, claro. Como já escrevi, Kakegurui é essencialmente episódico. A primeira temporada teve uma noção de propósito pelo que a protagonista representou, mas ela própria nunca teve um objetivo em mente. A segunda temporada foi muito mais fragmentada, e mais do que a Yumeko, em cada um dos jogos pudemos nos aprofundar mais em cada um dos demais personagens – aqueles mesmos da primeira temporada, com exceção do arco final em que o destaque foi a Batsubami, uma personagem nova.

Objetivamente, a primeira temporada foi melhor. Subjetivamente, eu adoraria que tivesse uma terceira temporada. Quem sabe?

 

Mais Yumeko Jabami

 

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