Doukyonin wa Hiza chegou discretamente na temporada de inverno, no meio das várias novidades e dos fortes concorrentes contra os quais pretendia conquistar algum espaço. Com uma proposta simples, mas uma excelente execução, esse anime mostra o cotidiano de dois seres que se encontraram de uma forma inesperada e que a partir daquele breve momento teriam as suas vidas modificadas para sempre.

Mikazuki Subaru era um indivíduo fechado, recluso e rabugento de alto nível, que desprezava qualquer tipo de contato ou aproximação com pessoas, animais, ou o que quer que tivesse vida além dele. O mais interessante no protagonista era o fato de que ele escrevia livros para outras pessoas, com histórias que encantavam, ensinavam lições e transformavam quem as lia – ainda que ele próprio fosse um ser humano digno de aprender sobre o mundo com o que fazia, principalmente no que tangia aos sentimentos alheios.

Haru, por sua vez, era uma gatinha dócil, mas que precisou defender a si e aos seus dos perigos das ruas desde cedo, já sobrevivendo no limite. Apesar das duras experiências que vivenciou, a gatinha carregava consigo fortes valores como gratidão e zelo ao próximo – ainda que não soubesse como lidar com o que sentia e tivesse receios com relação a outros indivíduos, assim como Subaru.

Considerando essas duas personalidades tão diferentes, que careciam de crescimento e ao mesmo tempo de afeto, o que podíamos esperar de verdade desse anime? No meio de elementos dramáticos, cômicos e didáticos, o que agrada bastante em Doukyonin wa Hiza é a coerência que trazem ao amarrar todas essas pontas, criando uma história fluida e realista – a sacada dos dois pontos de vista em cima das mesmas situações nos mostra com clareza isso.

A relação que se forma aos poucos entre os dois protagonistas é a base guia. Vemos como esses dois se completam por possuírem aquilo que o outro não tem, gerando momentos em que um aprende com o outro – ou pelo menos Subaru é quem de fato mais aprende com os gestos de Haru, captando aos poucos os sentimentos de sua nova colega de quarto e reagindo a isso.

Um elemento que é bem interessante é a forma como a gata está sempre analisando Subaru e como entende o relacionamento deles. Ainda que ele seja seu dono aos olhos de todos, para a gatinha o escritor funciona como uma espécie de irmão fisicamente diferente, o qual ela precisa proteger assim como era com os pequenos dos quais foi separada – existe um estudo (em inglês) sobre como os gatos interpretam os humanos; aos interessados vale a pena dar uma olhada.

A percepção de que tinha das falhas pessoais de seu companheiro, somada aos momentos de maior fragilidade psicológica pelos quais ele passava, faziam Haru entender que existia a necessidade de mostrar sua força, com o objetivo de ser o pilar que sustentaria esse homem sem jeito e “inocente” – isso confere uma personalidade e realismo ainda maiores a nossa protagonista.

Outro fator que contribuiu bastante para a excelência do anime foi o crescimento individual de Subaru ao conviver mais de perto com seus colegas, vizinhos e amigos. A forma como o escritor vai se reinventando é incrível porque ela não força mudanças bruscas tirando dele sua essência, mas desenvolve como ele aprende a se abrir em doses homeopáticas as novas possibilidades levando em consideração os sentimentos dos outros, assim como também os seus.

O elenco de apoio tem um papel fundamental em todo o processo de composição do “novo” escritor, são pessoas comuns e humanas, que têm uma ligação real com ele e o ajudam a progredir. Ao perder seus pais, Subaru passa a viver à sombra de seus arrependimentos, descobrindo sentimentos e pensamentos adormecidos aos quais nunca se permitiu e que agora o atormentavam a cada descoberta. Esse fato torna a presença deles vital, já que eles o mostram através de suas falas e com simples ações que é possível dar a volta por cima dos erros, basta se abrir e tentar.

Eu poderia passar horas tecendo elogios a esse anime e ainda assim não seriam suficientes. A mensagem deixada pelos gestos e palavras da nossa dupla, excedem qualquer explicação que alguém tente fazer.

A família tem valor um valor inestimável, as pessoas que nos cercam e nos valorizam também, e é isso que a série coloca na nossa cara a cada episódio, juntamente com a lição de que se dar oportunidades é o melhor que podemos fazer a nós mesmos – “vivendo e aprendendo”, como diz o ditado.

Doukyonin wa Hiza é uma pérola de alto valor que o estúdio Zero-G trouxe a nós, e faço questão de repassar e indicar a todos porque é tocante, divertido – principalmente para os amantes de gatos, ou para os que não eram fãs e acabaram convertidos como eu – e acima de tudo bem construído.

Os personagens e as situações sugam você para dentro daquele mundinho e você consegue se relacionar, se envolver e se ver em cada momento ali, é definitivamente uma experiência única – até para entender melhor seu bichano. Uma segunda temporada é um sonho que se realizaria e se assim for, estarei prontinho pra acompanhar Subaru, Haru e sua turma novamente.

Fiquem com mais essa imagem da personagem feminina mais incrível da temporada de Janeiro, e quem sabe até do ano!

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