Asuka se abala ao escutar a traumatizada Nozomi dizer que nunca mais quer ver uma garota mágica

Bom dia!

Magical Girl Spec-Ops Asuka, ou Mahou Shoujo Tokushusen Asuka, é um anime dirigido por Hideyo Yamamoto (New Prince of TennisCode:RealizeStrike the Blood), que adapta mangá desenhado por Seigo Tokiya, com história de Makoto Fukami. O próprio Fukami trabalhou adaptando os scripts para o anime, que foi produzido no estúdio Lindenfilms (Koi to UsoHanebado!Killing Bites).

É um dark mahou shoujo. Uma história de garotas mágicas mas com um detalhe que as torna menos glamourosas ou muito mais sofridas, e que torna seus sonhos mais distantes ao invés de aproximá-los com o poder da magia.

No mundo de Asuka, garotas mágicas são armas de guerra. Soldados como quaisquer outros, mas soldados diferentes de todos os outros, porque elas são as únicas capazes de mudar o curso da guerra pela sobrevivência da humanidade. A guerra acabou, Asuka perdeu mais coisas do que ganhou, e agora é uma típica soldada com síndrome de estresse pós-traumático.

 

Os disas

 

Um dia, do nada, surgiram criaturas vindas de outra dimensão dispostas a subjugar a humanidade para produzir energia mágica a partir dela: os disas (que se parecem com bichos de pelúcia). Infelizmente para todas as pessoas do mundo, os disas são na prática imunes a todo o armamento e tecnologia humanos.

Felizmente para todas as pessoas do mundo, outro povo de outra dimensão aparece com uma barganha: daria a humanidade o poder da magia para derrotar os disas. Com essa história suspeita se criaram as garotas mágicas.

A muito custo, três anos atrás os disas foram derrotados e a guerra acabou. As garotas mágicas sobreviventes poderiam voltar a pensar em seus futuros.

 

Asuka e Kurumi, duas garotas mágicas

 

Ou será que não poderiam? Elas são, afinal, as mais poderosas armas de guerra que existem. A ONU cria uma agência para regular as garotas mágicas e tudo mais.

Em todo caso, para todos os efeitos e propósitos elas ainda são indivíduos no pleno gozo de seus direitos, e é apenas “coincidência” que das cinco sobreviventes da guerra (que ficaram conhecidas como Magical Five) três tenham escolhido entrar para as forças armadas de seus respectivos países.

Não Asuka. A mais poderosa de todas viu cada uma de suas amigas morrer, e sofreu sobremaneira com isso. Teve seus pais sequestrados e mortos pelos disas durante a guerra. Quando criança, Asuka era fã de garotas mágicas fofas e brilhantes e que restauravam o amor e a esperança no mundo. Mas ela não estava convencida de que tinha conseguido fazer isso.

Ela não estava convencida de que era possível fazer isso.

Possível ou impossível, porém, era o tipo de trabalho sujo que alguém tinha que fazer. A guerra foi devastadora para o mundo, mas teria sido infinitamente pior se a humanidade tivesse perdido. Pelo menos a guerra acabou.

Ou será que não? Terrorismo, guerrilhas e máfias internacionais continuam existindo como sempre, com a diferença que agora têm acesso a itens mágicos. Os portais dimensionais continuam se abrindo entre os mundos, afinal, e a situação calamitosa em que a guerra deixou algumas nações é terreno fértil para revanchismo e fundamentalismo.

O Japão, porém, voltou ao normal. Asuka pode viver tranquila, aguentando sozinha suas crises de ansiedade, pesadelos e delírios provocados pelo trauma. Ela entra em uma escola normal, onde tenta voltar a viver uma vida normal. Lá ela conhece Nozomi e Sayako, duas garotas normais que se tornam suas amigas.

Até o dia que terroristas atacam em pleno Japão. Asuka preferiria se manter afastada, mas se lembra que Sayako disse que estaria pela região que está sendo alvo do ataque. Asuka corre. Magical Girl Rapture Asuka renasce.

 

 

A essa altura ela ainda não pretende voltar a trabalhar para as Forças de Auto-Defesa japonesas, porém. Mas também ela não sabe ainda que a Brigada de Babel, uma organização mágica terrorista misteriosa, estava por trás daquele primeiro ataque e tentaria mais tarde mirar a própria Asuka, sequestrando e torturando Nozomi para isso.

Para o resgate de sua outra amiga Asuka reencontra Kurumi, a outra garota mágica japonesa, e as duas trabalham juntas.

Kurumi só se tornou garota mágica por causa de Asuka em primeiro lugar. Ela era uma garota que sofria bullying violento, extremo, e no começo o anime dá a entender que Asuka a salvou, mas mais adiante isso fica menos claro. Asuka com certeza deu incentivo para Kurumi, foi a força dela, e deve tê-la protegido em mais de uma situação, mas salvar?

O fato é que Asuka já estava então muito mais ocupada com a guerra do que com a escola. Foi nessa condição que ela abordou Kurumi e a convidou para se tornar uma garota mágica também. Não é revelado mais sobre o passado das duas, como se Asuka já conhecia Kurumi antes ou se só a conheceu porque precisava dela como garota mágica, por exemplo.

Em todo caso, Kurumi se apega a Asuka. Se apaixona, de fato. O anime não esclarece se a Asuka sabe disso, mas suponho que não, apesar das demonstrações ostensivas (e assustadoras, às vezes) de ciúme da Kurumi.

Não culpo Asuka caso note isso e mesmo assim não veja nada demais, porém, porque fica bem estabelecido pela série que a fada de outra dimensão que deu os poderes para as garotas mágicas em primeiro lugar é pervertida por garotinhas, e a líder das garotas mágicas, Francine, não fica muito atrás. Quando o afeto e o sexo são banalizados, é normal que se deixe de perceber o amor verdadeiro.

Retornando à Kurumi, quando ela se tornou garota mágica ela ainda sofria bullying, e aparentemente continuou sofrendo mesmo depois. Nota: exceto por quem trabalha diretamente com as garotas mágicas nas forças armadas, ninguém sabe as identidades reais das garotas mágicas. Não é como se as valentonas da Kurumi fossem loucas sem medo de morrer.

 

Kurumi contempla seriamente matar as pessoas que a maltratam

 

Porque conhecendo a Kurumi, é preciso ser louco sem medo de morrer para se envolver com ela. Se a Asuka ficou traumatizada após a guerra, Kurumi já foi para ela perfeitamente traumatizada. E isso se reflete em sua personalidade, capaz de ter estouros de ódio a qualquer momento. Ela chega a cogitar, já como garota mágica, matar as garotas que a atacam, mas consegue manter o auto-controle.

Não é que ela ainda esteja suficientemente bem, e sim que ela tenha simplesmente se apoiado na Asuka para toda sorte de apoio emocional. Se ela matasse as garotas, provavelmente a Asuka não iria mais gostar dela, né? Ela não iria mais poder chegar perto da Asuka, né?

Mas quando está nas costas da Asuka, Kurumi se transforma em outra pessoa. Como parte de seu trauma e seu comportamento perturbado, ela parece ter desenvolvido o gosto por fazer outras pessoas sofrer, e como válvula de escape para sua luxúria, ela gosta mesmo é de abusar sexualmente de outras garotas.

 

Esse sorrisinho não é o de alguém que está só fazendo o que precisa ser feito

 

Ela não sequestra garotas para isso, mas não precisa. Há itens mágicos e garotas mágicas ilegais no mundo. Terroristas, guerrilheiros, máfias e revolucionários que precisam ser combatidos pelas garotas mágicas. Eventualmente algumas garotas mágicas ilegais caem em sua rede. E o anime não tem vergonha de mostrar isso. Em duas ocasiões, Kurumi tortura garotas mágicas capturadas, e sua tortura tem forte conotação sexual.

Eu consigo entender o personagem Kurumi dessa forma, mas me incomodo porque acho que a retratação dessas cenas foi, digamos, “vívida” demais. Não era necessário e foi contra o tom estabelecido nos episódios iniciais pelo próprio anime.

A Nozomi é torturada, como já escrevi. A tortura dela tem uma leve estética sexual, por ela estar quase sem roupa e pela mesa na qual é amarrada, mas Magical Girl Asuka não mostra nada demais nesse sentido. Não é que não mostre nenhuma tortura, mas sim que o que mostre seja apenas o estritamente necessário para passar a sua mensagem.

Antes mesmo disso, um líder terrorista é torturado em interrogatório pelas forças do governo japonês. De novo, foram cenas fortes, mas apenas o estritamente necessário. As cenas de tortura de Kurumi foram bem além disso, e não acrescentaram realmente nada. É só fanservice.

E não é só a Kurumi que é o problema também. Conforme a história avança, ela vai perdendo o rumo e os limites também. Listar todos os momentos em que o anime causa repulsa, e essa repulsa não ajuda em nada a história, seria um exagero de minha parte, mas mencionarei dois momentos, já perto do fim.

Na batalha do arco final, disas atacam a cidade de Naha, em Okinawa. Lembre-se: disas são essencialmente bichos de pelúcia grandes e super-coloridos. Completamente não humanos, em todo caso. Mesmo assim, acharam por bem nessa batalha mostrar disas estuprando mulheres. Por quê? Eles nem têm como, na verdade, mas a composição da cena era a de um estupro, e a reação das mulheres durante e depois também. Por quê?

Por fim, no último episódio tem uma cena de sexo entre duas das vilãs. Não há nem o que descrever a mais sobre essa cena. Ela é desprovida de significado até mesmo no contexto do próprio anime. É como se tivessem colocado uma cena de hentai no meio de um episódio qualquer.

 

 

Quanto aos aspectos técnicos, Magical Girl Asuka não é um anime com grande orçamento mas sua animação é competente. Não se destaca em nada, e em algumas batalhas, principalmente no final, têm uma quantidade vergonhosa de sequências repetidas, mas no geral é um anime bem animado.

O character design é bastante peculiar, e se qualquer coisa merece uma menção positiva apenas por tentar ser algo diferente do normal.

Magical Girl Spec-Ops Asuka apresenta um cenário novo e criativo para garotas mágicas, e a personagem principal, Asuka, bem como o núcleo de personagens que orbita imediatamente ao redor dela, é bem interessante e foi o que me cativou nos primeiros episódios, mas algumas escolhas de enredo, em particular o fanservice chocante de alguns episódios, tornam a experiência final, na melhor das hipóteses, questionável.

 

Até mais, Asuka!

 

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