Bom dia!

Temporada nova, Dororo já velho de guerra de volta. Deixei o episódio da semana passada acumular porque no meio de todas as primeiras impressões que publicamos não faltou artigo, e de todo modo não foi bem o episódio mais brilhante do anime até agora.

A primeira novidade é a abertura nova. Não gostei dela, nem da música nem da animação. Suponho que possa me acostumar, como costuma ser o caso quando gosto do anime (e o inverso também acontece, eu gostar mais do que devia de um anime só por causa da abertura ou encerramento).

Mas tanto abertura quanto encerramento, tanto as músicas quanto as animações, são piores que suas contrapartes do primeiro cour. Estou errado?

 

Parte da nova abertura de Dororo

 

Com uma abertura mais fraca, o segundo cour estreou com um episódio também mais fraco. Uma história de monstro da semana que não foi ruim, mas parece que o anime poderia ter passado sem.

Pelo menos poderia ter passado sem o grande incômodo gerado por, aparentemente, Okaka ter criado algum tipo de vínculo emotivo com Dororo em tão pouco tempo, mas nada no episódio em absoluto parecer ter contribuído para isso.

Por que Okaka deixou Dororo solto? Por que queria que ele fugisse? Quando lutou com ele, ficou claro que ela estava tentando poupá-lo. Por quê? Só porque Dororo a chamou de mãe? Mas Okaka era um homem! E um que nunca teve filhos. Não fez o menor sentido.

 

Okaka poupou Dororo até o fim

 

Quanto ao monstro em si, a estátua gigante sem rosto, foi mais uma instância em que o anime reforça que a origem do mal é sempre o ser humano. A estátua era maligna, queria devorar rostos, reviveu um homem morto para alimentá-lo, mas foi em primeiro lugar esculpida por um homem.

O episódio em si acaba deixando um pouco ambíguo se a estátua foi possuída por um espírito maligno antes ou depois da morte de seu escultor, mas a ideia de que o homem estava desgostoso com a falta de reconhecimento pelo seu trabalho e enlouqueceu enquanto esculpia sua grande obra-prima combina mais com os temas de Dororo, então é com ela que eu vou.

No episódio 14 o anime volta a apresentar um dos 12 demônios. Quantos já foram? Perdi a conta, prometo que a farei para o próximo artigo. Nesse, por interessante que seja o enredo do senhor que se tornou amante de um demônio, essa história ainda não acabou então terei oportunidade de tratar sobre ela depois.

Nesse artigo, o mapa. Ele aparece pela primeira vez no final do episódio 13, quando crianças descobrem que Dororo tem um mapa desenhado em suas costas. Quero dizer, disseram que aquilo é um mapa, mas mesmo depois de ver a metade mais nítida dele nas costas da mãe de Dororo não estou convencido. Se dizem que é, porém, então é.

Esteticamente, lembra as tatuagens yakuza, e faz sentido que seja assim. Como os pais de Dororo e seu bando, yakuzas são organizações foras-da-lei, afinal.

 

 

Então quer dizer que os pais do Dororo tinham dinheiro guardado, e mesmo assim viveram de mendicância, alimentados pelo ódio contra os samurais. Eventualmente os dois morreram, e é um milagre que Dororo tenha sobrevivido.

Que seu pai era fanático já era sabido. Assistimos ele pisotear comida enquanto Dororo morria de fome só porque dada por uma nobre. Sua beligerância contra os samurais eventualmente lhe custaria a vida. Mas eu tinha ficado sob a impressão de que sua mãe fosse melhor do que isso.

Sendo razoável, ela ainda é ligeiramente melhor que o pai, mas não muito. Aceitou o destino de morrer e deixar Dororo sozinho no mundo, afinal, mas se deu ao trabalho de pedir para o marido esconder em suas costas metade do mapa, temerosa que estava de que não seria capaz de resistir à tentação de usar o dinheiro guardado para a sobrevivência da família se soubesse onde ele estava. O pai, orgulhoso, resistiu até o fim.

Orgulhoso de quê, exatamente? De declarar uma guerra e levá-la às últimas consequências, mesmo muito tempo depois que ele tivesse qualquer chance de pô-la em prática?

Eu entendo. Sua vida, de sua família e de todos os comuns do Japão era um inferno por causa dos nobres e samurais. Nem mesmo servi-los fielmente era garantia de uma vida decente, como visto no episódio da espada amaldiçoada: arquitetos e trabalhadores de magnífico castelo foram executados por ordem do mesmo senhor a quem serviram – e exatamente porque o serviram.

Mas mesmo tendo isso em conta, será que não seria mais inteligente, naquelas circunstâncias, usar parte do dinheiro para sobreviverem enquanto se reerguiam de alguma forma?

Em todo caso, não me parece que dinheiro seria capaz de vencer uma guerra contra os samurais. Mas esse ponto não importa: Tezuka escreveu uma história sobre o Período Sengoku, mas foi com o público da Era Shouwa que ele quis dialogar, evidentemente. Dinheiro é algo que esse público entendia, e algo que entendemos até hoje, na virada da Era Heisei para a Era Reiwa, enquanto assistimos ao reboot do original.

 

Hyakkimaru determinado a continuar caçando demônios

 

Enquanto isso, Hyakkimaru é questionado por Dororo e reafirma que pretende caçar demônios e recuperar seu corpo. Nem mesmo a descoberta do tesouro de Dororo o fez mudar de ideia, quando lhe foi sugerido que, com o dinheiro, poderiam fazer outras coisas da vida além de perambular em busca do próximo demônio.

E é a primeira vez que, tendo opção e sabendo que isso trará o desastre para o Domínio Daigo e seu povo, Hyakkimaru decide, não obstante, continuar sua busca.

Assim como os pais de Dororo não estavam errados em querer combater seus opressores, assim como Daigo Kagemitsu não estava errado em querer a prosperidade de seu domínio, assim como Okaka não estava errado em ficar frustrado com a preferência do povo por uma estátua de um Buda de guerra ao invés dos Budas gentis que ele preferia esculpir, Hyakkimaru definitivamente não está errado em querer seu corpo de volta.

Muita gente em Dororo não está errada por princípio, mas ou seus métodos estão errados ou independente de seus métodos suas ambições causam prejuízo para gente inocente.

É claro que o Hyakkimaru é um caso extremo e colocá-lo ao lado de outros que escolherem agir de forma inequivocamente maligna, como seu pai, soa exagerado. Mas na vida real não existem casos de pessoas amaldiçoadas cuja salvação irá causar diretamente a desgraça de centenas ou milhares de inocentes, então é preciso levar isso em conta.

Nem sempre as respostas são fáceis. Muitas delas são bastante difíceis, na verdade, e em alguns casos não admitem nenhuma resposta certa – trata-se sempre de escolher o mal menor.

Você tomaria as mesmas decisões que os diversos personagens de Dororo, em suas circunstâncias únicas e difíceis? Se sim, por quê? Se não, por que também? Parte da graça de acompanhar esse tipo de história é nos fazermos esses questionamentos.

 

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