Alice’s Tale é uma light novel de autoria de Tadanori Kurashita e ilustrações de Akio Watanabe e suas pouco mais de 80 páginas entregam uma história simples, mas não menos interessante, que trabalha o cotidiano da relação entre um humano e uma IA e um revés que faz sua leitura valer a pena.

O livro foi lançado digitalmente no ocidente em uma iniciativa da Conyac, empresa de tradução colaborativa sediada no Japão, que escolheu tradutores por meio de um concurso. Vamos falar do Conto de Alice?

Alice’s Tale é um sci-fi com uma pitadinha de drama que apresenta um humano que usa uma IA para o trabalho e as outras atividades do dia a dia, tal qual uma secretaria particular.

Alice é o nome dado pelo humano a uma IA altamente capaz que ele construiu por conta própria, ou ao menos é isso que ele acha.

Mas antes de comentar isso, primeiro, eu acho melhor comentar a relação dos dois e como o mundo em que se passa a história até propicia os acontecimentos que foram narrados nesse conto.

Antes de mais nada, desde o começa fica claro que o humano criou uma rotina em torno de Alice, ele depende dela para organizar desde suas tarefas mais simples até o trabalho mais sofisticado que tem como investidor.

Além disso, também há uma dependência emocional do humano, como se ela fosse também uma amiga, alguém com quem ele sente prazer em viver a vida. E, por incrível que pareça, a situação dele é coerente dentro de uma sociedade tecnologicamente mais desenvolvida que a nossa.

Nela os processos foram bem facilitados, e praticamente todos os problemas que afligiam as pessoas não as incomodam mais. Tudo por causa do advento do avanço tecnológico, não à toa existem IAs, e IAs extremamente capazes tipo a Alice.

A acomodação e o distanciamento do convívio em sociedade é algo sobre o qual ele inclusive reflete, tanto que isso o leva a frequentar um estabelecimento que é gerenciado por um humano e sem ajuda primordial da tecnologia. Para recuperar o contato humano.

Mas não seria possível encontrar um pouco do que é humano na alta tecnologia? Alice’s Tale toca em um assunto recorrente no sci-fi, o desenvolvimento da inteligência artificial que a aproxima dos seres humanos.

Uma das coisas que mais me desagradava na leitura até o plot twist era que a Alice não era uma personagem tão interessante apesar do texto dar a entender que ela tinha algo próximo de uma personalidade.

Contudo, e ainda que de maneira bem sucinta, as dicas para o que ocorre haviam sido dadas e todo o caminho percorrido pelo humano de frente a ruína e a própria reviravolta no que tece a IA foram boas.

O que realmente só pode ser explicado pela predileção que a literatura tem para ver a tecnologia como algo a mais, como algo que um dia poderá se aproximar do indescritível que ronda a existência humana.

Nesse cenário, eu entendo o porquê da narrativa precisar focar no quanto o ser humano que protagoniza a obra precisava se afundar em seu trabalho.

O quanto ele estava obcecado e se tornou cego tomou páginas que poderiam ter sido dadas a Alice, mas como ela age, se olharmos em retrospecto, faz todo o sentido com o que é desenvolvido e foi apresentado no fim.

Aliás, foi bem o contato humano que faz a história ter seu final feliz. Tanto com o humano de verdade, quanto com Alice, a IA capaz de nos ensinar algo sobre nós mesmos que por sorte ainda não perdemos. Até mais!

Comentários