Tokidoki é um one-shot escrito e ilustrado por Naoshi Komi, que é o mesmo autor de Nisekoi.

O one-shot foi lançado em 2016 na Jump GIGA, uma revista mensal que serve como apoio a Jump semanal, e conta a história de Hatsu Takagi, uma garota que tem uma grave e rara doença no coração, e Hato Ijima, que ao descobrir o problema se oferece para ajudá-la a aproveitar a vida enquanto pode.

Sim, se você tiver o coração fraco indico que leia ao menos com um lencinho a tiracolo, porque a história é de drama, mas também de slice of life e um pouco de romance – que sei que alegrará seu coração.

No presente momento minha leitura de Nisekoi ainda está em curso e admito que nunca pensei que o mesmo autor de um romance tão clichê seria capaz de fazer um mangá também, de certa maneira, clichê, mas pontual na forma como explora seu drama.

Acho até que Tokidoki perderia um pouco do encanto se fosse uma série mais longa, pois tudo o que é necessário para fazer dar certo está ali, em pouco menos de 50 páginas. Até a situação clichê de comédia romântica, do garoto ver a menina em roupas de baixo, não é desperdiçada, pois serve como o pontapé para a confissão de seu segredo e a aproximação dos dois.

 

No resto da narrativa a obra não apresenta qualquer detalhe de estrutura que normalmente se questiona nesse tipo de história, talvez só a reviravolta que você pode dizer sim que é clichê, mas teve o mínimo de foreshadowing, e o fato de não ter acabado com um beijo, o clichê do qual o público não costuma reclamar.

Mas isso é o de menos, Tokidoki é uma leitura rápida, mas que é mais profunda do que suas poucas páginas fazem parecer, pois ao invés de se focar no martírio que a condição irreversível da doença impõe ao enfermo, ela busca mostrar que isso não precisa limitar a vida da pessoa, seguindo por um caminho que faz todo o sentido dada a idade de seus protagonistas.

Hato e Hatsu são jovens adolescentes que estão na idade de experimentar coisas novas, viver as mais diversas experiências e rir delas como se estivessem de frente a uma felicidade genuína – gratificante e inesquecível ao mesmo tempo que fugaz e perigosa.

A atitude de Hato de ajudar Hatsu a aproveitar seus últimos batimentos se torna ainda mais compreensível e reconfortante depois que o plot twist é revelado.

Mas não me aprofundarei nele, não é necessário, só acho importante frisar que justificar as ações de um personagem por uma empatia provocada pelo conhecimento de causa, não exatamente uma bondade cega, me parece mais realista, mais fácil de vislumbrar com sinceridade.

Hato se cativa, pouco a pouco, pela personalidade de Hatsu, que é diferente da imagem que ela externava antes dos dois se aproximarem, e que recompensa todas as coisas que ele faz por ela – que também se permite cativar pela gentileza e suporte emocional que o garoto oferta.

Os momentos que passam juntos são divertidos, mas, mais que isso, quando ele descobre o sonho dela não a incentiva a desistir dele e sim tentar fazer o possível para alcançá-lo, ainda que de início pareça só um pouquinho.

Quantas pessoas não desestimulam as outras a tentarem encontrar a felicidade ao se esforçar para realizar um sonho?

Às vezes você tem plenas condições de fazer algo, mas é limitado por um problema que na verdade é apenas uma desculpa para quem não tem coragem, é limitado pelo que está em seu entorno, mas se você não limitar a si mesmo, como a Hatsu não faz e para isso é incentivada pelo Hato, alcançar o seu objetivo pode ser possível e é o que vemos da metade para o fim do mangá.

A primeira página revela o fim da jornada, um fim trágico sob um ponto de vista, mas sob outro questiono, por que ele é triste se a garota foi capaz de, como o exemplo da pessoa que foi a primeira relatada com a doença, fazer o que queria enquanto podia e da melhor forma que poderia?

Tudo isso, porque ela teve alguém que a estendeu a mão quando ela mesma não sabia que precisava, mas também porque ela se jogou nessa aventura que é viver. Sem medo, com uma bravura reservada só aqueles que são fortes de coração e não me refiro ao órgão do corpo humano não.

Tokidoki é uma história simples, mas belíssima que se acabou sem beijo, concretizou seu romance com o que cada um dos protagonistas agregou a vida do outro. A paixão não é a única forma de amor, afinal, e para Hato e Hatsu havia amor mais importante que o que o corpo pode oferecer, um amor que só poderia ser sentido e replicado com os gestos que cada um foi capaz de executar em prol do outro.

Ele a motivando a sair do marasmo, e a devolvendo um símbolo de sua confiança, ela dando ao garoto uma oportunidade de aproveitar a vida fazendo o que queria e cantando para animar não só a ele, mas também a outras pessoas.

Não é porque Hatsu morre aos 21 anos que sua vida não teve sentido, que ela não foi importante. Não o seria, ainda que a garota nunca tivesse saído do canto, passa longe de ser o caso pois o seu coração bateu mais forte, e, contrariando o senso dos covardes, fez a vida valer cada vez mais a pena enquanto ela diminuía.

A leitura desse one-shot é mais do que indicada. Prepare seu lenço se for fraco de coração – é ao órgão que eu me refiro – e então aprecia toda a beleza e bravura de dois corações que batem como um só!

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