Death Note: L change the WorLd é outra light novel do universo de Death Note, mas diferente de Death Note: Another Note ela se passa em uma espécie de universo alternativo no qual o maior investigador do mundo, L, consegue desmascarar o assassino em massa, Kira, só que ele e Watari, seu fiel escudeiro, acabam sendo pegos no fogo cruzado, ou seria melhor dizer, em um ataque cardíaco?

A verdade é que M, quem quer que seja, faz jus a uma franquia tão icônica ao não só adaptar o filme original, mas também acrescentar trechos inéditos, mudando um ou outro detalhe, e, principalmente, tornar ainda mais apaixonante um dos personagens mais icônicos da cultura pop japonesa. É hora de L no Anime21!

Um dos maiores acertos dessa light novel não é somente a manutenção da caracterização peculiar do personagem L, mas também o aprofundamento de seus ideais enquanto um agente da justiça, e não só isso, fazê-lo ir além de qualquer acomodação ao encarar o trabalho de campo humaniza o personagem de uma forma natural. L é um detetive que pode sim sujar as mãos como qualquer outro.

Nesse livro o mundo, mas principalmente o Japão, se vê ameaçado pelas ações de um grupo terrorista, a Blue Ship, que objetiva usar um vírus de nível quatro, tido como o mais perigoso tipo, para mudar o mundo a base do sacrifício de vidas humanas. A quem lembra essa ideologia mesmo? Sim, a Kira!

Esse é o gancho oportuno para comentar o maior defeito dessa obra. No geral ela é muito bem escrita e cheia de boas reviravoltas, mas acaba se apoiando demais na história da obra original, fazendo com que sua trama se torne excessivamente dependente de paralelos e referências, além de aproveitar vários personagens envolvidos no caso Kira; alguns de modo compreensível, outros só pelo fanservice.

Dessa forma, a linha que divide o caso do vírus mortal e o caso de Kira se torna tênue, e eu até entendo a influência do segundo no primeiro, principalmente porque o último trabalho de L só ganha ares tão importantes graças aos acontecimentos derradeiros do caso Kira, mas as referências por vezes são excessivas, criando situações no mínimo forçadas.

Como o caso da família de Maki, a jovem heroína desse livro, ser amiga da família de Misa Amane, a Dr. Kujo ter o passado que tem ou do Death Note ainda ter relevância na trama, apesar de que este foi usado mais como carta na manga por L. Ao menos isso não chega a estragar o divertimento para o leitor, não estragou para mim, e até agrada a fãs mais fervorosos do original, mais ou menos meu caso.

Como principal qualidade, destaco que a escrita não é exatamente melhor que a de Death Note: Another Note, mas certamente o ponto alto da trama é L; como o personagem, mesmo desprovido de seu fiel escudeiro, sai das maiores enrascadas usando seu intelecto que sempre pensa quase dois, três passos à frente de qualquer outra pessoa.

“Quase” porque um ponto importante da obra é justamente a humanização do personagem por meio da falha, do imprevisto que o assalta e o faz ter que ajustar seus planos.

Não que isso já não pudesse ser visto com ele na obra original, mas como ele participa ativamente do trabalho de campo fica mais fácil perceber como mesmo a mente detetivesca mais genial do mundo ainda é falha. L é um ser humano como qualquer outro e é justamente isso o que o torna tão especial.

Além de que, é perceptível o seu envolvimento emocional com Maki, como ela também se torna sua amiga, e a força de seus ideais, que transparecem por meio de suas atitudes; consciente sobre as falhas da justiça, mas nunca cego diante da verdade. L não é apenas conversa, ele é capaz de lutar por aquilo em que acredita e provar o seu ponto.

Isso é algo que contradiz o título do livro ao mesmo tempo em que o reforça. L resolve casos que muitas vezes passam despercebidos a maioria, que parecem não fazer uma diferença perceptível no mundo, mas também deixa sua marca, e uma marca forte, em tudo o que faz, como um sinal de que a justiça é poderosa o suficiente para desvendar a verdade e agir de acordo com o que prega de correto.

L é o defensor da felicidade humana e para isso suja suas mãos sempre que precisa, tendo que suportar o peso de toda a dor e sofrimento do qual tem conhecimento e, ainda assim, acreditar que um mundo melhor é possível, e que para chegar até ele as pessoas é quem devem decidir o que fazer em comum acordo.

Isso bate de frente com a ideia de usar um vírus mortal para criar um mundo de crescimento populacional negativo, então nada mais normal que L combater a Blue Ship, um grupo pequeno de ambientalistas fervorosos que viram terroristas biológicos mais pelas ambições de alguns de seus integrantes que por uma causa nobre.

É algo natural de se imaginar quando o ser humano tem muito poder em mãos e poucos escrúpulos, mas acho que faltou ao menos um ou outro personagem que realmente acreditasse nesse mundo ideal a ser alcançado por meio do sacrifício de vidas humanas, sem estar marcado por objetivos pessoais. Tenho certeza de que deve haver alguém assim no mundo.

Por fim, como não gostar da Maki? Acho a construção dela, como uma criança que desde cedo entende a importância do que está em jogo a sua volta, um pouquinho forçada, com muitas palavras bonitas e tudo mais, mas não posso negar que é uma personagem cativante e que encaixa bem na trama.

Já a Dr. Kujo, a mente criminosa que rivaliza com L, também não é uma má adição ao universo de Death Note, ainda mais considerando suas “origens”. Uma letra do alfabeto bem mais humanizada, falha e passível de compreensão por parte do leitor que o B.B (Beyond Birthday) do caso dos assassinatos em Los Angeles. Mas acho que ambos são bem interessantes, cada um ao seu modo.

Normalmente eu não daria a nota máxima a um livro que achei muito bom, mas possui alguns pontos que não me agradam. Contudo, como não dar um 10 pensando em seu protagonista que brilha do início ao fim?

Acho L um personagem formidável desde meu primeiro contato com ele e as light novels lançadas no Brasil pela editora JBC só contribuem para melhorar a minha impressão já muito positiva de um dos maiores detetives da história dos mangás.

L é muito mais que um personagem estiloso ou uma mente genial com uma personalidade peculiar, L é uma ideia capaz de inspirar qualquer pessoa para qual as histórias que o envolvam falem, basta que a pessoa esteja disposta a acreditar na esperança em que aquele que deveria ser o mais cético dos homens consegue acreditar.

Vou me despedir por aqui, triste por não ter mais light novels de Death Note sobre as quais escrever, mas feliz porque sou capaz de afirmar que L realmente mudou o mundo, quer seja o dele ou até um pouquinho o meu.

Keep your way. Até a próxima!

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