Se houve um anime que me causou surpresa em 2019, com certeza esse foi Nakanohito Genome. De uma forma simples e desconexadamente interessante, ele soube transformar o seu mistério em uma trama que prendia a atenção como sugeria desde o começo, como também apresentava uma história leve quando ninguém imaginava que dali poderia sair algo do tipo.

Originário de um web mangá, o enredo se resume a um grupo seleto de oito adolescentes sendo jogados em um game bizarro, cuja vitória em cada fase e o grande número de views – que alcançam no streaming do mesmo -, rendem o bem estar deles e quem sabe a volta para casa.

O que é mais curioso nessa ideia é que na teoria se imagina uma série de jogos mortais e extremamente tensos para ambientar a coisa toda, mas o que nos apresentam é o exato oposto. Não que o perigo e o risco não se façam presentes – seja na punição ou nas fases jogadas -, só que a todo momento se cria dentro daquele mundo, uma atmosfera boba e inocente que te faz duvidar de tudo e encobre os verdadeiros planos de quem o elaborou.

Como drama em um anime desse tipo nunca é demais, conforme o enredo se desenrola vamos compreendendo que os protagonistas não pararam ali por um acaso qualquer, ou mesmo pelas suas habilidades individuais em cada estilo de jogo nos quais eles são experts. Todos eles possuem objetivos pessoais ao adentrar o jogo, passados complicados, alguns inclusive estão conectados uns aos outros e é isso que torna a amarração da história mais legal.

Acredito que toda obra precisa disso, porém aquelas que trabalham o tema sobrevivência, battle royale e afins, exigem personagens que te façam torcer para que de fato eles fiquem vivos e sejam felizes, pois bem, aqui isso não faltou e digo que é um dos pontos fortes da adaptação.

Se eu tivesse que dividir os protagonistas em grupos eu faria da seguinte forma, os que movimentaram a obra por conta de suas personalidades únicas, os que surpreenderam com suas histórias e os carismáticos que tem seus problemas, mas servem como o coração do grupo.

Preenchendo o primeiro grupo, coloco os dois grandes nomes do anime, Iride e Yuzu – de longe a minha favorita do elenco. Essas duas maravilhosas peças são donas de personalidades distintas, porém partilham de um mesmo elemento: o excesso de segredos e a imprevisibilidade.

Ele é gentil, alegre e a representação de uma pessoa amada por todos, sempre se colocando como um protetor do grupo sem ser irritante – o que é tão absurdo e bom, que instiga a dúvida. Já ela é dona de uma perspicácia ímpar e apesar da simpatia, é instável como um frasco de nitroglicerina. Essas características são o que os torna ambos tão interessantes em suas ações dentro do jogo em meio ao que escondem dos demais.

Na leva das surpresas eu coloco Zakuro, Onigasaki e Makino, pois todos foram desenvolvidos de forma tal, que fiquei espantado com o fato de não serem rasos ou toscos como pareciam logo de cara. Por fim tem o grupo que equilibra tudo, com o esquentado Anya, a medrosa Karin e o amorzinho de todos, a fofa Himiko.

Fechando esse núcleo de personagens, temos como ponto antagônico o divertidamente perigoso Paka, o administrador do jogo. O que mais gosto no vilão é o jeito ácido e ao mesmo tempo agradável com o qual ele se apresenta a todo instante. Ele é tão incerto que a cada episódio fica difícil o ler, de modo que não sabemos se está completamente imparcial aos meninos ou se simpatiza minimamente com os mesmos.

Somado ao ótimo elenco, toda a execução do anime é bem feita, com as cenas passando o peso correto, boas transições entre os momentos leves e os mais carregados, mesmo os planos de fundo tem um tratamento decente nesse aspecto. A direção também joga muito com a ordem dos acontecimentos, invertendo, acelerando, sempre buscando uma forma mais prática e orgânica de contar a história.

A animação em si não exagera na fluidez, mas tem uma arte bonita e é consistente, agregando ao resultado final. Se tem algo que eu destacaria como negativo, talvez essas sejam algumas das pontas que ficaram soltas, assim como eu disse sobre o último episódio.

A série se encarrega de desenvolver corretamente os protagonistas, porém como se espera de uma obra em andamento, coisas ficaram em aberto quanto aos mistérios do jogo. De todo modo penso que a experiência não sofre prejuízo por conta disso, até porque eles concluem o que era mais importante para o arco e o que tinha sido trabalhado até então.

Enfim, se buscam um anime diferente, meio doido, mas que saiba entreter e instigar quando precisa, Nakanohito Genome com certeza é um candidato decente ao posto. Eu aproveitei cada minuto e digo que ele vale ao menos a tentativa.

Agradeço a quem leu até o fim e nos vemos no próximo artigo!

 

 

 

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