O terceiro episódio de Jashin-chan Dropkick é um complemento e extensão do episódio anterior, com Pekora enfrentando a fome nas ruas de Tóquio e sendo socorrida novamente por Yurine, o que aumenta as incertezas da anjo. Mais da relação entre Jashin e Medusa, de devoção, exploração e afeição camuflada de superioridade (que Jashin abusa da amiga é inegável, mas que existe um sentimento lá no fundo, também não pode ser negado. Lá no fundo!). Além disso, a adição de uma nova personagem, Yusa, uma superpoderosa demônio do gelo, que é irmã da pequena Kori. O episódio tem menos violência, o que deixa claro que o sadismo de Yurine só se manifesta com Jashin e é exercido nela (como forma de punição?!) e o placar de tentativas da loira-serpente-demônio em matar sua “mestra” permanece inalterado, já que ela não ousa colocar em prática nenhum de seus planos mirabolantes. No geral, o episódio é morno em relação à mistura relativamente equilibrada entre o gore e a comicidade baseada no exagero e em algo mais físico apresentada nos dois primeiros episódios.

No começo do episódio, Pekora sente os efeitos da fome, ou melhor, da má alimentação, de ter que se contentar com o que não a sustém. Porém, sendo anjo, ela não pode reclamar, nem rogar por melhor sorte. E é natal, época de muitos pedidos ao Papai Noel. No entanto, ela não resiste e solicita comida ao “bom velhinho”. O que Pekora ganha ao suplicar aos céus? Jashin-chan alimentando-se diante dela, sem oferecer uma mínima parte e ainda roubando as cascas de pão que, naquele momento, formam a sua única refeição do dia. O que Jashin-chan ganha com seu ato de crueldade? O efêmero prazer de tripudiar com uma anjo e o sofrimento imposto pela tortura promovida por Yurine, inclusive, crucificando-a em sua árvore de natal. Como Yurine recompensa/indeniza Pekora, a anjo volta a se sentir confusa a respeito da garota, que ela precisa combater por considerar uma bruxa, mas que sempre estende a mãonquando a percebe em necessidade. A bruxa é o seu Papai Noel, ela chega a exclamar, em um reconhecimento um tanto envergonhado.

Jashin-chan provoca a faminta anjo Pekora: a face cruel da demônio.

Ainda que o conflito interno de Pekora receba mais um motivo para angustiá-la, a sequência, apesar de divertida, tem pouco impacto para o entendimento dessas relações, principalmente para a compreensão do motivo de Yurine invocar Jashin-chan, que, entre as demônios com aparição na série, é a que até o momento não mostrou nenhum poder especial.

Castigo à vista. A sádica Yurine não perdoa as “indelicadezas” de Jashin-chan.

O que nos conduz ao encontro entre Yusa, a demônio do gelo, e Jashin-chan no apartamento de Yurine. Yusa e a irmã Kori vão agradecer o modo gentil com que a sádica Yurine tratou a lolizinha do gelo. Mas Yusa tem segundas intenções em sua visita: confrontar Jashin pela maneira desrespeitosa com que ela se dirigiu à irmã. A briga é inevitável, e Jashin-chan tenta um método “heterodoxo” (um eufemismo para golpe baixo), o de acertar Kori – que, ao ser rebatizada por Yurine, passa a ser chamada de Koji – para aproveitar-se da lamentação de Yusa. Como a sua oponente é um demônio classe A e Jashin-chan entrega o que pretende antes de executar, a loirinha-serpente é derrotada, congelada e, novamente, espatifa-se no chão. Por sorte, ela que não tem sorte alguma, pode se regenerar. Jashin ganha mais uma personagem a dominá-la e surrá-la.

Kori, a lolizinha demônio do gelo que se apegou a Yurine.

Um expediente para aumentar as cenas de violência, e da graça a ela associado, mas que também torna premente algum olhar para o passado das protagonistas.

Yusa em defesa da irmã e da honra da família.

O melhor momento do episódio não tem relação com o humor negro, tão pouco com o splatter, mas com o cotidiano das personagens e os elementos de fantasia que integram a série. Para ser mais preciso, a amizade de Jashin-chan e Medusa, que novamente se move entre abuso, drama, ingenuidade e falta de honestidade em relação aos próprios sentimentos. Com Yurine instigando Medusa a não aceitar os despropósitos e a exploração de Jashin-chan, a demônio teme tornar a amiga um ser desprezível. O simples temor de Medusa gera a revolta da loira-serpente, que ofende aquela que é a única a tratá-la com real afeto. Há o rompimento, seguido de lamentações de Jashin-chan, que se embebeda com suco de morango, por perder seu “caixa eletrônico”. Mas Jashin-chan não é verdadeira com o que sente, sendo tsundere e uma aproveitadora de primeira com a amiga, que aceita essa condição e parece ser feliz ao perceber que Jashin precisa dela, seja como for. Yurine sente-se perdida no que tange à compreensão dessa estranha conexão.

Ofendida, Medusa não deixa barato e rompe com Jashin-chan. Um breve momento de lucidez , revolta e tristeza.

Apesar de ela ter razão em apontar a inútil que a loira-serpente tem demonstrado ser, a constatação gera outra vez a pergunta: por que ela invocou Jashin-chan? É engraçado o fato de Jashin-chan embriagar-se com suco de morango e depois abordar um sujeito na rua suplicando amor. E fofo e uma amostra da falta de malícia de Medusa (ou de uma percepção mais apurada?) a reconciliação entre elas. Porém, cada amizade tem a sua dinâmica, e a delas é um bom jogo de ações e sentimentos que tem Yurine como testemunha e, certo modo, funciona como o olhar do público.

A paz volta a reinar. Medusa não se emenda ou ela conhece Jashin-chan como ninguém.

No episódio, Baphomet aparece com mais frequência entre um “esquete” e outro, além da demônio que entra em cena no segundo episódio, com uma máscara de gás, à procura de Jashin-chan e acaba presa devido a sua estranheza. Ela está na mesma situação de Pekora: passa fome e frio nas ruas de Tóquio.

Jashin-chan Dropkick precisa apresentar mais elementos para iluminar o passado das personagens, para que faça mais sentido a presença de Jashin-chan na vida de sua invocadora. Yurine, pelo seu sadismo e olhar intimidador, deixa claro porque domina a loira-serpente, a questão é saber se ela acertou no ritual ou trouxe por engano a demônio desastrada. E, por último, mais aparições de Minos, a Minotauro que usa uma camiseta escrito 100% carne (há uma fina ironia aí), que no momento está subaproveitada.

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