Foi em busca da verdade que o Abbacchio e seus companheiros foram até a Sardenha, para revelar a verdadeira identidade do chefe da máfia e assim terem alguma chance de dar um fim ao seu reinado construído a base da degradação do povo italiano.

Abbacchio era um policial, se desviou do caminho pelo qual decidiu seguir, mas sempre continuou em busca da verdade, disposto a encarar problemas e perseverar mesmo em meio a dificuldades, até se ver de frente com a verdade absoluta dessa vida.

Antes de escrever mais sobre o Leone Abbacchio, preciso comentar o ataque não suicida, mas que na verdade foi suicida, do Risotto.

Que ele tentaria algo assim eu nem duvidava, mas vendo o estado do Doppio, ou do chefe que falava por meio dele, pensei que a dificuldade seria bem maior, ainda que o King Crimson fosse ativado, pois ele não só estava fraco como tudo também aconteceu muito rápido.

Mas não, King Crimson apaga o que acontece no período de tempo desejado pelo usuário, mas não é tão hack ao ponto de apagar os resultados. Então no final as balas acertariam alguém, como era para ser, esse alguém só não era ele, mais ou menos como o caso do pé mutilado.

Mas diferente porque o King Crimson é capaz de interagir com o que está a sua volta, o Epitaph só tem uma opção de spoiler.

A forma como o poder foi usado que foi estranha, mas vamos lá, se ficar divagando sobre as minucias dos poderes, e quais minucias são descartadas ao longo da jornada, não terei tempo para comentar o que foi mais importante.

O ataque suicida não suicida de Risotto.

Enfim, o Risotto vira Prosciutto – desculpa, queria mesmo fazer essa piada – e então a situação muda de figura. Passa a ser uma caçada aquele que usou o Aerosmith do Narancia para terminar seu serviço de assassinato.

O Narancia sem o Bruno nunca que acharia o assassino, já o Narancia com o Bruno foi outra história, o problema foi que o inimigo estava jogando dentro de casa!

Enquanto isso, o Leone usava o Moody Blues para voltar à cena da foto.

Omitiram a Trish falando aos companheiros disso, mas isso não era tão relevante quanto mostrar como ele conseguiu escapar sem ferro no sangue – sapos têm tanto ferro assim? –, fez uma atrocidade daquelas com uma criança e se misturou a outras para preparar uma armadilha que só pegaria alguém que sairia de seu caminho por bondade.

O “engraçado” é que de todos o Leone era o mais desconfiado, o mais focado no objetivo e ainda assim ele saiu de seu caminho para ajudar umas crianças. Não faltava empatia em seu coração!

Abbacchio e o Stand criado apenas para esse momento.

Um personagem não precisa, não pode e não deve ficar preso só a sua caracterização, como se fosse um robozinho incapaz de desviar o curso. Pode ser bobo o exemplo que vou dar agora, mas uma vez mudei o caminho que fazia e fui assaltado.

Sim, o imprevisto acontece quando você faz algo que não está no roteiro. A gentileza de Leone Abbacchio foi bem isso, não que ele fosse incapaz de ajudar os garotos a pegarem uma bola, mas era algo que ele não precisava, poderia ou deveria fazer ali, não à toa que foi seu penúltimo ato em vida.

Leone Abbacchio perdeu a vida em uma fração de segundos, um misto de surpresa e consternação por ter que deixar seus companheiros pelo caminho, mas não sem um último esforço. A quintessência de uma vida passageira, mas nem por isso alheia a verdade.

Diante de uma tragédia prestes a acontecer.

E então após a morte a cena dele no pós-vida com seu antigo companheiro de farda se desenvolveu. Como o Araki é extremamente cruel e extremamente gentil ao escrever a morte de um personagem principal em Jojo, não é mesmo? Se assistiu outras partes da obra sabe do que estou falando.

O fato é que o maior remorso do ex-policial era a propina que recebeu e no que aquilo resultou. Abbacchio se desviou do caminho que achava certo, ele errou e pensou que tivesse jogado sua vida fora devido a isso, mas só até encontrar o Bucciarati e fazer parte de seu grupo.

Perceba como o Abbacchio é de uma fidelidade a verdade até que espantosa, pois, é verdade que ele errou e por isso saiu da polícia, mas também é verdade que foi a gentileza e a coragem de Bruno que o salvaram e inspiraram, e por isso ele não seria capaz de trair esse sentimento, ele não conseguiria trair a verdade em seu coração.

Essa “fixação” pela verdade se torna ainda mais forte se observarmos as circunstâncias de sua morte, pois ele morreu do nada, de forma abrupta e violenta. No máximo tivemos a certeza de que instantes antes de tudo ocorrer o grande vilão estava por ali, que isso era possível. Mas nada foi dramatizado e indicado dando a entender que seria exatamente isso.

Abbacchio se foi como quem dá de cara com a verdade sem preparo algum. De forma abrupta, violenta; impactante e definitiva. Tudo porque não é da mentira que estamos falando, não é de algo que na realidade é outra coisa, mas da verdade e não existem tantas verdades absolutas no mundo que nós conhecemos hoje, mas com certeza uma delas é a morte.

A verdade irremediável, a verdade que nos persegue ao mesmo tempo que nos fascina, e que gratifica por tudo que passamos, por tudo que lutamos, tudo que construímos nas nossas vidas!

Mas nunca, nunca é um adeus. Abbacchio vive dentro de nossos corações!

Até o fim, e até depois do fim, Abbacchio não desviou seus olhos da verdade, seja a verdade do que de ruim ele fez, seja a verdade do que de bom deram a ele. Talvez só faltou compreender melhor as benfeitorias que ele fez para seus companheiros, mas, acredito que as palavras de seu companheiro de farda de outrora também o salvaram.

Se pensarmos em seu Stand, ele foi um reflexo perfeita de sua personalidade, pois seu maior poder era ser capaz de revelar as verdades contidas em qualquer tipo de situação. A verdade trabalha apenas com fatos, ainda que tais fatos deem vazão as diversas interpretações comuns a uma criatura tão subjetiva como o ser humano, e assim era Moody Blues!

Então entra a reação de seus companheiros e como a produção do anime foi sensível com o trecho, não foi mesmo? A David Productions não comercializa um produto, ela produz arte em animação, e Vento Aureo talvez seja o ápice disso.

A dedicação com a animação em certos momentos, o encaixe da trilha sonora, a atuação dos seiyuus, a escrita do roteiro – por vezes sucinta, mas jamais rasa – e diversos outros detalhes. Jojo é respeitado em uma adaptação que faz jus a toda a sua grandeza.

As lágrimas me escapam sim em trechos como essa da morte do Abbacchio, elas brotam de meu rosto antes ou depois de tudo que aconteceu, mas porque tudo aconteceu; foi tão bonito, tão verdadeiro.

Sejam as cenas do Narancia chorando desesperado, sejam as cenas dos outros incrédulos; um Mista que sempre reage a tudo sem conseguir esboçar qualquer reação, um Giorno perplexo como se não fosse capaz de acreditar que aquilo era tudo, ou a do Bucciarati tendo que ser prático quando tenho certeza de que ele se culpava mais que todos e sofria tanto quanto qualquer um ali.

Tudo, tudo foi o melhor que eu não esperava. Triste, agonizante, incômodo mesmo, mas, acima de tudo, verdadeiro!

E como tudo em Jojo, há uma cena na qual parece que o destino faz sua parte, o Giorno é empurrado para cima do corpo e isso faz com que ele revele o que há em sua mão, uma lasca de pedra que nada diria não fosse a presença do próprio Giorno entre eles. Por mais bizarro que isso possa parecer, esse foi o epitáfio de Abbacchio. A pista final para que consigam vencer o chefe, seu rosto, sua identidade.

Tendo sido bem-sucedido na missão que lhe foi incumbida – missão dada é missão cumprida! – nada mais há a ser remoído ou falado. Abbacchio morre justamente por isso, para revelar a verdade, e dar aos seus companheiros, aqueles aos quais ele confiou seus verdadeiros sentimentos, uma chance de irem além e chegarem ao âmago dessa verdade.

Dizem que a justiça tarda, mas não falha; só que isso é uma besteira, o que nunca falha é a verdade, pois, ainda que jamais seja revelada, alguém saberá o que foi ou o que não foi.

Serei sincero, acho que esse foi um dos melhores – e mais bem produzidos – episódios da história de Jojo; tudo para o personagem que vivia pegando no pé do protagonista, não era lá muito útil em batalha e eu achava o menos carismático entre os Brojos, mas que era um baita de um personagem bem escrito sim!

Mesmo não tendo tido o extenso desenvolvimento ao longo da trama que costuma fazer a cabeça dos críticos, foi muito bem trabalhado em momentos pontuais, e teve o desfecho digno de um herói marginal que em nada era esse herói, mas em tudo era humano!

Despeço-me agradecido por ter a oportunidade de escrever sobre um anime tão controverso, mas ao mesmo tempo tão incrível, emocionante e belo, cativante mesmo, como Jojo. Até o próximo artigo! E não esqueça do Abbacchio, de como o caminho da verdade pode ser duro, mas também gratificante!

Tudo nas mãos de seus companheiros que andam rumo ao futuro, sempre em busca da verdade!

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