No.6 (Light novel) – A cidade parasita – Primeiras impressões
No. 6 é uma light novel de Asano Atsuko, mesma autora de Battery. A obra não tem ilustrações e isso em nada atrapalha a experiência em comparação a outras light novels, pois sua narrativa é excelente.
Ao leitor é apresentada uma história instigante com protagonistas cativantes, e uma escrita dinâmica que faz muito com pouco. O primeiro livro possui apenas 160 páginas no total. A obra tem 9 volumes e seu mangá de 9 volumes foi lançado na íntegra no Brasil – também pela editora New Pop, a mesma casa da light novel.
Porém, parece que a light novel não vendeu tão bem, empacando no volume 5, e por isso precisa de mais leitores para ao menos finalizar a sua publicação. Como blogueiro, o máximo que posso fazer é indicá-la a você, caro(a) leitor(a), e é exatamente isso que eu farei no texto abaixo!
Na história acompanhamos Shion, um garoto que em 2013 vive na cidade utópica Number Six. No dia de seu décimo segundo aniversário, o menino, privilegiado desde cedo devido ao seu intelecto, literalmente salva a vida de um menino da mesma idade chamado Nezumi, um fugitivo.
Tal ação já é o suficiente para virar a vida de Shion de pernas para o ar, o fazendo aprender que tudo na vida tem um preço e que, como ele bem desconfiava, Number Six não é tão perfeita como é pintada. É a partir daí que os caminhos de dois garotos tão diferentes se cruzam e uma trama cheia de mistérios tem início.
Um simples ato de bondade pode sair caro? Pode, ainda mais quando tal ato também é motivado por curiosidade e uma perigosa inquietude. Shion é um garoto de 12 anos que tem uma vida perfeita, ou era isso o que ele pensava – e o entediava –, até abrir a janela de seu quarto e estender a mão para o misterioso Nezumi, um fugitivo com o qual tinha em comum somente a idade.
Porém, não é difícil entender a atitude do garoto, não quando sua ação não continha uma via de mão única, mas a troca de experiências pela qual seu coração se mostrava ávido. “Quebre! Destrua! O quê? Tudo! Tudo?” é um trecho grafado em negrito no livro e tem o destaque necessário para se fazer entender como um verdadeiro grito do fundo da alma de Shion.
Sua vida perfeita não era só entediante, mas vazia, e no que se refere a essa construção a narrativa do livro se sai muito bem porque bastam poucas páginas e o leitor consegue entender que falta algo ao personagem.
Falta emoção – o que supera a razão –, e é Nezumi, alguém com uma vida completamente diferente, que sacode o garoto e muda sua vida de uma vez por todas.
Não há mais volta para o que Shion fez e ele sequer se arrepende porque, repito, em nenhum momento o garoto considera o que fez como um ato bondoso e só isso; mas uma troca, a experiência que o tirou de seu mundinho perfeito e fez a vida fazer mais sentido, valer mais a pena.
Asano é inteligente, pois cria uma história com foco no público jovem e usa uma linguagem que pode ser facilmente assimilada por seu público. Além disso, não há desperdício de páginas ou enrolação. Se tem uma coisa pela qual No.6 é bom, é para ser lido; as palavras fluem e as páginas são devoradas e deixam o leitor pedindo por mais. Talvez se questionando sobre as escolhas narrativas, mas gostando do ritmo ditado pela escrita.
É assim que a autora constrói Shion, como aquele que perdera tudo e na altura de seus 16 anos não parece nada insatisfeito com a vida que leva. Pelo contrário, para ele ver a vida seguindo de acordo com seus esforços é aceitável, e por que não gratificante? Nada mais é dado a ele de “mão beijada” e, de tal forma, ele parece um pouco mais vivo. Mas claro que sua paz não iria durar e isso passa por algo muito relevante na história: a cidade. Number Six também é personagem!
Durarara!! não seria a mesma história sem a ideia de que Ikebukuro está viva, é uma personagem de fato e de direito em torno da qual a trama gira e seus personagens se movimentam. É o mesmo com No. 6. Não à toa é título da série, o que resulta na necessidade de que a cidade aja!
Sim, por meio de personagens que ainda não conhecemos a fundo, e mesmo quando conhecermos isso não vai mudar o fato de que a cidade tem necessidades que “devem” ser atendidas. No caso de Number Six a cidade preza pela lealdade de seus habitantes, é até por isso que Shion se envolve em uma conspiração com o objetivo de expurgá-lo dali. Shion é fiel ao que sente, não a uma cidade que segrega pela perfeição.
É então que o leitor é apresentado a abelha parasita que deve ganhar mais espaço no próximo livro e a Safu, a melhor amiga de Shion. A garota aparece por pouco tempo, mas em uma situação que serve bem ao propósito de aprofundar esse protagonista pela emoção em contragosto a razão.
Um diálogo muito bom se dá entre o jovem e a amiga, pois atenua o impacto que Nezumi tem em Shion, além de definir quais traços de personalidade serão destacados ao longo da narrativa dados os problemas nos quais Shion se meterá.
Ele é inocente, objetivo e extremamente passional, ao menos quando se trata de Nezumi, o que o torna até um pouco insensível ao lidar com Safu, mas não exatamente má pessoa – aliás, a declaração da menina é uma das cenas mais estranhas e divertidas que já li em um romance infanto-juvenil –, apenas alguém que processa as coisas e as encara de um modo incomum a maioria.
Logo que a cilada é armada é Nezumi quem aparece para salvar Shion das garras da cidade e, se antes ao co-protagonista falta tempo para se mostrar interessante como personagem, a partir desse trecho são suas ações em meio a fuga e após ela que esmiúçam sua personalidade, proporcionando ao leitor a agradável experiência de acompanhar uma relação de amizade que em tudo parece palpável e com toda certeza fica longe de ser um clichê retumbante apesar de não fugir à máxima de que os opostos se atraem.
Afirmo isso sem saber quais os rumos que essa amizade tomará, mas por Battery eu acho que tem chances da obra ao menos flertar um pouco com o shonen ai, o que não é problema se essa relação se mantiver sendo bem construída e não for apelativa.
No.6 acerta em: primeiro, solidificar a ligação entre esses personagens e segundo, a partir daí fazer esses personagens se tornarem íntimos um do outro. Após o bem bolado e dificultoso trecho da fuga o que resta ao livro é sua reta final, um clímax incomum e interessante que se dá por conta da “doença” ocasionada pelo parasita.
Elemento que não só age como ponto de virada para o jovem, mas o leva ao despertar com outro visual e uma mentalidade mais adaptada à sua nova realidade, como também é o elo que une Shion e Nezumi em uma ponta e Number Six na outra. Inclusive, há vários trechos que aguçam a curiosidade do leitor por saber mais sobre o passado de Nezumi e como isso justifica o rancor que “alimenta” pela cidade.
Não há maneira melhor de puxar o leitor para junto da trama, não à toa estou de coração partido, pois eu ainda não consegui pôr minhas mãos no volume 2 dessa belezura, mas é só questão de tempo e devo conseguir – muito também por causa da procura não ser alta, o que é lastimável. O livro é bom demais para ainda se encontrar tão fácil nas prateleiras.
Enfim, a febre da abelha parasita e o “ambiente” em que Nezumi mora são elementos que agregam a reta final do livro e tirando o fato da doença não ser praticamente imediata e, de tal modo, letal para ele – o que é meio estranho, fica parecendo um dos privilégios de protagonista que não deveria haver em uma história séria –, não tenho o que reclamar.
Aliás, tenho, e é referente ao livro ser tão fininho, pois acredito que com mais páginas a história teria potencial para ser ainda melhor. No geral No.6 não é um “primor”, mas possui mais qualidades que o contrário. É o iniciar com pé direito de uma série de livros que tem bem mais a oferecer para o leitor!
P.S.: A obra possui um anime de 11 episódios exibido pouco após o término da light novel, mas que é condensado para adaptar o material original da maneira mais fiel possível, só que conta com um final alternativo, então se você já leu o mangá, ou ficará só na novel, pode ser uma pedida interessante. O anime foi produzido pelo estúdio Bones e exibido no bloco noitaminA, a casa de animes como Koi wa Ameagari no You ni, Banana Fish, Wotaku ni koi wa Muzukashi, Tokyo Magnitude 8.0 e The Promised Neverland, isso só para citar alguns dos bons títulos que saíram no bloco. Se quiser dê uma conferida. Farei isso alguma hora, mas devo devorar o material original primeiro, espero que a NewPop ajude…
Letty
Nem acredito que estou lendo um artigo ou coisa do tipo de No.6 por aqui. Essa incrível obra que até hoje espero o reencontro dos dois, me quebrou muito o coração em vários momentos mas também me fez amá-lo. <3
Como sempre vocês estão de parabéns e obrigada por essa ótima leitura, ler algo bem feito por uma coisa que gostamos é uma sensação boa. :3
Kakeru17
Fico feliz que tenha gostado do artigo, mas, principalmente, da obra, pois NO.6 merece mais amor, a light novel tem que ser lançada até o fim pela New Pop. Vou me lembrar de encher o saco deles sobre isso na primeira oportunidade que tiver, mas primeiro vou tratar de comprar logo os outros livros e eventualmente mais artigos da light novel, e quem sabe do mangá e do anime, devem pintar por aqui. Agradeço o comentário, boas leituras sempre devem ser incentivadas!