Centenas de anos no futuro, a humanidade abandonou a Terra e expandiu sua civilização para dezenas de novos planetas habitáveis. Séculos após as primeiras colônias interplanetárias serem estabelecidas, os seres humanos se encontram divididos em três grandes forças político-militares: o Império Galáctico, a Aliança dos Planetas Livres e Fezzan, um território autônomo que serve como entreposto comercial entre seus dois vizinhos belicosos cujo conflito está longe de ter fim. No ano de 796, forças do Império e da aliança se preparam para um novo combate, mas desta vez a engenhosidade e a impetuosidade de um jovem almirante imperial chamado Reinhard von Lohengramm e a sagacidade e a imprevisibilidade de um tímido oficial da Aliança chamado Yang Wenli mudarão não apenas os rumos da guerra, mas a história do universo para sempre.

Adaptado dos livros de mesmo nome escritos por Yoshiki Tanaka lançados originalmente entre 1982 a 1989, Legend of the Galactic Heroes (Ginga Eiyu Densetsu) é considerado tanto por fãs japoneses quanto por fãs ocidentais como um dos maiores animes já produzidos. Lançada no formato OVA entre 1988 a 2000, a série original é composta de 110 episódios que contam a trajetória cheia de intrigas e reviravoltas de Reinhard e Wenli, sua rivalidade, admiração mútua, alegrias e tristezas na guerra entre o Império Galáctico e a Aliança dos Planetas Livres. Há ainda 52 episódios contendo histórias paralelas das centenas de personagens da obra e 3 filmes.

Em 2015, quando a notícia de que a Production IG (estúdio responsável por adaptações e séries originais como Ghost in The Shell, Haikyuu! e Psycho Pass) produziria um remake da série, admiradores dos livros e da primeira adaptação se dividiram entre a ansiedade otimista e a dúvida mais pessimista. Informações sobre roteiristas, diretores e formato inicial (uma primeira temporada composta de 12 episódios seguida de 3 filmes com duração de 4 episódios cada) só aumentaram a desconfiança. Seriam os responsáveis pela nova adaptação capazes de reproduzir todas as qualidades que fez a primeira adaptação ser um das obras mais cultuadas da cultura pop nipônica? Com apenas um episódio lançado, não é possível responder a este questionamento de forma definitiva, mas já se pode dizer que a IG e seus associados entregaram uma competente introdução à nova série.

Comecemos pelos pontos francos: o design de personagens, numa tentativa de modernizar seu visual e fazê-lo mais palatável ao gosto contemporâneo, acabou tirando um tanto da personalidade marcante presente no original deixando-o mais genérico. As canções de abertura e encerramento são notadamente inferiores às da primeira temporada do OVA (ouçam vocês mesmos se quiserem). A trilha sonora original, composta por dezenas das mais populares peças da música clássica ocidental, foi substituída por faixas extremamente pálidas, cuja única função é ocupar espaço. A decisão de mostrar o episódio quase todo do ponto de vista do Império é discutível, embora eu entenda que tem seus méritos (especula-se que o segundo episódio mostrará os mesmos eventos do ponto de vista da Aliança). Por conta disso, porém, a participação de Yang Wenli se resumiu a uma mensagem à frota planetária interceptada por forças imperiais, embora a reação de Reinhard ao final já mostre que as coisas não serão tão fáceis quanto ele imagina.

Dos pontos positivos, destaca-se o CG utilizado para renderizar os cruzadores espaciais de ambos os lados, além do dinamismo das batalhas. Quem viu a série original há de concordar que as cenas de guerra envolvendo as naves espaciais não eram das mais empolgantes, salvo algumas exceções. Por mais que o uso indiscriminado de computação gráfica para representar objetos mecânicos e veículos tenha tirado boa parte do brilho dos profissionais de design da área, é necessário tirar o chapéu para o IG, um dos estúdios pioneiros neste tipo de animação e que fez um bom trabalho neste episódio. Houve boa condução no desenrolar das batalhas, nos torpedos laser, nas explosões e na movimentação dos cruzadores. O trabalho dos dubladores me pareceu correto, embora seja impossível não sentir falta das vozes originais (muitos dos quais infelizmente já faleceram ou se aposentaram).

Legend of the Galactic Heroes: Die Neue These, apesar de um primeiro episódio longe da perfeição, ofereceu mostras de que esta nova série pode entregar momentos satisfatórios tanto para os novos fãs quanto para os apreciadores dos OVAs oitentistas e noventistas. Se esta promessa será cumprida só o tempo dirá. No momento, o que posso dizer é que se trata de um produto altamente recomendável, e que se for capaz de despertar a curiosidade e o interesse pela série antiga, já terá cumprido um bom papel. Aguardemos o que as próximas semanas irão nos mostrar.

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