O caminho para a escola da Chio-chan é um percurso em que o absurdo domina.  Porém, não se pode afirmar que seja despropositado, já que a irreverência e a crítica social (e comportamental) estão por todos os lados. Rir da e com a Chio-chan é um programa imperdível, e o segundo episódio mostra que exagerar a realidade é a melhor forma de desnudá-la.

Chio-chan é uma nerd, viciada em games, que sempre está atrasada para a escola, visto que passa as madrugadas jogando, alucinada, incontrolável. Pela manhã, a gamer girl está no limite, pois tem medo da exposição pública: uma punição aplicada pela direção do estabelecimento de ensino. Algo que a timidez da garota não suportaria.

O segundo episódio começa com Chio-chan enfrentando um membro de uma gangue de motoqueiros. Aliás, o bandido pode ser o irmão mais velho do Nitta, de Hinamatsuri. A situação que se apresenta à garota é um dilema. A motocicleta no centro do caminho, à direita, o motoqueiro, e à esquerda, o espaço possível para se atravessar. Mas o problema é que há um homem indeciso, com medo – que Chio diz ter jeito de gerente geral –, que está posicionado justamente no outro extremo da passagem à esquerda. Ambos tentam passar pelo corredor livre. Só que o velho se apavora e empurra a garota que acaba por queimar a perna no escapamento da moto.

Chio-chan na encruzilhada: se ficar, atrasa-se para escola. Se correr, a porrada come. Desastre à vista.

A confusão está armada (e o homem se evadi, alegando um compromisso). O arruaceiro agarra Chio pela gola do uniforme, que, em um golpe de sorte, acerta uma cotovelada no meliante, que desmaia. Então ela, preocupada que outros possam também se queimar, decide desobstruir a rua tirando a moto do caminho. Mas sem querer derruba o veículo no chão, e pouco tempo depois, o bandido recobra a consciência. O que resta à garota é improvisar. Ela finge ser uma assassina, a Bloody Butterfly, que atua no submundo, usando a linguagem dos jogos para a sua encenação, até mesmo as condições física e psicológica dos jogadores. A sua transfiguração é hilária. E o diálogo interno de Chio torna a cena ainda mais insana, já que precisa controlar o medo, manter a frieza, “pagar” de vilã, mostrando o quão é lamentável a vida no crime. A sua capacidade de ação e domínio da situação são impressionantes. No fim, a Bloody Butterfly chega a escola na garupa da moto, o último passeio de um delinquente. Impagável!

Atuação mais que perfeita: a Bloody Butterfly nasce.

Na segunda parte do episódio ocorre a apresentação de Manana, a única amiga de Chio até a aproximação de Yuki Hosakawa (evento do primeiro episódio). Chio e Manana estão a caminho da escola, observando o comportamento dos alunos que ingressam no ensino médio e logo começam a namorar: o romance dos noobs (dos iniciantes, amadores), como as garotas classificam essa atitude. Isso até os casais formados se desfazerem quando o entusiasmo passa e chegam as férias de verão. Chio e Manana também não têm experiência com relacionamentos amorosos, apesar de suas teorias de como proceder no decorrer do ensino médio (a divisão do tempo entre namoro e período de estudos).

A curiosidade das garotas: a bela e popular Hosokawa-san escutando uma declaração de amor.

Depois das observações desdenhosas e tenazes, elas veem Hosokawa-san, a super corredora, ídolo do clube de atletismo, e o capitão do time de basquete. Um belo casal, que faz Manana sentir o peso de estar sozinha. Então, de repente, eles entram em um beco. A curiosidade (a expectativa pelo flagrante de uma cena erótica) e um gosto estranho por escândalos fazem as amigas segui-los. As garotas testemunham a confissão do capitão a Hosokawa-san, que o dispensa respeitosamente. A situação se complica quando eles estão prestes a deixar o beco e Chio e Manana não têm tempo para recuar. A solução: fingir que estão se beijando. Os lábios próximos, a ponto de se tocarem. E o momento constrangedor quase se torna o primeiro beijo delas. A sequência toda é bem reveladora do que a série pode apresentar: lidar com anseios, frustrações, indiscrições e os mais variados sentimentos extraindo o que há de disparatado em um cotidiano com seus encontros e desencontros.

No dia seguinte, Chio encontra Manana e Hosokawa-san juntas. Após o susto inicial, ela se sente feliz, já que agora são um trio e ela é o centro de um reino de alegria, enxergando-se como rainha. Um sentimento normal, ainda mais para quem não está acostumada com esse tipo de composição amigável (principalmente ela que sempre se coloca abaixo do mediano, seja para o que for). Só que o estado de contentamento logo é cortado pela “faca da traição”, já que Chio percebe que foi usada como trampolim para a ascensão social de Manana rumo à popularidade. Fingindo-se descolada e experiente sexualmente por se envolver com um universitário quando frequentava o ensino fundamental, ela atrai a atenção de Hosokawa-san contando uma aventura, assim isolando Chio. Porém, após desprezar um homem considerando-o inferior pela aparência, Manana descobre que Hosokawa-san é a instrutora de cooper dele e que o sujeito é presidente de uma empresa. A gentileza de Hosokawa-san é infinita.

A doce vingança de Chio-chan: despertando Manana de seus sonhos de grandeza.

Da sensação de menosprezo e do peso da deslealdade, Chio-chan se deleita em tripudiar de Manana, que retorna ao “grupo dos normais”. As expressões de Chio são as melhores, sente-se o prazer dela em provocar a amiga. Uma pequena lição que faz parte da amizade. Manana confessa a mentira, o que deixa Chio feliz pela amiga não ter tido o seu primeiro beijo com um pedófilo. A generosidade de Chio – devemos lembrar dela retirando a moto do caminho, no primeiro esquete do episódio, para evitar que alguém se queimasse no escapamento – faz com que ela aceite de volta Manana, sem grandes complicações. E juntas elas desmascaram o colega de corrida de Hosokawa-san, que inventou um prestígio profissional por se sentir nervoso por uma garota bonita ser cortês e solícita com ele. Revelar essa verdade proporciona satisfação às garotas. Mas Hosokawa-san perdoa o homem, já que correr é realmente uma paixão para ele. A gentileza de Hosokawa-san é infinita, parte II. E o quarteto, divertindo-se, chega à escola desfrutando a alegria de uma ótima corrida. É extremamente engraçado o professor questionando quem é o “tiozão” com as alunas (para ele, assustador e intrigante… afinal, precisa zelar pelos seus alunos).

Um quarteto feliz em apenas correr. Ou o tiozão está destoando nessa harmonia juvenil?

A preocupação com a aparência e a imagem que transmitimos para o outro, no que concerne à nossa posição em determinada configuração social, de popularidade ou de reconhecimento intelectual, fazem parte do que vivemos no dia a dia. Chio-chan no Tsuugakuro transforma a realidade na melhor fonte de exposição do contrassenso (e de como o ridículo é algo tão humano) que é viver. E se for no caminho para a escola, tudo se torna mais absurdo ainda.

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