Na natureza, alguns animais, como as abelhas, formigas e, nós, seres humanos, se organizam em sociedades com a finalidade de sobrevivência e perpetuação de suas próprias espécies. Portanto, a sociabilidade faz parte da nossa natureza, e por mais introvertido que uma pessoa seja, ela é obrigada a conviver com outras pessoas, afinal, viver em sociedade é fundamental desde os primórdios da civilização humana.

Todavia, existe uma patologia que contraria essa importante características de sermos sociáveis, que é a fobia social. A protagonista desse anime abordado neste artigo claramente sofre desse transtorno. Vale ressaltar que fobia social é diferente de ser tímido, pois timidez é uma das características da personalidade humana, e não uma doença. Mas, quando há um excesso de timidez a ponto de prejudicar a própria pessoa, talvez possa ser um caso de procurar ajuda médica.

É interessante notar que durante o episódio, a Hitori Bocchi (se não me falhe a memória, é um trocadilho para sozinho (a) ), apresenta diversos sintomas desse transtorno de ansiedade.  Para começar, ela foge da realidade criando uma ilusão de que a turma dela terá pouquíssimas pessoas, depois ela arma um plano “mirabolante” para que ela seja a única de sua classe, assim evitando contato social. Ela também apresenta sintomas psicossomáticos como câimbras e vômitos devido a estresse enorme ao ser exposta a situações consideradas desconfortáveis.

Além disso, Bocchi tem uma personalidade afável, cautelosa, determinada, atrapalhada e ingênua. Devido à ansiedade social, ela complica coisas que para pessoas extrovertidas é simples até demais, como fazer amizades e se comunicar com as pessoas. O medo de ser receber um tratamento hostil por não saber se expressar é um das preocupações de quem tem esse problema. Assim como a protagonista, eu também sofro desse mal, mas não no mesmo estágio que o dela (ao invés de câimbras e vômitos, eu tenho, dependendo do nível do estresse, dor de cabeça e tremores). Mesmo fazendo parte deste blog há quase três anos, ainda não me sinto 100% confortável em escrever artigos, tão tal que depois que escrevo um artigo, eu não vejo mais o que escrevi, com medo de ter ficado ruim.

Deixando de lado a parte pessoal, é importante comentar sobre o ponto de vista de que está de fora. A amiga de infância da protagonista, embora bem intencionada, foi meio que imprudente ao fazer uma chantagem emocional à Bocchi. A intenção de Kai (acho que é esse o nome da única amiga da protagonista) é fazer que Bocchi resolva seus problemas por conta própria, e para isso deu um “empurrãozinho”, que no fundo vai acabar, em partes, dando certo, afinal estamos tratando de um anime que, apesar de abordar um tema delicado, quer passar uma mensagem positiva da forma mais leve possível. Entretanto, na vida real não é tão fácil resolver problemas quanto na ficção. Em se tratando de doenças de ordem psiquiátricas e psicológicas, nos quais ainda existem preconceitos em relação a elas, se faz necessário procurar ajuda médica e de familiares e/ou de pessoas próximas que sejam de confiança. Talvez a visão da Kai sobre a Bocchi fosse uma questão de falta de amadurecimento, pois a protagonista estava dependente de uma só amiga, mas antes de amadurecer, é evidente que a protagonista precisa de uma ajuda psiquiátrica, o que não vai acontecer por motivos óbvios.

A visão da primeira amiga que Bocchi fez em sua classe, também reflete o senso comum que as pessoas têm a respeitos de problemas psicológicos e transtornos mentais em geral. Para Nako, a Bocchi é somente uma garota esquisita, mas de bom coração, ou seja, ela não percebeu que a sua mais nova amiga sofre de um problema muito sério. Todavia, se ela notasse a gravidade do problema, todo o clima leve e agradável do anime sumiria. A proposta não é dramatizar (o que para muitos seria dar seriedade ao tema) o problema da protagonista, mas, não faz parte da proposta ridicularizar da situação grave da garota.

A tônica do anime está na Bocchi fazer novos amigos (a meta é fazer amizade com a classe inteira), mas a amizade não é a única forma de interação social que existe. É apenas uma delas. O que a protagonista precisa não é ser íntima de todo mundo, e sim ter um relacionamento cordial e natural com as pessoas. A amizade, embora seja importante, não é a prioridade e nem algo que deve ser forçado. Precisa-se cativar alguém primeiro, e cultivar o relacionamento semelhante ao que se faz com uma planta. Bocchi parece, à principio, ter escolhido Nako pelo fato dela se sentar na frente da protagonista, ou seja, foi usado um critério aleatório para se escolher um amigo. Se bem que esse pequeno detalhe ajuda sim na hora de interagir com um (a) colega de classe.

Nako é séria, porém, um doce de personagem. Engraçado que à primeira vista ela aparenta ser assustadora, até a professora tem medo da garota. Sua gentileza e paciência foram fundamentais para que ela aceitasse a aproximação de Bocchi. Outro ponto importante para o início da amizade entre as duas, foi a sinceridade de Bocchi para com ela.

A parte visual do anime é colorida, se encaixando perfeitamente com a proposta da obra. A ost cumpre com o seu papel e a animação é satisfatória, mas o que chama atenção no que tange a aspectos técnicos é o uso do ritmo samba (ou algo parecido) na trilha sonora do anime, algo que já foi apresentado (e que já havia despertado a atenção) ainda nos vídeos promocionais do anime.

Obrigado a todos que leram esta primeira impressão até o final, e até a próxima!

 

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