Midara na Ao-chan wa Benkyou ga Dekinai é um anime derivado de um mangá ainda em andamento e surge como uma das opções de comédia romântica curta – com apenas 12 minutos totais -, assim agradando até mesmo aqueles que querem otimizar o tempo para assistir mais animes.

A história de Ao é como aquele trecho da música “Eduardo e Mônica”: “festa estranha com gente esquisita…”, mas no caso dela isso se eleva a um nível absurdo e constante, no qual nós não conseguimos ficar sem nos compadecer da situação da protagonista encarando as pessoas ao seu redor.

Quando eu era mais novo eu me questionava o porque do meu nome parecer tão “pesado”, quando os meus coleguinhas de classe tinham todos aqueles nomes comuns tipo: Lucas, Pedro, Guilherme e afins – principalmente porque minhas professoras amavam me chamar pelos dois nomes e não por um só, como acontece normalmente.

Minha mãe queria utilizar o nome do meu pai, mas sem o Júnior ou Filho – para não tirar minha identidade própria -, com isso aproveitou pra homenagear meu avô chegando no meu nome. Graças a Deus a formação deu certo, mas me pergunto o que seria de mim se eles dois tivessem nomes bizarros.

Bom, Ao Horie é uma simples e inocente garota que sofre como uma consequência do ato pensado de seu pai, que escolheu seu nome com base nas suas viagens eróticas. Hanasaki Horie é um escritor de livros eróticos cuja excelência é largamente reconhecida, contudo apesar de popular seu trabalho não passa batido pelos vizinhos, que consideram a casa deles o antro da perdição.

Carregando o estigma de seu nome, Ao decide que não mais passaria pelo sufoco de ser considerada uma pervertida pelas escolhas e ações de seu pai, com isso ela assume uma personalidade mais dura e focada nos estudos – objetivando se livrar do assanhado que morava com ela e apartar sua imagem da dele.

Acho curiosa a relação entre os dois, porque o velho de fato leva suas inspirações a ferro e fogo, fazendo as coisas mais absurdas em nome do “ecchi”, ainda que para isso ele comprometa o contato com sua filha – a falta de noção dele é tamanha, que inclusive seu editor consegue sentir a aflição da garota.

Particularmente ele é o tipo de personagem que eu descreveria como “tenso”. Sendo sincero não criei antipatia a ele ainda, mas suas ações exageradas me fazem pensar que tipo pai é aquele, que não põe os sentimentos da filha em primeiro lugar, insistindo em ser desagradável com ela – mas ok, outros animes também tem isso.

No meio desse processo, Ao vive seus dias seguindo com firmeza o seu objetivo, abrindo mão da tão sonhada juventude escolar e não se deixando influenciar pela convivência com as garotas as quais não se aliou e menos ainda pelos garotos, que considera bestas famintas.

Correndo por fora e se tornando uma interferência na vida de Ao, se apresenta Takumi Kijima, que é um retrato perfeito do estudante normal no ensino médio. Uma vertente interessante na personalidade de Kijima é exatamente a forma como o ser normal é tratada na obra.

De modo geral os comuns ou normais são vistos como pessoas genéricas, sem destaques positivos ou negativos – sem relevância mesmo -, mas sob a ótica da protagonista, o ser normal é exatamente o oposto e Kijima cobre bem as descrições que ela cita.

Ele é gentil, simpático, tem uma aparência decente e é bem relacionado com todos. Pesando isso na balança, Ao o classifica como uma pessoa superficial que apenas oculta seus desejos carnais latentes, se igualando a todos os homens, logo digno de aversão – partindo do princípio que todos são cópias do seu pai.

Kijima tem uma postura bacana e que me agrada nesse começo da obra, porque ele contrasta com o pai da protagonista e cria um ponto de equilíbrio na vida dela. Hanasaki não mede esforços pra expor a filha – inclusive concluindo que ela está no “cio” – e ainda sim, em sua inocência e decência, o menino a respeita e a defende mesmo que não tenha noção do que os cerca.

Apesar de ter planejado dar um basta na aproximação com ele, as ideias de Ao falharam por tolice da mesma. Se analisarmos com atenção, ela inicialmente devia ter pensado na interferência de seu pai antes da conversa – já que percebeu que ele a tinha sacaneado no momento do sutiã, imagino que ela sabia que esse tipo de coisa não era improvável.

A outra coisa é que considerando a sua obstinação, ela deveria ter sido logo firme e encerrado o assunto, mas o tempo que levou tentando ser educada foi fatal para que seu destino fosse selado. Kijima aproveitou a lentidão da garota e se confessou antes que ela agisse, bagunçando a partir daquele momento sua vida.

Apesar de ter toda aquela aparência e uma certa rudez, Ao parece mais se esconder sob a capa da pessoa que tenta ser limpa. Se julgarmos pelos pensamentos que tem ao longo do episódio, dá pra ver que a mente dela é bem avançadinha – certamente um resultado da convivência com o pai – e nisso, acho mais fácil ela se colocar em situações difíceis do que Kijima.

De modo geral, essa foi uma estréia da qual gostei bastante e acho que o potencial pra sair algo bom existe. A abertura é bem dinâmica e a musiquinha pop é bem legal, a arte e animação do anime também não decepcionaram – como esperado dos slices da Silver Link.

Eu me diverti bastante, acho que o timing cômico da obra foi acertado – sem exageros -, fora que já deu para perceber que nossa protagonista vai ter um longo caminho pela frente nessa tentativa de se livrar da luxúria que a cerca principalmente a sua, vamos ver o que será de Ao até o fim disso.

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