Bom dia!

Dead Leaves é um filme anime de 2004, original, escrito e dirigido por Hiroyuki Imaishi no estúdio Production I.G. De fato, foi a estreia de Imaishi na direção.

Por que criamos coisas? Há uma enormidade de respostas legítimas para essa pergunta, mas quando se trata de uma coisa lançada comercialmente, como no caso de um anime, na maioria das vezes é porque queremos agradar, de alguma forma (uma mensagem, uma emoção, tanto faz) quem vai consumir – assistir.

O que não impede que haja muita coisa lançada por qualquer uma das outras razões possíveis. Por que criamos arte? Às vezes, é apenas para nós mesmos. Ou para provar que somos capazes. Todo mundo precisa começar em algum ponto.

Não estou dizendo que li os pensamentos do diretor Imaishi, nem que de alguma outra forma eu sei suas motivações íntimas por trás da produção de Dead Leaves, mas a ideia de que ele fez simplesmente porque pôde fazer (pela primeira vez na vida!) me fascina.

 

Pandy

 

Quando escrevo sobre Hiroyuki Imaishi, estou me referindo ao diretor de Gurren Lagann, de 2007, no estúdio Gainax. Também no Gainax, ele ainda dirigiria Panty & Stocking with Garterbelt, em 2010. Depois disso o estúdio entraria em crise, mas não Imaishi.

Em 2011, ele e Masahiko Ohtsuka fundaram o estúdio Trigger, pelo qual Imaishi foi diretor produtor de Inferno Cop em 2012, e diretor de Kill la Kill em 2013 e Space Patrol Luluco em 2016. Em seu trabalho mais recente, fez os storyboards das sequências de ação de Darling in the FranXX, de 2018, produção conjunta dos estúdios Trigger e CloverWorks. Ainda esse ano deve estrear Promare, filme dirigido por Imaishi e produzido pelo Trigger.

Já deu para ter uma boa ideia de quem eu estou falando, não é? Se nunca ouviu falar da pessoa mas já assistiu algum desses animes, deve conseguir pelo menos imaginar uma estética bem específica. Super-colorida, saturada, veloz, cartunesca.

Tudo isso começou como uma grande explosão criativa, uma fuga da prisão das ideias, em Dead Leaves.

 

Isso que é fuga da prisão!

 

Não espere muito da história. O filme começa com um homem com cabeça de televisor e uma mulher com uma marca vermelha ao redor do olho direito subitamente acordando nus, sem memórias, no meio de uma cidade.

Recuperar as memórias é um troço importante e ao longo do filme a mulher se mostraria razoavelmente preocupada com isso em mais de um momento. Ok, não muito, mas mais que o homem, pelo menos, que não poderia se importar menos. Em todo caso, eles têm problemas mais imediatos para resolver: roupas e comida.

E na falta de nomes, ele a chama de Pandy (porque a marca ao redor do olho seria parecida com a de um panda) e ela o chama de Retro (porque era um modelo de televisão antigo).

Eles roubam roupas e comida. Depois de uma fuga frenética da polícia, acabam presos e são enviados para Dead Leaves, uma prisão na Lua cujos presos, eles descobrem uma vez que estão lá, são todos clones defeituosos. A instalação na verdade serve para a produção de soldados mutantes.

As memórias de Pandy e Retro não voltam tão fácil, mas eles curiosamente apenas sabem de várias coisas dentro da prisão, como abrir as celas, tirar as algemas, para que lado fugir, onde fica o quê, etc.

 

Como é que eles simplesmente sabem tudo?

 

Como eu já escrevi, porém, não espere muito. Dead Leaves é melhor apreciado como uma prova de conceito do estilo de animação que caracterizaria Hiroyuki Imaishi até hoje.

Se fizer questão de que eu me esforce para ler algo nas entrelinhas, suponho que eu possa dizer que os clones supostamente defeituosos de Dead Leaves podem ser horrorosos, mas eles são propositalmente feitos para ser assim e mesmo assim são mais resilientes que uma pessoa normal, em alguns casos mais fortes, e em outros possuem habilidades especiais.

Enquanto isso, as pessoas normais, não clones (defeituosos ou perfeitos) são todas iguais e aparentemente bem pouco competentes, mesmo com vantagem numérica e de poder de fogo, para impedir os clones defeituosos de fugir da prisão. Mas não leve isso a sério, por favor. Eu não estou escrevendo isso a sério, ok? Digo, isso está no anime, mas duvido que tenha qualquer significado mais profundo. Ponto.

 

Homens e mulheres são todos iguais

 

Como ponto de partida da estética Imaishi, Dead Leaves é um exemplo perfeito, mas tendo sido também o começo de uma nova fase em sua carreira é compreensível que possua alguns problemas. Ainda era uma joia bruta, que ele lapidaria em seus animes subsequentes.

Alguns cortes são rápidos demais, algumas sequências de quadros passam tão rápido que é impossível sequer enxergá-los. O resultado final é uma imagem indefinida formada por fragmentos de outras imagens, como uma colagem feita de qualquer jeito.

Em todo caso, é uma comédia com ação (muita ação, o filme inteiro é quase todo ação) e piadas sexuais (muitas piadas sexuais, o filme inteiro é quase todo piadas sexuais) bastante divertida, e sua duração de apenas 50 minutos garante que não vai dar tempo de ficar cansado.

Se todos os muçulmanos devem rezar em direção à Meca, se todos os caminhos levam a Roma, se toda criança de classe média nos anos 1990 sonhava um dia ir para a Walt Disney World e se toda forma de vida na Terra é baseada em carbono, segue que todo fã de Hiroyuki Imaishi deve assistir Dead Leaves, o ponto de partida de uma carreira singular.

 

Tudo começou aqui

 

  1. Sabrina-Chan Freitas

    Esse deve ser o primeiro filme de anime que precisei comprar para assistir ou que deu mais trabalho para baixar kkkk No tempo que consegui ver estava começando a me acostumar a baixar animes na internet, começando a gostar de anime legendado, faz mais de 10 anos kkkk Esse anime foi tão legal, ao mesmo tempo que não entendi direito kkk mas eu já tinha visto FLCL(furi kuri) então nenhum anime precisava fazer sentido ainda kkkkkkkkkkkkkk Luluco é um dos meus animes preferidos mas os outros animes do mesmo estúdio não me agradaram tanto assim.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá Sabrina, tudo certinho?

      Luluco é um dos únicos animes que eu citei mas não assisti, mas está na minha lista, um dia eu vejo! O outro que não vi é Inferno Cop e esse zzz…

      Acho que, como já está claro desde Dead Leaves, o trabalho do Imaishi é muita forma e pouco conteúdo. Bom, no caso de Dead Leaves é zero conteúdo, é só uma experiência visual divertida mesmo. Só que isso nem sempre funciona, né? Adoro Gurren Lagann, mas todos os demais eu só … acho legal, talvez? Como membro fundador, ele está envolvido em quase todos os projetos e isso afeta o estúdio Trigger como um todo. Um estúdio de animes legais, mas não necessariamente bons. A exceção é Little Witch Academia, no qual Imaishi teve envolvimento menor – em particular, passando longe da história.

      Aliás, Hiroyuki Imaishi trabalhou em FLCL também! Mas não no roteiro, hehe.

      No fundo, é um jeito de fazer anime. Foco na animação, que chama atenção por si só, e histórias com pouca ou nenhuma profundidade, feitas só para carregar a ação mesmo.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! 🙂

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