Kimetsu no Yaiba é originalmente um mangá de autoria de Koyoharu Gotouge. Em publicação desde 2016 a obra demorou a se estabilizar no mercado, mas graça a um esforço editorial da Jump o battle shounen conquistou seu espaço, atraindo atenção de um estúdio conhecido pelo grande público por seu trabalho de excelência em animação, e nos outros quesitos de produção em geral: o ufotable.

A franquia mais marcante com a qual o estúdio trabalhou com certeza é a de Fate, mas não estou aqui para falar disso e sim tecer minhas impressões sobre a estreia da minha aposta para a temporada de abril. Kimetsu no Yaiba teve um primeiro episódio magnifico que fez jus a todo o hype para o anime!

Os sorrisos e o amor de uma família…

Logo no começo do episódio somos apresentados a uma situação que parece de vida e morte e dá a certeza de que a desgraça acompanhará os protagonistas dessa trama, mas antes disso é necessário contextualizar a situação deles para justificar o porquê desse acontecimento que agirá como gatilho.

É aí que somos apresentados a Tanjiro – o irmão mais velho de uma família com seis crianças na qual ele virou o homem da casa após a morte do pai.

Não sei ao certo o período histórico no qual Kimetsu se passa, mas não é nada estranho que no Japão de antigamente famílias tenham esse tamanho nem que morem em montanhas ou trabalhem tirando seu sustento da terra em que habitam. Então, nada mais normal que Tanjiro vender carvão para ajudar a complementar a renda familiar – assumindo um papel que seria de seu pai. Mas é no esforço das pessoas que o mal espreita para fazer seu banquete.

Mesmo com apenas poucos minutos fica clara a personalidade prestativa e responsável de Tanjiro, e também seu olfato super apurado, como se este tivesse boa “intimidade” com a natureza. Considero essa “habilidade” dele algo plausível se pensarmos que ele cresceu nas montanhas.

Tanjiro tem o olfato de um verdadeiro caçador.

Mas Kimetsu não é um slice of life e a parada dele antes de chegar em casa aliou os últimos detalhes que configuravam a tragédia certa. Como o Tanjiro mesmo narra na ida e na volta, a destruição da felicidade vem com o cheiro de sangue. Um cheiro que ele era capaz de sentir, que era capaz de contorcê-lo em desespero.

Tanjiro chega e o que vê é um cenário horrível, praticamente toda a família morta e apenas a certeza de que existia um cheiro estranho ali, o cheiro do culpado!

Observe como a direção e o roteiro foram providenciais para contextualizar a existência de onis, quais eram suas atividades e como o massacre era algo frequente nessas histórias, mas também que não eram uma força contra a qual os humanos não eram capazes de lutar. Afinal, se existem caçadores de onis, existem meios para parar esses onis!

… maculados pelo cheiro do sangue.

É claro que Tanjiro não ia se empertigar por isso, não achando que era apenas uma história replicada pelos mais velhos. Mas a tragédia aconteceu e só restava a ele buscar ajuda a irmã.

Eu fico pensando em como se sente alguém que passa por isso, ainda mais alguém que sequer pôde parar para chorar, porque a situação requeria mais de seus esforços, de uma força que seria aceitável se ele não tivesse.

É aí que o protagonista de uma história se diferencia dos outros personagens, aquele algo a mais que é necessário para enfrentar o desespero e se agarrar ao fio de esperança Tanjiro teve.

O choque de ver tudo o que você amava ser tirado de você!

A sensibilidade com a qual o momento dos irmãos é trabalhado foi mais um lembrete do quanto a produção da obra animada é qualificada, pois usaram de todos os artifícios possíveis para maximizar o apelo dramático, um muito coerente, que só engrandeceria mais a cena.

Não bastasse a animação espetacular, a trilha também foi pontual, assim como o trabalho de voz dos seiyuus. Não resta pedra sobre pedra, animes como esse não saem em toda temporada, nem são apenas forma, pois Kimetsu tem muito conteúdo!

A transformação em oni de Nezuko.

Tanjiro chora e faz de tudo para recuperar a irmã de seu transe. Eu não me lembrava que ela crescia, ficando também mais forte, quando em frenesi, mas mostrar isso, e mostrar que ela volta ao normal após a cólera, foi mais um dos detalhes necessários para provar a condição dela.

Sim, leio o mangá e até por isso me interessei em comentar esse anime. Além disso, a Nezuko protegeu o irmão após seu ato de desafiar o caçador de onis, e ela chora quando o vê chorando.

Se ela tivesse mesmo perdido a consciência por inteiro jamais teria essas atitudes e Giyu Tomioka pode ser frio e estar convicto sobre seu trabalho de exterminar esses onis, mas se há uma coisa que não lhe falta é bom senso.

Não foi só o que Nezuko fez e seu estado que mudaram sua forma de encarar a situação, claro, a determinação de Tanjiro para proteger a irmã, seu raciocínio rápido e ousadia provaram a Giyu que o jovem tem as qualidades para se tornar alguém feito ele. Rancor por onis, uma ligação com a natureza e o objetivo de fazer a irmã voltar ao normal.

A medicina dos humanos deve ser incapaz disso, mas se o oni que a fez ficar nesse estado intervir quem sabe uma reversão não seja possível? É isso que Tanjiro terá que buscar em sua jornada, mas para isso ele precisará se fortalecer, para não ser mais alguém fraco que é incapaz de ao menos proteger a própria irmã e a si mesmo.

É vendo o potencial latente do menino que o caçador o dá uma oportunidade, mas seu sucesso ou fracasso dependerão só de seus esforços!

Giyu Tomioka, guarde este nome, pois uma hora devemos revê-lo!

Tirando um pouco de CG em certas cenas de movimentação não tenho nada a reclamar da produção do anime, na verdade, até mesmo esses breves momentos nada mancharam a produção caprichada.

Seja na animação que se afastou do traço único do mangá, se aproximando mais do “apelo visual” do estúdio ufotable, na trilha sonora muito usada para facilitar a imersão nas cenas mais dramáticas, ou no trabalho de roteiro e atuação dos seiyuus; que deram um verdadeiro show ao contar uma história honesta que dramatizou o que precisava – não caberia, por exemplo, gastar mais tempo remoendo o massacre da família – e passou muita emoção. .

A seriedade apresentada nessa estreia é animadora, o potencial já podia ser visto nos trailers, mas esse potencial se provou real e não diz respeito apenas à qualidade técnica.

Como um animal, Nezuko protegeu o último de seu bando, a sua última família.

A história de Koyoharu Gotouge pode ser encantadora, dependendo da forma que ela for conduzida – se todo episódio for entregue com o esmero dessa estreia – e, é claro, de como a veia battle shounen de Kimetsu será aproveitada.

Em um mundo de humanos, mas também habitado por onis, quero ver como Tanjiro lidará com a vingança como força motriz para movê-lo e se não isso, como o objetivo de salvar a irmã abrirá seus olhos para o ódio e a violência e o fará se encontrar com a melhor versão de si próprio. Um homem que consiga orgulhar seus pais e irmãos falecidos.

É com a maior satisfação e convicção que afirmo que Kimetsu no Yaiba tem tudo para ser gigante e eu estarei por perto para ver isso acontecer! Você está ansioso pelo próximo episódio? Eu estou, então, até ele!

É hora de rezar pelos mortos, dizer adeus e seguir em frente!

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