Allen e Kirie encontram o portal, ainda fechado, sobre Rachma

Bom dia!

Kouya no Kotobuki Hikoutai é apenas o segundo anime do estúdio GEMBA, especializado em animação 3D. O primeiro? Berserk (2016). Mas não deixe que isso te assuste! Ao longo do artigo explico por quê.

Dirigido por Tsutomu Mizushima, que também dirigiu Girls und PanzerShirobako, e com enredo de Michiko Yokote, que além de uma longa lista de outros projetos já havia trabalhado com Mizushima em Shirobako, Kotobuki é a história de seis pilotas de avião de combate que trabalham como escolta de uma companhia de entregas em um mundo seco, com estética algo entre o Velho Oeste e o Diesel Punk, em que oceanos não existem e toda a comunicação e transporte entre as vilas e cidades é feita pelo ar.

É uma história leve, com mais momentos de bom humor do que de tensão, essa geralmente concentrada durante ou imediatamente antes e depois de suas deslumbrantes batalhas aéreas.

 

Foguetes propulsores instalados nos aviões do Kotobuki

 

Antes de começar a tratar mais a fundo de Kotobuki, porém, deixe-me tirar o demônio da sala: depois de Berserk, vale a pena dar outra chance para o GEMBA? Resposta curta: sim. Kotobuki representa uma volta por cima do estúdio? Resposta curta: não.

O projeto de Berserk teve muitos desafios, e para cada desafio houve um número bizarro de problemas e escolhas erradas. Não vou entrar em detalhes, leia essa matéria no Anime News Network (em inglês), que detalha cada um dos motivos pelos quais Berserk ficou tão hediondo.

Para o propósito dessa resenha, é suficiente dizer que quase nenhuma das circunstâncias de Berserk se aplica a Kotobuki, de forma que não são projetos comparáveis. Assim, vale a pena assistir Kotobuki, o anime ficou muito bom, animação inclusa, mas ele não representa nem remotamente uma espécie de desagravo à Berserk. A história de Kentaro Miura ainda ficaria ruim com a animação de Kotobuki (não há muitos aviões no mundo de Guts e Griffith, afinal). Menos ruim, mas ainda ruim.

Para a proposta bem humorada, clara e colorida de Kotobuki, porém, essa animação caiu como uma luva.

 

 

A protagonista é Kirie, uma das pilotas do Kotobuki, que é a esquadrilha de defesa da Companhia de Entregas Ouni, que possui um gigantesco dirigível porta-aviões chamado Hagoromo.

Kirie é quase uma genki girl, sempre bem humorada e positiva e às vezes um pouco distraída, mas possui uma camada reflexiva por trás. Ela passou a querer pilotar quando, em sua infância, conheceu um velho chamado Sab que vivia cercado de mistério fora da cidade onde ela morava. As pessoas o evitavam, mas Kirie não podia evitar a curiosidade.

Perturbando Sab dia após dia como uma criança hiperativa e curiosa, Kirie eventualmente conquistou a confiança e afeto dele, que por sua vez a mostrou pela primeira vez como era voar. Ela nunca se esqueceria daquilo, mesmo depois do velho Sab desaparecer sem deixar vestígio.

O Kotobuki é liderado por Reona, uma pilota mais experiente e mais velha que a Kirie. Mais séria, também, mas que normalmente não segue suas próprias recomendações de não tentar fazer nada sozinho e não se arriscar desnecessariamente. Esse é um defeito dela que Zara, a outra pilota mais velha do Kotobuki, mais calma, menos dada a estouros emocionais de qualquer tipo, a ajudaria a superar até o final do anime.

Completam a equipe outras três pilotas novas, mais ou menos da idade de Kirie: Emma, Kate e Chika.

Chika é apenas uma versão da Kirie com esteroides. O anime não revela muito sobre a vida ou as motivações dela, que na maior parte do tempo está apenas se divertindo (eu acho) implicando com a Kirie, com quem compete o tempo todo. As duas juntas são um furacão.

Emma é uma personagem de aparência calma e mais refinada, que vem de uma família que já teve posses, mas enganada seguidas vezes por trapaceiros, são hoje pobres. Como resultado, é difícil a Emma confiar em qualquer pessoa, não importa quão tentadora seja a promessa – ou talvez ela não confie justamente quanto maior for a promessa. Esse tipo de gente e de comportamento faz aflorar uma Emma assustadora, movida pela fúria dos justos.

E por último, a Kate. Fala pouco e possui pouca expressividade, mas é muito inteligente, capaz de memorizar uma enorme quantidade de conhecimento e de recitá-lo sempre que necessário, além de fazer contas e conversões numéricas complexas de cabeça em um instante. É a melhor pilota, todas dizem, o que não é nenhuma surpresa, mas até mesmo ela reconhece que Kirie, se superasse algumas limitações que possui, seria a melhor de todas.

 

O pôr do sol visto acima de uma pequena vila desse mundo

 

Garotas em veículos de guerra é uma receita semelhante a de Girls und Panzer, sem nenhuma surpresa. A diferença é que em Girls und Panzer as disputas são esportivas, enquanto em Kotobuki são batalhas reais.

Em um mundo no qual todo o transporte é realizado pelo ar, não poderiam deixar de existir os piratas aéreos, que tentam roubar cargas valiosas ou chantagear cidades pequenas com seu poder de fogo, e é por isso que todas as cidades e empresas de transporte possuem esquadrilhas de defesa.

Durante todo o anime, em todos os episódios, há incríveis combates aéreos, e nos primeiros episódios eles sempre se dão contra piratas. Depois a coisa fica mais complicada. Política e interesses empresariais mesquinhos ameaçam o mundo.

Nem sempre aviões existiram. Ok, isso vale para o nosso mundo também, aviões não são recursos naturais. O que quero dizer é que aviões não foram inventados no mundo de Kotobuki. Um dia, 70 anos atrás, um buraco se abriu no céu, e dele vieram o que os habitantes desse mundo chamaram de yufangueses, e com eles a tecnologia aeronáutica, dentre outras coisas.

O buraco se fechou, os aviões (todos japoneses da época da Segunda Guerra), fábricas e projetos ficaram, e o mundo nunca mais seria o mesmo. Ao longo do anime se descobre que esses buracos são fenômenos naturais mais ou menos previsíveis, e, como tais, podem abrir de novo em qualquer lugar. Quem dominar a rota entre esse mundo e Yufang certamente acumulará riquezas inimagináveis.

 

Kotobuki e a milícia de Rachma enfrentam os piratas das Indústrias Elite

 

Há toda uma subtrama política que se apresenta aos poucos ao longo do anime, inclusive desde bem antes da natureza dos buracos no céu (portais inter-dimensionais, na verdade) ficar clara. Se você tentar se concentrar nela vai se confundir, e não porque seja complexa, mas porque é rasa demais e nem sempre faz sentido. Não se deixe afetar por isso.

O que importa é que há dois lados em disputa, e essa disputa, se descobre depois, têm a ver com os buracos, e as garotas do Kotobuki são tragadas pelo conflito que até o final do anime irá conflagrar todo o mundo.

Quando estiver irritado com as manias das personagens e incomodado com a política sem noção, apenas aguarde pela batalha aérea do episódio: todos eles têm uma, e todas elas são muito boas.

A animação 3D foi definitivamente escolha acertada para dar vida a essas aeronaves, e as sequências de dentro do cockpit, em primeira pessoa, são particularmente emocionantes.

 

Um bombardeiro avariado entra no portal e explode

 

E é assim que o anime termina: com uma batalha aérea envolvendo centenas de aeronaves em seus dois episódios finais. Várias manobras de ás, sacrifícios heroicos, contra-ataques inesperados e a ajuda de velhos inimigos chegando na hora certa elevam a ação para acima da estratosfera.

Assista Kotobuki, especialmente se gosta de garotas em posições militares, mundos fantásticos misteriosos ou apenas de batalhas aéreas com aeronaves reais.

 

Kouya no Kotobuki Hikoutai

 

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