Kinoko Nasu é a principal mente criativa por trás da TYPE-MOON, portanto, é o responsável por escrever a série de livros de Kara no Kyoudai e as visuals novels de Tsukihime e do universo de Fate.

Nessa curta light novel, criada para um recital, somos apresentados a humanidade no ano 3000, ou ao que sobrou dela, e a uma personagem chamada de “Princessa”, que liga o presente ao passado, a Terra à Lua; de forma poética, bela e reflexiva. Vamos pegar um peixe no Coral da Lua?

O primeiro ponto notável do livro de pouco mais de 40 páginas e apenas 4 capítulos é a escrita não tão convencional de Nasu. As páginas fluem de modo natural enquanto é exposto o ponto de vista da Princessa, a personagem que vive em uma ilha marcada por um coral que veio da Lua.

A personalidade sarcástica e sincera da Princessa cativa o leitor ao passo em que ela tanto constata quanto contesta, acho até que bem mais o primeiro, a mudança de perspectiva que se abateu sobre a humanidade retratada na história.

Talvez o que eu mais tenha gostado nessa mini light novel tenha sido exatamente isso, a desistência da raça humana, o abandono a sua natureza expansiva e dominadora. Isso é incomum de ver na ficção e achei uma pena que a novel não fosse mais longa para ter explorado melhor esse assunto.

O que é explorado no conto é a história da avó da protagonista e uma coisa muito boa foi contar o passado tanto do ponto de vista da avó dela, quanto do humano que a fez ir da Lua para a Terra.

Apenas um ponto de vista, ainda que com o entendimento dos atos do humano visto o desfecho da história, não contemplaria a abrangência do que fora o relacionamento dos dois.

E, apesar da Princessa encarar o conto com seu sarcasmo e desconfiança característicos, a opinião do homenzinho com a qual ela fez amizade foi de suma importância para que quando a versão do humano fosse mostrada ficasse mais fácil de compreender a gentileza em seus atos.

Toda história tem mais de uma versão, toda ação tem mais de uma interpretação. Sendo assim, o desfecho da própria história da Princessa também comporta um tom poético, afinal, ela acaba ganhando um propósito ao interagir com o homenzinho, escrever livros, e, ainda que sem uma definição, é interessante ver a forma que ela interpreta o que é o amor.

A reflexão que a forma de ver o mundo e o amor dela sucinta é válida, mas, infelizmente, não se aplica tão facilmente a sociedade contemporânea. É raro ver pessoas que questionam a própria individualidade, que questionam o seu valor enquanto humanos da forma que a Princessa faz e acho que outra qualidade da narrativa é justamente isso.

Há um ambiente propício para esse tipo de questionamento e ele é feito sem pudor, com uma linguagem acessível, mas polida, bem articulada mesmo.

Inclusive, a ligação entre a Terra e a Lua, o que distingue a ilha na qual a Princessa vive, é apresentada e explorada de maneira natural ao longo do texto, seja através do retrato do passado ou das concepções dela no presente.

Tanto é que no fim fica até fácil enxergar beleza na história, algo que fica evidenciado pela conexão entre passado e presente, Terra e Lua e então Terra novamente. A vida que começou na Terra, se espalhou pela Lua e então foi parar na Terra, tudo sem deixar de existir por onde passou.

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