Dez dias após o dia das mães – que neste ano coincidentemente foi no mesmo dia do aniversário da minha mãe – e aqui está meu “artigo especial” sobre uma narrativa em que as mães têm os holofotes!

Tsuujou Kougeki ga Zentai Kougeki de 2-kai Kougeki no Okaasan wa Suki desu ka? – a tradução você confere no título – é uma light novel de autoria de Dachima Inaka e ilustrações de Iida Pochi.

A série é lançada desde 2017 e até ganhou um prêmio importante que ajudou a expandir sua popularidade, assim trazendo à tona um tema que costuma ser bem explorado pela ficção, mas em aventura não é comum que seja o central: a relação de uma mãe com seu filho. Que belo tema a explorar, não acha?

Na história somos apresentados a Masato e Mamako Oosuki, uma mãe bela, jovial e alegre que trata seu filho com muito amor e carinho. Ele um colegial que está naquela fase rebelde; pela qual você já deve ter passado ou ainda está passando, eu já passei.

Os dois são escolhidos para testarem um jogo produzido pelo governo com o intuito de fortalecer a relação dos filhos com as mães, e é nesse isekai de imersão completa – na realidade, eles são enviados em carne e osso para dentro do jogo – que as aventuras de Mamako e seu filho têm início.

Sim, desde o início um senso de suspensão de descrença é preciso, pois é tudo muito absurdo, desde a forma como eles entram no jogo, e recebem privilégios por cima de privilégios, até no que se refere a todas as outras conveniências que os permitem apenas se focar em se aventurar pelo mundo em fase beta.

Contudo, a obra tem forte tom cômico e isso não atrapalha os ótimos momentos no que mais importa: a relação de uma mãe com seu filho. Então sim, ela cumpre aquilo que se propõe enquanto desenvolve bem os personagens necessários para criar o contraste que realça o tema.

Isso eu considero super adequado para o primeiro volume de uma obra que quando lançada ainda estava em busca de se firmar, já que não é todo dia que lançam um “isekai maternal”, não é mesmo? Enfim, não poderia faltar uma party para agitar um pouco as coisas, não é?

Sim, ela é toda formada por garotas que, convenientemente, se separaram de suas mães após chegar ao jogo por diferentes motivos – ao menos um deles é aprofundado no volume. Wise e Porta ajudam a fazer com que a dinâmica da relação entre mãe e filho não se desgaste.

E, apesar de Porta aparecer menos que Wise e ter uma personalidade menos interessante, elas são boas personagens que não existem só para diversificar no fanservice – sim, tem um tantinho disso – ou preencher umas linhas.

Não à toa a conturbada relação de Wise com sua mãe trabalha o contraste em comparação a de Masato e Mamako e é isso que compensa quaisquer outros defeitos que a obra tenha.

Ela é divertida, e não faz mal-uso da relação de mãe e filho – em alguns momentos o incesto é insinuado, mas só pela comedia mesmo – e também não se prende a construções baratas, mostrando os revezes que ela possui e não só isso, mas também o lado da mãe – de duas mães que são quase o completo oposto, mas amam os seus filhos.

O legal é que não é porque Mamako aceita as coisas boas e ruins que vêm da relação que ela tem com o filho que toda mãe vai lidar com isso da mesma forma.

A seu modo, foi a maneira que o autor encontrou para mostrar que há diversos tipos de relações entre uma mãe e um filho e que se os laços formados entre progenitora e cria não podem ser acertados apenas na base da conversa, por que não usar o background e as conveniências da aventura para permitir isso?

É aí que entra Wise, já que a mãe dela é o problema a ser contornado no clímax do livro e um difícil e problemático de lidar, é verdade, mas nada que fosse maior que a ligação entre mãe e filho, como também a ligação que foi construída entre os membros da party, que não deixaram de ajudar uma companheira que precisava de ajuda.

Aliás, outra relação bem construída ao longo da obra foi a amizade entre Masato e Wise. Se tem uma coisa que fica subentendida é que pode surgir um interesse amoroso ali. Eles entendem um ao outro em certos tipos de situações – principalmente as que envolvem a utilidade deles na party – e começam a desenvolver uma espécie de camaradagem saudável.

Uma relação mais interessante se a compararmos com a de Masato, ou até a dos outros membros, com Porta, que não luta, mas ajuda muito o grupo.

Ela segue mais o estereótipo da personagem a ser protegida e que age como suporte, além do background que envolve sua mãe não ter sido explorado, mas isso é algo que deve rolar em um volume futuro, já que a light novel ainda está em lançamento no Japão – e também nos EUA – e o seu anime já está previsto para estrear na Temporada de Verão que se inicia em julho.

Fique atendo, pois, as primeiras impressões da segunda adaptação da obra – já tem mangá – com certeza figurarão por aqui.

Por fim, não poderia deixar de comentar que sim, a narrativa tem vários detalhes cômicos e absurdos que tiram o pé do leitor da realidade e isso é bom, pois faz que ele não espere muito, o que é recompensado com situações exageradas, mas bem trabalhadas no que tece a construção do que é mais importante: os personagens.

Não preciso comentar tanto o desenvolvimento da mãe, Mamako, pois desde o princípio ela parece estar disposta a dar amor e a receber na mesma medida, tendo sim a paciência e benevolência comuns as mães mais dedicadas a seus filhos.

Aquele que precisa crescer e mudar a forma como se relaciona com o outro, esse a mãe, é Masato, que não é incompreensivo e apenas isso. Ele reconhece o que a mãe faz por ele, mas tem dificuldade de se expressar, não sabe a hora de aliviar uma bronca ou demonstrar mais tato ao lidar com a mãe.

Isso é algo que eu espero de um adolescente, talvez até melhor, porque com o passar das experiências ele vai percebendo onde é que errou e busca consertar isso para não só não magoar aquela que o deu a vida, como também ter uma relação mais construtiva com ela.

Sim, há muitos momentos em que ele é egoísta e perde noção do que está em seu entorno, mas ele se recupera disso, passando a conviver melhor com Mamako.

É visível o amadurecimento dele e da relação dos dois. Não precisa de melosidade de sua parte nem de palavras bonitas a toda hora, Masato vai se acertando com a mãe e com os próprios sentimentos.

Se houver uma resposta para a perguntar feita lá na primeira página de história do livro, é de que sim, a aventura contribuiu para aproximar mãe e filho, melhorar a relação dos dois, deixando ambos mais à vontade – sem medo de falhar e sem vergonha de admitir e pedir desculpas – um com o outro.

Você ama sua mãe? Ela tem um ataque duplo com força total cumpre bem seu objetivo e é um isekai que eu indicaria para quase qualquer pessoa, se você não ficar horrorizado com pequenas insinuações ao incesto indico sim, seja ela um(a) filho(a) ou até mesmo uma mãe. Por que não?

Enfim, a light novel é divertida, é bem escrita – diria que poderia ter mais quebras entre as situações, mas apenas detalhes de forma como esse não estragam a leitura – e me deixa animado para o anime.

Espero que não seja uma adaptação que esconda as qualidades e realce as características questionáveis da história, pois é novidade um isekai de uma mãe se aventurando com o filho, né?

Então, que façam jus ao amor mais natural, belo, e nem por isso menos controverso e complexo, que há: o amor de uma mãe pelo filho!

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