Shakugan no Shana me surpreendeu positivamente em seu primeiro volume, não à toa mal esperei ter o segundo em mãos e já parti para ler, o que me levou a trazer este artigo dele o quanto antes. Okay, a light novel saiu faz um tempinho em comparação ao artigo, é que eu moro no Nordeste e as light novels demoram um pouco a chegar onde eu compro. Sem mais demora, é hora de Shana no Anime21!

Seguindo a tônica do volume de estreia Shana volta com um arco fechado que faz um recorte do cotidiano um tanto quanto anormal do personagem principal Yuji e da protagonista Shana. Todo o livro se passa em pouco mais de dois dias e explora uma situação interessante após o clímax retratado no arco de apresentação, o distanciamento entre o garoto e sua guardiã.

Além disso, novos personagens são apresentados e alguns secundários aparecem mais. Assim a dinâmica se altera um pouco, não é mais uma luta direta entre um Habitante e Flame Haze, algo bem-vindo para não tornar a leitura repetitiva.

Infelizmente, não posso escrever o mesmo sobre certos termos que são repetidos a esmo ao longo das páginas. Isso me fez ter a impressão que Shana saia em alguma revista de light novels e depois tinha seus capítulos compilados em volumes.

É isso ou o autor e editor acham que todo leitor tem uma memória terrível? Prefiro acreditar no primeiro caso. De toda forma, custava alterar esses trechos para a versão final em livro? Aliás, a editora brasileira não poderia ter tomado essa liberdade?

Enfim, o livro todo é tão bom que esse é praticamente o único defeito digno de nota. Há problemas de revisão, é verdade, mas que obras da New Pop não tem, não é mesmo? Não compromete a leitura, então não influencia significativamente na experiência como um todo e ainda menos na narrativa, né.

Então, vamos a história?

Uma das coisas que é fácil de notar desde as primeiras páginas é como a Shana está envolvida pelo Yuji e sequer luta contra isso como fazia antes, apenas aceita e segue em frente, aproveitando o que essa relação incomum para ela tem a oferecer.

É exatamente por isso que a aparente apatia do garoto incomoda tanto. Eu ficava pensando algo como, “Agora que ela se abriu para ele, o que ele faz, despreza ela?”, mas não é algo assim tão simples.

Com o passar dos capítulos e o distanciamento até mesmo literal é que o leitor pode entender o que leva Yuji a agir com tanta insegurança perante a garota da qual ele gosta tanto, e logo quando esta passa a se sentir mais a vontade ao lado dele.

Valer-se desse tipo de desenrolar é bacana, porque reforça a profundidade e complexidade do relacionamento dos dois e é o tipo de situação que só faz sentido devido ao background de cada um deles.

Não é um problema forçado apenas para gerar um conflito que movimentasse o arco, o livro, é um conflito que faz sentido em existir e que até pode ser resolvido de maneira rápida, mas respeitando um desenvolvimento adequado.

Afinal, eles brigam, se afastam e só então é que percebem o quão ruim é essa situação. Há um motivo por trás da percepção do Yuji e este foi possibilitado por nada menos que a derrota que Shana sofre nas mãos da “Locutora de Elegias” Margery Daw e o “Garra e Pressa Lacerantes” Marchosias.

Dois novos personagens divertidos e interessantes que são bem apresentados e aproveitados no volume, e de quebra possibilitam um melhor uso de dois coadjuvantes, o Eita Tanaka e o Keisaku Sato. Admito que mal lembrava deles do primeiro livro, mas nesse segundo eles são “personagens” de fato.

A forma como Margery usa seus poderes de Flame Haze difere da de Shana, o que acaba por expandir um pouquinho que seja o universo da série, e o aparecimento de um novo Habitante, o “Cata-Cadáveres” Lamies, expõe que nem tudo é tão simples no meio dos Flame Hazes.

Inclusive, a maneira como cada um encara o que faz difere e isso pode levar ao atrito, não havendo lei ou orientação que proíba o choque entre forças em teoria aliadas. Tudo depende do bom senso do Flame Haze e de seu soberano. Shana e Alastor até podem tê-lo, mas tem mais o costume de não fugir de uma boa briga.

Margery e Marchosias são ainda piores, tem uma interpretação própria para o ofício dos “justiceiros das chamas” e este está ligado ao desejo de vingança da humana. Ela se deixar guiar por isso eu entendo, o Soberano ir na onda já acho engraçado, mas também é algo bom para deixar claro que nem todo Soberano é sensato como Alastor.

Aliás, isso corrobora com um ponto de vista exposto ao longo da narrativa, de que sejam seres da Realidade Escarlate ou seres do mundo humano, todos são iguais. Foi por pensar diferente que Yuji acabou se distanciado da Shana e eu acho que essa foi uma forma consistente de amarrar o enredo.

Tudo se encaixou muito bem, o aparecimento dos novos personagens, o conflito interno do Yuji e a consequência que este tem na Shana. O autor soube alocar bem esses elementos e usou o elenco da melhor forma possível, sem esquecer de ir preparando o terreno para a continuação da obra.

E por que escrevo isso? Você tem alguma dúvida de que os sentimentos da Yoshida podem render algo de interessante, nem que seja apenas para fortalecer o laço entre a Shana e o Yuji? Além de que, os amigos do Yuji, principalmente o Tanaka e o Sato, passam a ter mais relevância.

A história triste da Margery pode ter um destino diferente com o envolvimento dos colegiais? Não duvido disso e acho que seria a melhor forma de aproveitar esses personagens, já que o cenário do colégio em si, de onde quase todos se conhecem, não desempenha papel relevante na trama.

Quanto a estrutura, em comparação ao primeiro volume o segundo é mais ramificado, tem mais subdivisões dentro dos capítulos e até mais capítulos, o que ao meu ver permitiu que a história fluísse melhor.

Com mais quebras a alternância entre cenários e personagens pareceu mais natural e isso até explorou bem os efeitos que algumas ações causavam em outras. Para um livro que se passa em um espaço de tempo tão curto o dinamismo na ocorrência dos fatos precisava ser um ponto forte, né.

Tirando os termos repetitivos todo santo capítulo a leitura é muito confortável. Consistente também, seja no que se refere aos personagens ou as situações que eles vivem. Não é uma escrita preguiçosa.

Lamies, por exemplo, em nenhum momento ganha ares reais de vilão, essa carapuça acaba sendo vestida pela Margery e o Marchosias. Algo difícil de imaginar seguindo o estabelecido no primeiro volume, mas que faz todo o sentido dada a construção desse segundo.

E não só isso, também dá margem para que o personagem Lamies reapareça e cumpra seu objetivo. É só mais uma de muitas deixas para a construção desse universo. Esses primeiros livros são como experimentar alguns poucos doces antes de se ter à disposição um buffet mais diversificado.

Eu sei, essa analogia já não foi tão doce. Em todo caso, também foi bom ver a protagonista perdendo, mostrou que ela não é tão imbatível quanto aparenta e que seu emocional influencia muito em sua confiança para lutar e vencer. E ter essa confiança passa pelo Yuji!

O futuro ainda consta como incerto até o final do livro, mas uma coisa é certa, não foi só a vida do Yuji que mudou, mas a vida da Shana também não poderá voltar a ser a mesma depois do encontro “predestinado” entre os dois.

Por fim, Margery é um show à parte, uma mulher cheia de encantos e defeitos que pode até ser guiada pela vingança, mas não é uma personagem tão unidimensional para ter só ela em seu currículo. Além disso, como não se interessar pelas chamas prateadas? Sinto que isso terá certa importância à frente.

Nem vou reclamar da conveniência que foi um dos garotos ter uma mansão praticamente vazia e cheia de bebida para ela se esbaldar, ponho na conta do “predestinado”, diria até que a história me permite esse capricho. Quanto ao Yuji e a Shana, o processo de reconciliação entre eles é muito fofo, muito agradável e bem escrito; muito bacana, assim como a resolução do garoto em se tornar mais forte.

A Shana exigir isso dele acredito que venha de uma vontade inconsciente dela, de seu forte desejo que ele fique bem em qualquer que seja a situação. Que ele consiga se defender, sobreviver, mesmo quando ela não estiver por perto.

Fica difícil não torcer por um casal que não precisa de beijos e abraços para ser tão fofo, para deixar transparecer um sentimento tão bonito e intenso, não é mesmo? Fico feliz porque há tempo de sobra, 20 volumes e extras, para que esse relacionamento cresça como as chamas da protagonista.

Acompanharei Shakugan no Shana até onde o lançamento me permitir, espero que seja até o final, para ser constantemente agraciado com esses personagens cativantes e esse jeito simples, mas eficiente e divertido, de contar uma história que o Yashichiro Takahashi tem.

Pode ficar ruim em algum momento, é verdade, mas isso pouco importa agora, o que importa é que o segundo livro da série não faz feio ao primeiro e eu diria que se não o supera em qualidade, ao menos o iguala, tornando-o uma leitura obrigatória para aqueles que leram o volume que deu origem a tudo.

Se você ainda está aqui creio que seja este o seu caso. Acompanhará a minha pessoa, espero que eu não seja uma Tocha e suma no meio do processo, no terceiro volume e nos posteriores? Se sim, conto com você!

Até a próxima!

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