Miyamoto Sakura é fofa. Sabe por quê? Ela é fofa. O modo como a expressão dela muda constantemente é fofo. O modo como ela se anima tão facilmente é fofo. Ainda se lembrar da promessa que fizemos quando éramos pequenos é fofo. Seus sei** são surpreendentemente grandes.

…Veja, contando com tudo isso, como ela poderia não ser fofa? E assim esse romance existe para admirá-la. O romance mais puro do mundo… ou era isso o que eu esperava ler, mas não foi bem assim.

Porém, mesmo não entregando exatamente o que promete, e tendo uma penca de outros problemas, por que indicaria a leitura da light novel escrita por Daisuke Suzuki e magistralmente ilustrada por rurudo? Apenas uma história sobre Miyamoto Sakura sendo fofa, tradução livre do título, é um caso bem peculiar de obra que só existe devido a um fator, o moe, e ainda assim o usa de um jeito estranho.

Omiti o resto da sinopse do lead do artigo propositalmente. Por que fiz isso? Porque sem ele você pode esperar apenas uma comédia romântica com uma sinopse meio vazia, na verdade, ruim mesmo, mas a partir do momento em que é informado ao leitor que Oogami Hikaru é a reencarnação do Deus Odin a coisa muda de figura, se torna um romcom com o elemento fantasia e perde completamente o foco.

Não que se pudesse esperar muito de uma sinopse que apenas exalta a fofura da heroína da história, mas se é esse o prometido, por que não é entregue? E na realidade até é, mas por que perde espaço para a mitologia nórdica usada sem qualquer cuidado pelo autor? Porque no final não há foco algum!

E por que ainda assim é uma leitura “indicável”? Comtemple o resto do artigo. As ilustrações são bem desenhadas, não são? Mas claro que não se lê um livro por causa das imagens, então, que tal pelo que se deve ler qualquer livro, pelo conteúdo das páginas? Posso indicar essa light novel por isso? É… não.

E ainda assim vale a pena lê-la? De certa forma sim e eu vou chegar lá, mas antes preciso explicar o fator que puxa a história toda para baixo, ao mesmo tempo em que a preenche, a presença das Nornas.

Mirai encarna o estereótipo da imouto, irmã mais nova, Ima veste a carapuça de uma ojou, senhorita refinada, e Kako agracia o leitor com a personificação de uma onee-san, irmã mais velha, bem safada.

Agracia é um termo relativo, eu sei, mas se você lê uma light novel dessas não deve se incomodar com esses estereótipos tão manjados no meio, né? Nem vou explicar a mitologia por trás das três, os nomes delas; Mirai “Futuro”, Ima “Presente”, Kako “Passado”; meio que já explicam suas funções como as entidades responsáveis pelo tempo na mitologia nórdica.

Mas sabe o que é mais legal? Elas convergem em um estereótipo ainda mais fetichista que os outros, uma gyaru de pele morena. A famosa dark skin. Pode ficar pior; talvez melhor para alguns, eu sei; que isso? Pode, pois a escrita de Daisuke é tudo menos boa.

Ele transita entre o clichê e a quebra do clichê de uma forma tão limitada que fica claro que sua tentativa de disfarçar sua mediocridade falha miseravelmente e o que sobra é um livro que apresenta personagens sem personalidades interessantes, que parecem artificiais demais, e apenas existem para chafurdar no que há de mais pobre no meio otaku, ao menos no que se refere a conteúdo.

Mirai, Ima e Kako acabam roubando a cena e parecem bem mais protagonistas que Sakura, cuja fofura é real, dá para ver pelas imagens e ler pelas situações clichês nas quais ela é posta, mas é insuficiente para carregar o piano. Então o que o autor resolve fazer? Jogar as quatro e Hikaru em situações típicas de comédias românticas ecchis. Até aí nenhum problema. Mas e se a história se resumir apenas a isso?

Há um capítulo já perto do final que tenta ser mais sério, bagunça um pouco os pontos de vista de Hikaru e Odin, mas é tudo uma piada. No final até citam Hunter X Hunter de uma forma estranhíssima.

O que isso quis dizer para mim? Que era apenas uma tentativa de fazer pose do autor, de mostrar que a novel tem uma profundidade que de fato não tem. É apenas um amontoado de clichês, personagens desinteressantes e uma escrita incrivelmente limitada.

Acho que o único momento em que fui pego de “surpresa” foi quando é falado que uma amiga da heroína é bissexual. O clichê que eu conheço é a amiga ser lésbica, ou sequer haver distinção. Mas tirando isso foi um show de mediocridade aberrante.

O ponto alto da novel acaba sendo as irmãs 3 em 1. Elas que movimentam o que pode, a duras penas, ser chamado de história, mas ao mesmo tempo massificam a experiência de leitura, pois as situações que elas provocam não vão além. É como se seguissem um manual de escrita tão básico que até as reviravoltas, as quebras, constantemente apresentadas perdem o sentido. Nada é muito interessante.

Aliás, nada é sequer um pouco interessante. Entretanto, se o que você procura não é uma boa escrita e nem personagens complexos e cativantes, mas apenas uma fofura congênita e vários clichês de comédia romântica, talvez, talvez essa série de light novels seja para você. Não sou inocente para achar que todo leitor busca uma “história”, às vezes a pessoa só quer desopilar e o livro talvez sirva para isso.

Lembrando que é uma série recente e ainda em andamento, então deve vir mais por aí, mas duvido muito que eu comente aqui no blog.

Ademais, o que posso tirar da minha leitura do livro? O uso da mitologia nórdica aplicada ao cotidiano de um protagonista de uma comédia romântica harém é patético, principalmente porque ele sequer se porta como o Deus que ele era para ser. Repito, são suas irmãs postiças quem fazem qualquer coisa acontecer ali.

A heroína é um amontoado de clichês, sua fofura não justifica nada, e a obra sequer se destaca pelo ecchi (não que eu quisesse ler sacanagem, mas se fosse mais pesadinho poderia ser uma boa novel erótica, né), as situações são sempre cortadas na melhor parte. No fim, o máximo que eu tirei de proveitoso da leitura foi o seguinte questionamento:

Apenas o “moe” é suficiente para se criar uma boa história ou se precisa de experiência de vida real?

A resposta que tenho a dar deve estar clara para você que chegou até aqui, mas afinal, o que significa uma boa história para você, caro(a) leitor(a)? Um amontoado de palavras que atenda seus desejos mundanos ou um amontoado de palavras que juntas fazem real sentido e indubitavelmente agregam algo de relevante para a sua vida?

Acho que, ainda assim, essa light novel tem algum valor, a importância do entretenimento jamais deve ser diminuída, mas seria leviano se eu afirmasse que achei ela boa. Ela funciona apenas se aproveitando das características mais chulas do meio no qual se insere.

E fica aqui a crítica, quão patética é essa indústria para celebrar a mediocridade apenas a fim de satisfazer os desejos do público? E pior, por que um dito escritor se presta a isso? Não será possível achar um meio termo para o fetichismo pessoal e a capacidade de querer dizer alguma coisa através de uma narrativa? Até onde essa apreciação a um modo de vida limitado vai levar quem consome isso?

Porque o otaku; me referindo estritamente a quem curta animes, mangás, jogos e light novels; padrão, não gosto muito dessa palavra, mas ela cabe aqui, vive em uma bolha e ter parte, talvez uma grande parte, de seus produtores de conteúdo chafurdando apenas dentro dessa bolha é preocupante.

O pior é que dá para ser um tarado fetichista e ainda assim escrever uma boa história, os autores de Re:Zero e Taimadou Gakuen, por exemplo, deixam claros seus gostos nos posfácios de seus livros, mas isso em nada atrapalha em suas capacidades de contar histórias. No máximo os tornam adaptados a esse meio.

Por que o autor dessa light novel, que inclusive já publicou outras obras, não consegue fazer o mesmo? Porque não quer, é óbvio, mas será que também não é porque ele não precisa?

Afinal, se Apenas uma história sobre Miyamoto Sakura sendo fofa teve um volume 2 é porque o 1 deu algum retorno, e se deu algum retorno é sinal de que o público leitor engole esse tipo de livro. Sei que é do direito de cada um e, repito, leitura também é entretenimento momentâneo, mas isso não muda o fato de que acho mal gosto.

Pior, tenho a plena certeza de que muitos sequer se importam se é uma história que faça algum sentido ou não e compram esse tipo de light novel apenas pelos fetiches que nela habitam. Vê como Miyamoto Sakura é ruim? Mal falei da novel em si e só consegui falar mal. Não tinha o que fazer.

Por fim, caso se dê ao trabalho de ler essa novel faça por sua conta e risco e reflita, será que entretenimento por entretenimento vale mesmo a pena, ou melhor, não será possível ter entretenimento com significado, com profundidade?

Acho a segunda opção zilhões de vezes mais atraente, afinal, o divertimento que essa novel me causou não se compara a outras novels bem escritas, quer elas tenham sua dose de fetiche ou não. Sem problemas, pois também gosto dessa parte.

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