Code Geass – ep 18 e 19 – Coletivismo japonês vs Individualismo ocidental
A Nina está tentando inventar a bomba atômica. Em que pese ser curioso que ela ainda não tenha sido inventada (na verdade parece que sequer técnicas de refino de urânio em escala suficiente para uma bomba foram inventadas), não é nenhum espanto que, caso uma dessas venha a surgir no anime, seja através do gênio de inimigos do Japão. A única ironia é que pelo menos parte do processo de desenvolvimento se dê em solo japonês ocupado.
Mas fugi do tema que eu próprio me propus e que observei nesses dois episódios. Coletivismo e individualismo. E sim, eu escrevi ocidental mesmo que no anime a oposição ao Japão venha de Britannia, mas é porque Britannia não existe e está lá apenas como um substituto para uma potência estrangeira ocidental genérica. A Inglaterra é apenas um dos bons candidatos para isso e foi a escolhida como molde. E não vá me dizer que não concorda que em maior ou menor grau a valorização da individualidade, da ação individual e do mérito individual não é disseminada por todo o ocidente?
Só não consegui descobrir ainda se Code Geass critica o Japão, o ocidente, ou se tentou propôr um caminho intermediário. O que você acha?
No Império de Britannia, Suzaku é criticado e rejeitado não pelo que defende ou representa, mas apenas pelo que ele é: um japonês. Ou melhor: um eleven. O preconceito é tal que lhe negam o direito a uma identidade. Suzaku não é senão um número que eles próprios designaram. E isso é adequado para um soldado, o caminho que ele decidiu seguir. Apenas obedecer ordens, apenas trabalhar cegamente em nome de algo ou alguém acima dele. Mas é também adequado para o pensamento coletivista, o seu original e que ele mantém mesmo tendo traído seu país e desertado para o inimigo. Apenas mais um de uma grande massa homogênea. E no entanto ele se destaca. É um piloto excepcional de um programa de desenvolvimento especial. E agora tornou-se o cavaleiro de Euphemia. Não é à toa que ele desperte tanta fúria em tantos britannianos. Eles valorizam o indivíduo sim, mas apenas os indivíduos que eles reconhecem como seus semelhantes em primeiro lugar – uma contradição em termos. Números estão necessariamente abaixo, não merecem qualquer distinção, reconhecimento ou destaque.
Lelouch (e também sua irmã Nunnally) um dia já foi destacado e notável como um dos príncipes de Britannia, até quedar-se vítima do jogo pelo poder que a exacerbada glorificação do indivíduo impõe a pessoas em sua posição – uma que ele sequer pediu para ter, por sinal, foi apenas o destino que quis que ele nascesse na linha sucessória do trono imperial. Para continuar vivendo, ele e a irmã escondem a identidade e se escondem em meio à massa. A massa de britannianos sim, claro, mas não qualquer uma: aquela dos britannianos vivendo no Japão, de todos os lugares. Passou os últimos anos vivendo como se fosse uma pessoa qualquer. Sem poder ostentar sua própria identidade, assim que a oportunidade surgiu ele construiu outra para si: Zero. É com ela que agora ele luta. Construiu um exército e desafiou a potência global hegemônica. Foi com essa identidade que ele se tornou um dos indivíduos mais caçados no Japão, o país pelo qual ele circunstancialmente lidera parte importante da luta contra a dominação estrangeira.
Os britannianos dão a Suzaku a ordem de morrer. Os japoneses se arriscam para tentar salvar Lelouch.
Como eu disse, não consegui discernir qual dos lados o anime defende, se é que ele defende algum deles nesse caso específico. Suponho que seja tão mais difícil para mim porque eu próprio tenho minhas opiniões fortes acerca desse assunto, sem mencionar as diferenças culturais brutais que existem entre mim e os produtores de Code Geass. Com os membros da Ordem dos Cavaleiros Negros discutindo por causa disso, entre outros detalhes desse par de episódios, creio que esse foi um tema caro ao anime e gostaria de ter compreendido de forma mais profunda, mas isso vai ter que dar pro gasto.
Outras coisas importantes: difícil saber o que foi mais importante. A introdução do Príncipe Schnaider, Schnauzer, Schwarzenegger, como é o nome dele mesmo? Pesquisando… Schneizel! A introdução do Príncipe Schneizel com certeza foi importante. Mas também foi importante o Suzaku ter descoberto que a Karen é da Ordem dos Cavaleiros Negros, a Euphemia ter descoberto que o Lelouch é o Zero, o Suzaku ter sido preso ao final do episódio (o que deixa o terreno livre para Lelouch interagir com a Euphemia – e você sabe que com isso eu quero dizer matar ou indiretamente causar a morte da Euphemia), e, no longo prazo, a revelação de que o Império está mesmo é atrás de ruínas ligadas ao Geass, que por sinal parece que eles chamam de “Elevador de Pensamentos”. Ah, e vai ter guerra em Kyushu também! Estou sinceramente ansioso.
luizfteodosio
Assisti esses dois episódios semana passada e, sei lá, achei um pouco forçada essa transição entre eles no que diz respeito a como eles foram parar naquela ilha, um pouco conveniente demais para a trama (embora Code Geass seja mesmo um anime lotado de conveniências, rs).
Fábio "Mexicano" Godoy
Ah, sem dúvida, e isso se refletiu nas notas que eu dei, hehe. Mas meio que já me acostumei com isso em Code Geass então não tenho comentado, exceto quando incomoda MUITO.
Obrigado pela visita e pelo comentário =)