Amanchu! Advance – ep 2 – A nova amiga de Pikari
No episódio 2 de Amanchu! Advance, Pikari continua contabizando os eventos especiais de verão, chegando ao 14º, o que, para ela, significa gerar o ambiente propício para produzir memórias. Teko percebe (na verdade, [re]confirma) o quanto sua amiga é apaixonante e por isso conquistará a atenção das pessoas. Porém, em meio às inesquecíveis aventuras que Hikari e Futaba vivem, surge uma nova personagem, a intensa menina Kokoro, que também tem uma grande afeição pela vida marítima, e que desperta o apreço de Pikari.
No início do episódio, Teko está em sua cidade natal para acompanhar um velório. Conversando com Pikari ao telefone, empolga-se com o convite para o Festival da Bússola, no qual ocorrerá um show de fogos de artifício na praia. A amiga pede a Futuba que escolha uma yukata (uma vestimenta de verão, usada em festivais e outros eventos tradicionais da estação), mas não revele nada sobre cor, estampa e textura da roupa, e que aguarde surpresas para melhorar a diversão. Teko tenta descobrir do que se trata, mas Pikari diz se tratar de um segredo. Para a menina que vivia em Tóquio, segredos resultavam na elevação da sua ansiedade, como se algo ruim estivesse à espreita. Com Pikari, Teko se sente empolgada, confortável e o controle de sua expectativa a respeito do que seja o segredo mostra seu grau de confiança na amiga.
Já Pikari, conhece uma menina bronzeada, a qual não havia ainda visto na região. Pikari a segue até o oceano e juntas descobrem o ninho de um polvo fêmea, no qual o molusco protege seus ovos (geralmente, cerca de 150 mil). Kokoro fica fascinada com o achado (chegando próxima ao esconderijo, por sorte o polvo não libera sua tinta escura, que atordoa suas presas e perseguidores). A princípio, a menina se nega a dizer seu nome para Pikari. Como a tradução de kokoro é coração, a jovem tem vergonha de revelar sua designação de batismo. É um belo nome, mas não deve ser fácil lidar com as brincadeiras que devem estar associadas à escolha. Pikari só saberá mais tarde o nome da garota, quando recorre a um estratagema: dizer onde o ninho está, já que Kokoro não o consegue localizar devido à maré alta, em troca da informação de seu prenome. Entre elas, nasce um vínculo. Afinal, Pikari é muito acessível, e encanta e se deixa encantar com muita facilidade.
Kokoro é uma menina com comportamento masculino – em um sentido viril. Acredita que proteger é coisa de grandes homens (assim ela se refere ao senso de proteção da mãe polvo) e admira os marujos. O seu jeito tomboy pode estar ligado a uma possível identificação com os homens, ou apenas Kokoro não goste de atitudes e coisas que são culturalmente atribuídas às mulheres. De certo, somente a adoção da menina por Pikari. Os episódios por vir revelarão o quanto Kokoro fará parte da vida de Hikari e como ela se relacionará com Futaba.
De volta ao litoral, Teko encontra Pikari e o grupo do clube de mergulho para acompanhar o Festival da Bússola. Apesar de apenas Teko e ela estarem usando yukatas (festivais e yukatas são presenças infalíveis em slices of life – na verdade, em animes em geral), tudo sai como planejado na “Operação para deixar o show de fogos mais legal” elaborada por Pikari. Principalmente, sua arma absoluta, que são os locais vip, na primeira fila, para que todos vejam a queima de fogos em uma posição privilegiada. Essa passagem traz uma memória da infância de Mato-sensei. Um dia em que ela se perde dos pais e uma estranha a coloca sobre os ombros, fazendo com que a pequena Mato seja cercada pelo brilho dos fogos. Ela se deslumbra com as cores. No que concerne à cena, algo importante é notar como a memória pode muitas vezes no trair, já que para Mato tudo não passava de um sonho. Em uma série em que viver o presente significa produzir lembranças para aquecer o coração no futuro, o quase apagamento (ou melhor, indistinção) de uma recordação, faz-nos pensar o quanto a memória de um evento passado está sujeita às novas experiências e o que dela se preserva a partir dessas informações.
Ainda na cena dos fogos, Ain-chan define a vivência que acompanha o grupo desde a retomada do clube do mergulho: ver os fogos de artifício tão próximos deles é uma memória para uma vida inteira. Todos agradecem a Pikari pela noite inesquecível.
No festival, Teko toma conhecimento da existência de Kokoro, já que Pikari, por ter esquecido de convidá-la, observa o local na esperança de vê-la. A reação inicial de Futuba deixa transparecer sua inquietação por Pikari encontrar uma garota em sua ausência e estar, naquele instante, desejosa de achá-la na multidão. Porém, diante de uma Hikari que organiza com todo carinho e dedicação uma surpresa para alegrar os amigos, Teko reconhece o quanto a jovem é admirável e tem facilidade/habilidade em criar vínculos afetivos sólidos. Como não amar Pikari? Mas será que Teko ao presenciar a interação entre Kokoro e Pikari continuará a racionalizar a situação – sabendo o quanto é amigável e encantadora sua buddy no mergulho – ou se mostrará insegura, voltando a se fechar em sua solidão, ou talvez possessiva? Há a possibilidade de Amanchu! Advance não explorar o fato, nem que Kokoro seja uma personagem com tempo de tela suficiente para que tais curtos-circuitos venham a ocorrer. No entanto, essas emoções ainda fazem parte de Teko, que batalha para se tornar mais independente e ser capaz de retribuir toda a compreensão e diversão que Pikari proporciona a ela.
Por fim, o episódio traz o reencontro de Pikari com Kokoro. A menina não consegue encontrar a mãe polvo, o que a deixa angustiada. Uma dor real de perda e incapacidade de proteção. Ao ver o sofrimento de Kokoro, Pikari explica que o polvo fêmea acaba por morrer, já que renuncia qualquer alimento por meses (de 1 a 3 meses) para garantir que os ovos não sejam devorados por predadores antes da eclosão. O polvo tem um único período reprodutivo e o autossacrifício é uma forma de manter a continuidade da espécie. A natureza é frágil e cruel. Assim, é a vida no oceano. Um aprendizado para Kokoro, mas uma memória para Pikari.
Mas como o universo pode conspirar a favor também, as garotas partilham um momento para jamais se esquecer: assistem ao nascimento dos filhotes do polvo, pequenos seres que irão resistir sem a mãe, já que são capazes de capturar pequenas presas, devido ao longo tempo de incubação.
Três pontos a ressaltar: o humor (sem cerimônia em colocar um curativo na face da mãe polvo para mostrar suas feridas do combate com uma enguia), a beleza da queima de fogos e as expectativas a respeito da relação entre a jovem espontânea e a garota que luta contra a inibição com os novos personagens que estão a surgir. Isso significa diversão infinita… e pequenas crises. Mas, claro, sem perder a ternura.