“Todas nós temos pelo menos 20 anos”. Nos primeiros segundos da série, a informação já alerta para a proibição do consumo (e venda) de bebidas alcoólicas por menores de idade. Takunomi, em seus 12 capítulos, de aproximadamente 12 minutos, traz como protagonista a jovem Michiru Amatsuki, que se muda para Tóquio para trabalhar como vendedora em uma empresa de capital de risco. Na capital, Michiru mora em uma pensão exclusivamente feminina, chamada de Stella House Haruno – com mais três mulheres independentes. E o álcool, no mundo dessas mulheres, surge como fuga e ritual. Fuga do estresse diário e do gosto das desilusões. Ritual de socialização e de consolidação de amizade (Bom, o anime não trata de alcoolismo, o foco é outro, e isso precisa ser entendido para que a ideia seja comprada e o embarque na embriaguez delas seja minimamente aprazível).

Dirigido por Tomoki Kobayashi (de Akame ga Kill! [2014]) e com roteiro de Katsuhiko Takayama (de Mirai Nikki [2011]), adaptando o mangá de Haruto Hino, o anime divide-se na exibição de bebidas (desfilando as marcas na tela) – de cervejas a saquê, passando por café com rum a vinho – e comidas perfeitas para aumentar o prazer etílico e a vida diária das personagens principais, que conversam sobre suas aspirações, temores e trabalho (com alguns episódios sendo dedicados a acompanhar Michiru na empresa).

E há um equilíbrio entre o consumo de álcool/culinária e o cotidiano das mulheres nesse slice of life. Além disso, um bem-vindo humor na maneira como trata os seus desejos para o futuro e suas inseguranças. Como são independentes financeiramente, é interessante notar como a série apresenta a força que carregam para resistir às dificuldades  de se viver em um centro urbano – tantos às corriqueiras quanto às extraordinárias – e suas fragilidades, por meio de um humor que evita estereótipos, mesmo que seja genérico em algumas passagens, e exibe carinho pelas suas personagens – que são divertidas e conseguem apelar para o emocional sem soarem ridículas.

Michiru e Nao: “Kampai!”.

Quando compartilham o conhecimento que possuem a respeito de alguma bebida, o roteiro abre espaço para que traços da personalidade dessas quatro mulheres possam ser expostos. Assim, por mais que falte aprofundar os aspectos que são vislumbrados, é fácil reconhecer que muitos deles fazem parte da vida da mulher na contemporaneidade. Emprego, satisfação/insatisfação no trabalho, pouco tempo para a vida pessoal, dúvidas sobre o que vem pela frente pós-saída da adolescência, dificuldade em encontrar e/ou manter um relacionamento, são alguns dos assuntos que surgem entre um gole de cerveja e a degustação de um peixe assado.

Vale destacar cada uma das moradoras da Stella House Haruno. Kae Midorikawa é uma organizadora de casamentos. Tem 27 anos, é a mais velha da casa, e traz algumas desilusões, principalmente por lidar com jovens casais, sendo que há tempos não está em uma relação amorosa. Merece a atenção como a beleza madura de Kae é realçada (tem um pouco de fanservice, mas não incomoda, pois serve ao propósito mencionado), mesmo que a própria se sinta um tanto abalada com a aproximação dos 30 anos.  Nao Kiriyama é um ano mais nova que Kae e trabalha (a exaustão) em uma loja de roupa. Nao adora beber, é a que mais tem prazer nessa prática. Aprecia compartilhar bebida e comida, ainda que ingira álcool sem drama quando não tem companhia. A sua irmã mais nova, Makoto, de 21 anos, já é mais séria, repleta de dúvidas sobre o trabalho a realizar em seu futuro. Entre essas mulheres, ela é a menos afeita à alegria ou escapismo das iguarias etílicas apresentadas pelas amigas.  E, por último, Michiru, que vem do interior para a metrópole com a ideia de ser bem-sucedida e se tornar uma mulher cosmopolita. O seu processo de adaptação, no que diz respeito às etiquetas, desempenho no trabalho e cobrança sobre o corpo e independência financeira, certamente atravessa a vida de jovens mulheres em uma contemporaneidade de culto à beleza e consumo excessivo.

A emoção provocada pela combinação bebida-comida.

Mesmo com a limitação de 12 minutos por episódio – o que já, de antemão, consagra o subdesenvolvimento de características (as diferenças entre Nao e Makoto) e possibilidades (a forma como Michiru se encanta facilmente com a exuberância ou fofura das mulheres que conhece) que poderiam render algo a mais –, Takunomi consegue entregar personagens capazes de tornar a vida menos ordinária por 144 minutos (caso a opção seja maratonar).

Pode-se dizer que Takunomi, dos slices of life da temporada de inverno de 2018, ocupa uma posição intermediária no que tange aos animes que abusam do direito de exibir um excelente prato de comida para deslumbrar e abrir o apetite do espectador, está entre o sensacional Yuru Camp e o decepcionante Ramen Daisuki no Koizumi-san.

Com opening e ending agradáveis e um bom design de personagens, Takunomi, a partir de um conceito simples, revela-se uma divertida “fatia de vida” sobre beber e comer com prazer, fortalecendo laços de amizade, para se renovar para o dia de amanhã.

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